Nossa experiência de missão, tem como fonte a vivência dos primeiros discípulos de Jesus que, depois de sua morte e ressurreição, puseram-se a anunciar sua mensagem – o Cristo, crucificado e ressuscitado. Num contexto religioso plural e de culturas diferentes, a pessoa de Jesus, o Cristo, era a novidade. Em Jesus, Deus havia enviado ao mundo o próprio Filho para testemunhar o seu amor de maneira nova e inaudita. Esse Filho Amado é que morreu assumindo nossos pecados. Mas Ele não permaneceu na morte, ressuscitou. E foi o mistério da ressurreição que motivou seus discípulos a se espalharem pelo mundo afora anunciando a Boa-Nova. A morte e ressurreição de Jesus construíam a chave para uma nova compreensão da vida, para nova autoimagem e uma nova imagem de Deus.
E hoje? A morte e ressurreição de Jesus continuam sendo a chave de uma nova compreensão de vida e nova imagem de Deus?Como estamos anunciando Jesus Cristo na catequese? Qual a linguagem que estamos usando para descrever o mistério do Cristo? Que símbolos estão apresentando para ajudar na compreensão da fé? Enquanto catequistas pedagogos, educamos a fé por meio da religião, mas vale refletir sobre alguns outros aspectos: Conhecemos nossa religião? Apreendemos os significados de seus símbolos? Paulo Apóstolo vai nos dizer que o Justo viverá pela fé (Gl 3,11) e precisamos da religião para educar a fé, mas a fé é mais importante e deve criticar tanto a religião quanto a religiosidade. Isso porque, ao se colocar na prática a religiosidade não pode se esquecer de exercer o amor e a caridade. Assim também acontece com a religião, que não pode impedir a pratica do amor.
Para darmos conta da essência da fé necessitamos de um mergulho profundo na realidade concreta da religião. Ir até às origens, buscar a essência do mistério que fortalece a certeza da fé e que se expressa na fascinação por um caminho que promete tornar-se, nas pegadas de Jesus Cristo, um caminho de aperfeiçoamento do ser humano junto e através de Deus, um caminho que liberta, cura e se torna fonte de vida que jorra.
Para nós cristãos, o caminho que nos leva a Deus é Jesus Cristo. Em Jesus, Deus recebeu uma feição de pessoa, Sua imagem resplandece nele. Através de Jesus temos a revelação de quem é Deus. Jesus é o acesso permanente ao Pai. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). A experiência de Deus, para nós cristãos, está vinculada à pessoa de Jesus. Nele, a glória de Deus se revela visivelmente: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho Unigênito que está no seio do Pai, este o deu a conhecer” (Jo 1,18). O Deus da revelação não revela alguma coisa, mas revela-se a si mesmo como Pai em Jesus Cristo, como mediador e plenitude da revelação (como podemos ver no documento DV 4) e mediante o Espírito está presente na Igreja (cf. DV 8s). Nesse sentido, ao nos relacionarmos com Jesus como sendo a essência da nossa fé, temos Nele a revelação da imagem de Deus, e expressamos também algo sobre a imagem que nós fazemos do ser humano. Encontrar o Cristo no meio do mundo nos leva a enxergar o Cristo em cada irmão.
Morte e ressurreição de Jesus – fonte de nossa fé
A morte de Jesus abalou a fé dos seus discípulos, mas a experiência de sua ressurreição fez com que voltassem a entender o mistério de Jesus como sendo o Cristo. Uma experiência avassaladora: fez que com eles saíssem para anunciá-lo ao mundo.
Na Páscoa de Cristo, vivemos o mistério da Ressurreição. E Cristo, a própria matéria se torna divina. Na sua ressurreição, o Espírito Santo se precipitou sobre seu corpo, ungindo-o com o fogo divino, penetrando sua carne sagrada até que ela foi totalmente transformada não apenas em Espírito, mas na própria natureza divina.
A afirmação da ressurreição de Jesus está no coração da confissão de fé cristã e do querígma da Igreja. Na origem histórica do Novo Testamento, ela faz a unidade de toda a Escritura lida na fé em Cristo (cf. Lc 24,27) e atualizada na liturgia. No conjunto, faz uma referência a um acontecimento da história de Jesus de Nazaré, adesão ao testemunho dos Apóstolos e percepção profunda da existência cristã. Significa que Jesus vive para além da morte, manifestando com isso sua divindade e abrindo aos homens o acesso à intimidade com Deus.
Os primeiros textos que narram o acontecimento da ressurreição de Cristo são confissões de fé ou afirmação da pregação missionária da Igreja primitiva. Na pregação de Paulo e em suas Epístolas o dogma da ressurreição ocupa um lugar importante. O credo mais antigo e apresentado por Paulo: Cristo morreu por nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou e, portanto, definitivamente vivo se faz ver a muitas testemunhas (1Cor 15, 1-11). No Livro de Atos temos a pregação apostólica que utiliza de diferentes temas para dizer o que aconteceu a Jesus de Nazaré: “A esse Jesus, Deus o ressuscitou…, exaltado pela direita de Deus, ele recebeu o Espírito Santo prometido e o derramou…; O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita…; Deus o constituiu Senhor e Cristo…” (At 2,22-36).
Na liturgia, o Círio Pascal simboliza o Cristo ressuscitado conduzindo seu povo até a terra prometida de transformação divina. A noite da Vigília Pascal, por causa do poder intrínseco do Mistério Pascal, vai além da celebração da ressurreição de Cristo. Ela desperta a experiência de Cristo ressuscitado no ser mais íntimo de cada pessoa, espalhando nelas o fogo do amor do Cristo ressuscitado. Participar desse mistério nos leva a perceber que o cerne do Mistério Pascal se encontra em nossa descoberta pessoal de intimidade com Deus.
Neuza Silveira de Souza- Coordenadora do Secretariado
Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.