Ao falar de sacramentos não se pode desviar o olhar da humanidade de Jesus, pois o seu entendimento refere-se à história da salvação, situando, desse modo, o significado da obra salvífica de Cristo em si mesma e em sua dimensão histórica.
Perguntamos: O que significa os sacramentos? Um sinal eficaz; sinal que torna presente a graça, a glória, a vida de Deus. A manifestação visível de algo invisível. Ele é o Sacramento do Pai: “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), ele é a presença real, eficaz, verdadeira do Pai entre nós: “Quem me vê, vê o Pai; eu estou no Pai e o Pai está em mim” (cf. Jo 14, 9,10).
Assim compreendemos Jesus como o Proto-sacramento – o primeiro e grande sacramento do amor de Deus-Trindade. O Cristo Jesus é o Sacramento de Deus: nele Deus fez-se presença pessoal no nosso meio. Assim, Cristo é o Sacramento primordial de Deus; ele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Quando Deus quis nos dizer que nos ama, mandou o Filho. No momento em que Maria disse ‘sim’ ao projeto de Deus, o Verbo pôde assumir a carne e tornar visível aos nossos olhos o amor infinito do Pai.
Jesus Cristo, por sua vida, sua obediência e seus gestos de bondade é o Sacramento do Pai por excelência. Ele encarnou e trouxe para dentro de nossa história o plano salvífico de Deus. Nas palavras de Jesus é o Pai quem nos fala, nos seus gestos é o Pai quem nos estende a mão, no seu carinho para com os pobres, os fracos, os pecadores, é o Pai quem manifesta a sua ternura… em toda a sua vida entre nós é o Pai quem nos reconcilia consigo.
Enquanto Jesus estava vivo, os apóstolos e todos os que o acompanhavam não precisavam de outros sacramentos, pois Ele era o Sacramento em Pessoa. Com os eventos da paixão morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos passam a compreender verdadeiramente quem era o Jesus que esteve com eles: O Cristo, Filho do Pai, o amor salvífico do Pai que veio até nós.
No momento em que a humanidade visível de Jesus se subtrai aos nossos olhos, nasce a Igreja com a efusão do Espírito Santo. Nesse sentido, a Igreja é o prolongamento da humanidade de Jesus. Se Jesus é o Proto, o primeiro Sacramento, a Igreja é a continuação desse Sacramento. Por isso a Igreja é visível, para dar continuidade à economia salvífica divina. A Igreja de Cristo, Sacramento, é representada por todos nós batizados que, segundo o Apóstolo Paulo, somos: Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito Santo.
Por isso é que dizemos: Jesus é o SACRAMENTO DO PAI. É o grande gesto-sinal de Deus: seu filho vem ao mundo para resumir com a sua vida o amor do Pai, e para levar o homem à perfeita união com Deus.
No caminhar com a Igreja, em busca do encontro real com Deus, temos como sustento a Eucaristia. Ela jamais será compreendida desvinculada do todo da vida de Jesus. Cada compromisso d’Ele com o próximo, especialmente com os pobres, marginalizados e pecadores, concretizou seu amor e sua missão, tudo encontrando sentido no desfecho de sua história: a morte na cruz (revelação máxima da glória, para São João), à qual a Eucaristia está intimamente vinculada.
Jesus, enfrentando a morte, confiando em Deus, acreditando na proximidade da chegada do Reino de Deus, se alegra. (ver principalmente Lc 22, 15-16: Desejei ardentemente celebrar esta páscoa com vocês…). Sua morte foi entendida pelos discípulos como renovação definitiva da aliança com Deus, como perdão dos pecados, como salvação. Este é o motivo de ação de graças, o motivo da ‘eucaristia’ nas primeiras comunidades.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.