Todos são chamados a viver a misericórdia de Deus. Ele está sempre a espera, nos chamando. E somente com a sua ajuda podemos fazer acontecer o seu reinado aqui na terra. O Papa Francisco está sempre a nos convidar a fazer a leitura bíblica e colocar na prática os ensinamentos de Jesus que representam a escola do bem viver no amor de Deus.
Jesus ensina a viver contribuindo para a visibilidade do Reino de Deus, um reino já apresentado por ele, mas que ainda se encontra escondido pela falta de nossas ações.
Como fazer acontecer o reinado de Deus, hoje?
O Reino de Deus carrega consigo um significado de mundo diferente, em muitos aspectos, do que vivemos hoje. Já nos dizia Isaias que, embora, em um momento de cólera, Deus tenha escondido seu rosto ao seu povo (Is 54,8), logo ele compadeceu do seu povo, levado por um amor eterno, um amor semelhante ao amor de um pai por seus filhos (vejam Dt 4,37; 10,15; Jr 31,3; Sf 3,17); um amor semelhante à paixão de um homem por uma mulher (vejam Os 2, 16-17.21-22; 3,1), ou seja, um amor verdadeiro expresso em sua gratuidade, fidelidade e poder criador.
Nas parábolas da misericórdia Jesus fez tocar e ver a misericórdia. Movido de compaixão pelo “outro”, “irmão”, ele chega, toca, conversa, cuida, cura, escuta. Fazendo essa experiência com Jesus, seus discípulos, cumprindo seu ordenamento, saem e vão fazer o mesmo. Nós encontramos esta experimentar no Evangelho de Lucas, chamado o “Evangelho da Misericórdia” que narra a vida de Jesus escolhendo a misericórdia como um fio condutor.
No Evangelho de Jesus segundo o evangelista Lucas, encontramos as oito parábolas que nos fazem experimentar o amor de Deus através dos seus ensinamentos. São elas: Lc 7, 41-43 que narra a parábola dos dois devedores; Lc 10,29-37 que nos apresenta o Bom Samaritano; as chamadas parábolas da Misericórdia que trazem as três narrativas: 15,1-37: a ovelha perdida, a moeda encontrada e o filho pródigo, também conhecido como o Pai misericordioso. Encontramos ainda, o tema da misericórdia, nas parábolas: o rico e o pobre Lázaro em Lc 16,19-31, o juiz injusto e a viúva insistente, em Lc 18, 2-14, e o fariseu e o publicano no Templo em Lc 18, 10-14.
Nesse tempo de pluralismo religioso, quando a compreensão da fé se torna ainda mais difícil, percebe-se a falta de sentido para a vida, pessoas se sentindo desinstaladas em seu próprio ambiente e não compreendendo o caminho a seguir. Há muitos sofrimentos, violências, desempregos. Tempo difícil, mas somos convocados, à luz do ressuscitado, acreditar no amor e misericórdia de Deus. Quando se abre o coração ao amor de Deus e se coloca na escuta de sua Palavra, assim como os discípulos de Jesus fizeram, tornamo-nos aptos a compreender que há uma fonte na qual podemos beber – Jesus Cristo – e assim chamados a enveredar em seu caminho e nele acolher a todos que encontrar, praticando a misericórdia, curando, ajudando o outro assim como Jesus fez. Vamos fazer florescer um tempo novo e viver o amor de Deus e a fraternidade humana.
Ao falar de misericórdia, fala-se também de amor. O amor que se apresenta como critério fundamental para afirmamos que estamos em comunhão com Deus. Amor e mandamentos de Deus vivem de mãos dadas, por estes nos levam a amar.
Ao apresentar os ensinamentos der Jesus, Lucas nos ajuda a percorrer um grande caminho de interioridade. Trata-se de um caminho de misericórdia que todos podem percorrer, basta que se tenha uma disposição interior que amadurece quando se mantém unido junto a Jesus. É um caminho oferecido e possibilitado a todos. Somos todos chamados a sermos misericordiosos, como é misericordioso o Pai que está no céu.
Jesus, ao narrar suas parábolas, ele a faz a partir da vida. Trata-se da sua vida real, espelhando sua relação com Deus e com os seus irmãos pecadores. Por isso, podemos trazer essas parábolas para a nossa vida; deixar nossas vidas se espelharem nas parábolas de Jesus e, assim, fazer a experiência do encontro com ele e com os irmãos.
Vamos deixar brotar do mais íntimo do nosso coração a “compaixão”. Deixar fluir do coração pensamentos que, iluminados pela luz de Cristo, sejam impulsionados para o outro, para com o próximo, o necessitado, colocando em prática a alteridade, ou seja, acolhendo o outro na sua miséria. Olhando para a vida de Jesus Cristo, façamos transparecer o reinado de Deus.
O reino significa o mundo diferente em muitos aspectos do que vivemos hoje:
- Um mundo em que os pobres, famintos, sem-terra, refugiados de guerra terão voz e vez ao invés de dor e sofrimento;
- Um mundo concebido por uma nova ordem: justiça para todos, liberdade, cuidado com o planeta e muita paz para todos os seres que nele habitam, desenvolvimento sustentável;
- Um mundo construído sobre valores tais como honestidade, verdade, justiça;
- Um mundo onde se pratica a misericórdia de Deus.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.