Evangelizar não é para quem quer que seja um ato individual e isolado, mas um ato profundamente eclesial. Nesse sentido quando estamos em missão estamos realizando uma atividade missionária com a Igreja e em nome dela. Fazemos em virtude de um mandato do Senhor que nos enviou para evangelizar, levar a Boa-nova a todos, sempre em comunhão com a Igreja e com seus Pastores.
E qual é a Boa-Nova que anunciamos?
Anunciamos o Reino de Deus. O Reino que nos foi apresentado por Jesus Cristo. É tarefa de evangelização missionária dar a conhecer Jesus Cristo e o seu Evangelho àqueles que não os conhecem. Partir de Pentecostes. A Igreja recebe o Espírito de Deus em Pentecostes e inspirada por Ele, assume todo o conteúdo evangélico por meio de uma atividade complexa e diversificada designada como uma “pré-evangelização” e que hoje denominamos como “querigma”. É o primeiro anúncio destinado aos que nunca ouviram falar de Jesus, mas também às crianças e, igualmente, para multidões de homens e mulheres, jovens e adolescentes que receberam o batismo, mas vivem fora de toda a vida cristã.
A centralidade do querigma requer certas características do anúncio que hoje são necessárias em toda a parte: Em primeiro lugar falar do amor salvífico de Deus; Um amor que leva à liberdade, respeitando os limites éticos da vida do outro; que seja pautado pela alegria, que ajuda o outro a acolher bem o anúncio na sua realidade. Que haja proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento.
A catequese retira a sua mensagem da Palavra de Deus, que é a sua fonte principal. A Sagrada Escritura, que Deus inspirou, chega ao mais profundo do espírito humano, mais que qualquer outra palavra, embora ela não se esgote na Sagrada Escritura, porque é uma realidade viva, em ação, eficaz (cf. Is 55,10a11; Heb 4,12a13).
A catequese, através do anúncio da Palavra, contribui para suscitar a fé e promover o encontro com Jesus Cristo, ele que é o Senhor da história, caminho único para o Pai. Ele é o Messias, o instaurador do Reino: um reino de amor, de justiça e de perdão; um Reino que acolhe, que inclui, que cuida, que preocupa com os mais necessitados.
Na Bíblia existem várias metáforas que fazem referências a Jesus. Hoje podemos nos apropriar de uma de suas metáforas para entender Jesus como “o Caminho”. Com ele, nele e por ele é que nós cristãos chegamos ao Pai. Vejamos:
1. No Antigo Testamento, a Torá é chamada “O CAMINHO”
A Torá, também chamada “A LEI”, é um livro de ensinamentos para os judeus, que indica o caminho para chegar à verdadeira felicidade, assim como Deus a quer para seus filhos. Na Bíblia, há salmos que cantam a beleza dessa lei de Deus (Sl 19 e 119). Vamos ler, agora, a segunda parte do Salmo 19,8-15 e apreciar sua beleza. (tempo para reflexão)
2. Jesus é a Torá viva
Jesus vivia a Torá, valorizava-a. Quando criticava certos legalismos, ele o fazia justamente para livrar a Torá de uma interpretação errônea. Jesus diz sobre si mesmo: ”EU SOU O CAMINHO” (Jo 14,6). Assim, a Torá continua em Jesus, em toda sua pureza. Jesus mostra o caminho para se viver conforme os mandamentos de Deus e ajuda a encontrar a felicidade. Vamos ler, agora, o capítulo 14, 1-11. (tempo para a leitura)
3. Os primeiros cristãos eram chamados membros do “Caminho”.
Era o nome que se dava aos membros do movimento de Jesus.
No livro Atos dos Apóstolos, Paulo relata sua conversão. No capítulo 22, 4, ele diz: “Persegui até à morte os adeptos deste caminho, prendendo homens e mulheres e lançando-os na prisão.” Ainda em Atos dos Apóstolos 24,22, lemos: “Felix estava bem-informado a respeito do Caminho…”.
4. Jesus é o Caminho que leva ao Pai
Jesus disse: “Eu sou o Caminho, e ninguém chega ao Pai senão por mim” (Jo, 14,6).
Vamos refletir um pouco mais sobre essas palavras.
Quando dizemos que Jesus é o Caminho, geralmente pensamos no seguimento de Jesus, andar no caminho junto com ele, ouvir seus ensinamentos e colocá-los em prática. Mas, no Evangelho de João, Jesus diz algo mais: “Eu sou o CAMINHO, e ninguém chega ao Pai senão por mim”. O que ele quer dizer com isto?
Jesus quer dizer: “Se vocês querem conhecer a Deus, nosso Pai, devem olhar para mim, escutar minhas palavras.”
Sabemos que Deus é invisível. Ninguém O viu, nem O ouviu. É por meio de Jesus que o Pai se dá a conhecer e nos fala. Dizemos que Deus se revelou em Jesus. Jesus é o porta voz do Pai, Ele é o rosto do Pai. Jesus nos conduz ao Pai. Podemos nos perguntar: Jesus nos leva, realmente, ao Pai, ou ficamos parados em Jesus? Mas, Jesus diz que Ele não é o ponto final. O ponto final é o Pai.
Quando lemos com atenção os evangelhos, vemos como Jesus está sempre voltado para o Pai. Ele O chama de “Abbá” (Papai). Ele procura a vontade do Pai em tudo e quer levar todos ao Pai, fazer descobrir o amor e a misericórdia do Pai, rezar ao Pai. Ensina a oração do Pai Nosso: “PAI nosso…”
Paremos um pouco e reflitamos. Encontramos o Pai que Jesus nos revelou? Ou temos uma imagem de Deus diferente da imagem que Jesus nos revelou? Em nossas orações, nos dirigimos também ao Pai?
A oração do Pai Nosso, ensinada por Jesus, se dirige plenamente a Deus Pai. Vamos rezar, devagar, esta oração prestando atenção nas palavras e na aclamação final.
“Pois, vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém! (3 vezes)”
Ao anunciarmos o querigma, constituímos uma nova forma de fazer pastoral. Diante da necessidade da missão, a Igreja interpela cada cristão a sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo. Celebrando hoje o dia de Cristo Rei somos chamados a nos comprometer com todos os que necessitam encontrar-se com Jesus e ajudá-los a percorrer o caminho. A direção é o Evangelho. Seja luz para o outro e assim seu caminho será iluminado.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.