Maria discípula
É no Evangelho de Lucas que vamos encontrar uma forte presença de Maria, Mãe de Jesus. Em Lc 1,26-38 temos a passagem do anúncio do nascimento de Jesus, dado pelo anjo Gabriel à Maria. Mesmo não compreendendo, ela diz o seu “sim” gerador do Filho de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. Ao ouvir a mensagem do anjo Gabriel em relação à encarnação do Filho de Deus, e tendo como sinal a gravidez de Isabel, sua prima, Maria vai visita-la (Lc 1,39-56). Ao chegar, é saudada por Isabel e algo revelador acontece. Com sua saudação Izabel diz: “bendita és tu que acreditou e bendita és o fruto do teu ventre!” Maria fica com sua prima por um tempo e se coloca em serviço-doação. No útero de Maria acontece o encontro entre Deus e a humanidade, pois Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Tal é esse mistério que suscita em nós uma maravilha infinita, nos diz o Papa Francisco: “Deus não é um senhor distante que habita solitário nos céus, mas o amor encarnado, nascido como nós duma mãe para ser irmão de cada um. Está no joelho de sua mãe, que é também nossa mãe, e de lá derrama uma nova ternura sobre a humanidade”.
O evangelista Lucas também nos fala sobre o caminho realizado por Maria, de sua cidade até Belém e as dificuldades encontradas para a realização do parto. Quando do seu nascimento (Lc 2,1-21), a ele foi dado o nome de Jesus como fora chamado pelo anjo (Lc 2,21). Maria sempre teve seu coração exultado de alegria e cantava: A minha alma glorifica ao Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador”. Ainda em 2,41-52 Lucas vai nos contar o episódio sobre Jesus no Templo. Relata a aflição de Maria por não encontrar seu filho com eles, quando regressavam para casa, depois de celebrar a Páscoa judaica, em Jerusalém.
No Evangelho de Jesus, segundo João, Maria tem presença significativa na comunidade cristã. Nas bodas de Caná, Maria conduz Jesus a iniciar sua vida de milagres. Sua intervenção se dá no sentido de Jesus realizar o sinal que leva à fé. Na pregação do Filho, acolheu a sua palavra, recebendo com os que acreditavam e acompanhavam Jesus a proclamação de bem-aventurada.
Em At 1,2s, Maria é presença intercessora na Igreja nascente e no testemunho das primeiras comunidades. O livro dos Atos dos Apóstolos (também escrito por Lucas) nos mostra Maria no meio da jovem Igreja: Todos, unânimes, eram assíduos na oração com algumas mulheres, entre as quais, Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele” (At 1,14).
Existe uma grande devoção a Maria, Mãe de Jesus. O povo, em todo o mundo, atribui a ela vários títulos carinhosos e a invoca como Nossa Senhora. Cria mil nomes para ela. Quem sabe alguns? Podemos lembrar de vários: (N S Aparecida, de Fátima, Das Graças, de Guadalupe, Maria Santíssima, Etc.), mas é a mesma pessoa: Maria, a Mãe de Jesus e nossa mãe.
Nela, o povo brasileiro encontra a figura de mãe e de intercessora. O documento de Aparecida (DAp 264) valoriza a piedade popular, “forma legítima de viver a fé e de pertença à Igreja. Maria é apresentada como discípula e missionária. ” Ela é a grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários” (DAp 269).
Dizia São Bernardo de Claraval, o grande doutor mariano: “A mãe do Senhor deve ser muito honrada, e tens razão. Entretanto, a honra da rainha exige discernimento. A virgem régia não precisa de uma falsa honra, pois está cumulada de verdadeiros títulos de glória e sinais de dignidade”. Em um de seus sermões sobre a oitava da Assunção ele descreveu em termos apaixonado a íntima participação de Maria no sacrifício redentor do seu Filho: “Ó Santa Mãe, verdadeiramente uma espada transpassou tua alma! (…) Até tal ponto a violência da dor transpassou tua alma, que com razão podemos te chamar mais que mártir, porque em ti a participação na paixão do Filho superou muito em intensidade os sofrimentos físicos do martírio” Sermão de Bento XVI, em 21/10/2009).
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.