O mês de outubro convoca-nos para uma reflexão maior sobre o que é ser missionário. Mas não se pode esquecer que missionariedade é compromisso de todos os dias de nossa vida.
Falar das missões, no mês de outubro, é trazer à memória dos cristãos a importância da oração e colaboração concreta para a realização da missão da Igreja no mundo. É considerado um mês missionário por causa do Dia Mundial das Missões, celebrado no terceiro domingo de outubro. Foi o Papa Pio XI que instituiu essa data como dia importante para realizar a coleta em favor da evangelização dos povos. É um despertar da consciência missionária de todos os batizados, para dar continuidade à missão a que Jesus foi enviada pelo Espírito Santo.
Jesus, ao se encarnar no mundo dos pobres, recebeu do Espírito Santo sua missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a Boa-Notícia aos pobres; enviou-me para anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor” Lc 4,18-19).
A Igreja de Jesus Cristo sempre foi e continua sendo chamada a ser missionária. Desde o início ela se colocou no seguimento de Jesus atendendo o seu pedido: “Ide a todas as nações e pregai o evangelho” (Mt 28,19). Ao colocar em prática a sua missionariedade, está propicia o encontro com o outro e realiza um resgate da beleza que existe dentro de cada um. Isto acontece por causa do anúncio da Pessoa de Jesus Cristo, gerador de relacionamentos que provocam vários tipos de sentimentos e possibilitam descobertas de valores e carismas.
A cada um de nós o Espírito Santo nos chama à responsabilidade para com o mundo, com a missão de salvá-lo. E salvá-lo de todas as formas de pecado: egoísmo, injustiça, opressão, discriminação, pobreza, riqueza. Em Jesus, os pobres continuam os destinatários da ação de Deus. Ação que é sempre uma re-ação aos clamores do povo e uma re-ação libertadora/salvífica.
Nesse sentido, testemunhar a vida de Jesus através do anúncio e da ação é ser testemunha do Reino de Deus.
Para falar de Jesus Cristo, primeiramente deve se preocupar com as exigências da realidade que hoje vivemos. Jesus Cristo é a Palavra encarnada. A Escritura é fonte e princípio da revelação de Deus, e a catequese tem a missão de fazer ressoar, na vida de todos aqueles que desejarem ouvir, a Palavra revelada. Na Bíblia e na vida está a mensagem de Jesus para nós.
Ao colocar a Palavra de Deus em nossa vida, também necessitamos estar atentos às exigências da revelação expressas na própria Bíblia e na fé da Igreja, pois a Bíblia contém a Palavra de Deus e, por isso mesmo, tem as exigências que não dependem de nós e que devem ser respeitadas, para que a Bíblia possa ser realmente Bíblia para nós. Atender às exigências da realidade do povo é se colocar na escuta da voz do povo e assim, descobrir o que Deus tem a nos dizer.
Ouvir, escutar e anunciar. Possibilitar aos outros a alegria de viver o Evangelho.
Todos são chamados a sair do comodismo e, na execução do trabalho missionário, contribuir para que aconteça atitudes cristãs, interação fé e vida, dar-se a conhecer Jesus Cristo, para que crianças, jovens e adultos vivam dele e com ele uma vida nova, uma vida de amor a Deus e aos outros. Como disse Santo Inácio de Antioquia, no século II: “Viver imitando os bons costumes de Deus”.
Nos evangelhos, por meio das narrativas, podemos nos encontrar com Jesus, o Cristo Ressuscitado. Iniciando com o Evangelho de Marcos, encontramos em Mc 8,27-30 uma pergunta de Jesus a seus discípulos: ‘Quem dizem as pessoas que eu sou?” E eles responderam: ” Uns dizem João Batista, outros, Elias; outros ainda, um dos profetas”. E Jesus perguntou a seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Cristo. Esta foi a consciência da comunidade dos discípulos depois da Páscoa.
Percorrendo o caminho dos evangelhos mais um pouco, vamos encontrar lá na comunidade Joanina (Jo 3,1-15) a proposta de Jesus. Aquela que ele faz a Nicodemos: nascer de novo. Mas como? O primeiro passo é abrir-se ao novo, deixar-se seduzir pelo Espírito que sopra onde quer, quando quer e como quer. Jesus Cristo é o centro da mensagem evangélica no conjunto da história da salvação. É por meio dele, em primeiro lugar, que Deus intervém no mundo e se manifesta a todos: crianças, jovens e adultos.
Cada um de nós também precisamos nos perguntar: Quem é Jesus para mim? Como devo anunciá-lo aos outros? Levar a mensagem de Jesus ao mundo, constitui tarefa dos cristãos.
Vamos nos preparar para celebrar bem, todos juntos, o Dia Mundial das Missões.
Para este ano, o Papa Francisco nos encaminha sua mensagem: «Sereis minhas testemunhas» (At 1, 8). Convida-nos a determos nas três expressões-chave que resumem os três alicerces da vida e da missão dos discípulos: «Sereis minhas testemunhas», «até aos confins do mundo» e «recebereis a força do Espírito Santo».
1. «Sereis minhas testemunhas» – A chamada de todos os cristãos a testemunhar Cristo. Diz: “Tal como Cristo é o primeiro enviado, ou seja, missionário do Pai (cf. Jo 20, 21) e, enquanto tal, a sua «Testemunha fiel» (Ap 1, 5), assim também todo o cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. E a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo, dando testemunho de Cristo”.
2. «Até aos confins do mundo» –“A atualidade perene duma missão de evangelização universal. A indicação «até aos confins do mundo» deverá interpelar os discípulos de Jesus de cada tempo, impelindo-os sempre a ir mais além dos lugares habituais para levar o testemunho d’Ele”.
3. «Recebereis a força do Espírito Santo» – “Deixar-se sempre fortalecer e guiar pelo Espírito. O mesmo Espírito, que guia a Igreja universal, inspira também homens e mulheres simples para missões extraordinárias”.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Bíblico-Catequético da Arquidiocese de Belo Horizonte.