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[Artigo] Jesus, sacramento primordial – padre Danilo César (Liturgista), pároco da Paróquia Santana

O Natal de Jesus faz pensar na economia sacramental da salvação. Por “economia sacramental” a Igreja entende o modo como Deus dispõe e administra a salvação, e o modo é sacramental. Deus dá a sua salvação sacramentalmente, isto é, ele salva de forma mediada pelos sinais (símbolos e ritos). Sobre isso afirma o Catecismo da Igreja Católica, 1076:

O dom do Espírito inaugura um tempo novo da “dispensação do mistério”: o tempo da Igreja, durante o qual Cristo manifesta, torna presente e comunica a sua obra de salvação pela liturgia da sua Igreja, “até que ele venha” (1Cor 11,26). Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age na sua Igreja e com ela de uma forma nova, própria deste tempo novo. Age pelos sacramentos; isto é que a Tradição comum do Oriente e do Ocidente chama de “economia sacramental”; que consiste na comunicação ou dispensação dos frutos do Mistério Pascal de Cristo na celebração da liturgia “sacramental” da Igreja.

Essa economia sacramental da salvação está fundamentada em dois princípios muito importantes: a própria natureza humana e a encarnação do Verbo. Tais princípios estão interligados e devem ser considerados na compreensão dos sacramentos.

O ser humano, criado por Deus à sua imagem e semelhança, é um ser simbólico-sacramental. Ele é histórico e corpóreo, dotado de sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar), pelos quais apreende e assimila as realidades à sua volta. Tudo o que vive e experimenta passa por essa “base sensorial” do corpo. Mas as realidades sensíveis não são experimentadas de modo instintivo, automático ou mecânico. O ser humano se relaciona com elas e por meio delas. Ele é capaz de admiração, encantamento, de ir além daquilo que vê. O mundo à sua volta lhe serve de linguagem, instrumento, sentido. Por isso, até mesmo as realidades espirituais alcançam o ser humano por meio do corpo e dos sentidos. A benção da água do Batismo diz que Deus se serve desta estrutura humana para nos comunicar a sua graça: “Ó Deus, pelos sinais sensíveis dos sacramentos realizais maravilhas invisíveis. Ao longo da história da salvação, vós vos servistes da água para fazer-nos conhecer a graça do Batismo”. Um antigo padre da Igreja, Tertuliano, disse em sua obra “Sobre a ressurreição dos mortos”, 8, escrito no ano de 211:

Vejamos também agora… como é grande diante de Deus a prerrogativa desta substância insignificante e vil que é a carne, embora a ela lhe baste o fato de nenhuma alma poder alcançar a salvação, salvo se acreditar enquanto está na carne: até tal extremo a carne é o instrumento da salvação. Quando entre a alma e Deus se estabelece um elo de salvação, é a carne que faz com que ele exista. Assim, a carne é lavada, para que a alma seja purificada; a carne é ungida, para que a alma seja consagrada; a carne é marcada com o sinal da cruz, para que a alma seja fortalecida; a carne é coberta com a sombra da imposição das mãos, para que a alma seja iluminada pelo Espírito; a carne é alimentada com o Corpo e o Sangue de Cristo, para que a própria alma seja saciada de Deus.

O segundo princípio é a própria encarnação do Verbo, celebrada no Natal. Deus assumiu a nossa condição humana e, na pessoa de Jesus, tornou-se acessível aos nossos sentidos (cf. Jo 1,1-4). Um dos prefácios do Natal reza que reconhecemos “Jesus como Deus visível a nossos olhos” e “aprendemos a amar nele a divindade que não vemos”. Jesus é o sacramento do Pai, pois nele se reúnem a natureza humana e a natureza divina. Ele é o Pontífice, isto é, faz ponte entre Deus e a humanidade, entre as realidades sensíveis e aquelas invisíveis. Contemplamos em Jesus a mesma estrutura que vemos nos sacramentos e na liturgia. É a partir dele mesmo que podemos compreendê-los como uma realidade palpável que nos remete à uma realidade invisível, o mistério pascal de Cristo.

 

Pe Danilo César 

Liturgista

Pároco da Paróquia Santana

 



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