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[Artigo] Celebrar o Advento – padre Márcio Pimentel e padre Danilo César, Secretariado Arquidiocesano de Liturgia de BH

Esperança tem a ver com o verbo esperar. E toda espera nos projeta para um futuro, para algo que nos vem, para algo que ainda não possuímos e nem alcançamos plenamente. Esperamos por alguém amado que está distante, esperamos por notícias melhores como a recuperação da saúde de alguém estimado, esperamos que o nosso time ganhe, esperamos ser sorteados no bilhete da rifa, esperamos encontrar um assento no ônibus – tantas vezes lotado – depois de um dia exaustivo de trabalho, esperamos a chuva para regar a terra e fazer germinar a plantação… Enfim, nossa vida é tecida de muitas esperas. O objeto de nossa espera está no futuro, o que faz de nós entes de desejo, como diriam os psicanalistas.

Em termos cristãos, a esperança de quem crê nasce de Deus como aquele que nos deseja e espera por primeiro. Ele é o Pai que espera o filho que saiu de casa com a herança, a mulher que varre os cantos da casa em busca da moeda perdida na esperança de encontrá-la, é o semeador que joga os grãos a esmo… Deus investe, dedica, empenha! Sua maior aposta foi a dádiva da vida de seu Filho, como nos ensina o apóstolo Paulo em Rm 8,32: “Deus que não poupou o próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como é com ele, não nos daria todas as coisas?” O investimento de Deus foi alto, sua oferta de amor foi muito grande. É daí que nasce a nossa esperança: na própria espera de Deus por cada um de nós, para que nos reunamos a Ele, desfrutando tudo no seu Filho. Por isso falamos, em esperança como virtude teologal, como virtude que vem de Deus mesmo, que Ele plantou através do Espírito de filiação oferecido em seu único Amado. A esperança não é apenas fruto do nosso esforço em persistir, apesar de tudo…

Esse dom, que nasce da nossa relação com Deus, amplia o nosso olhar para além do presente, com uma expectativa positiva de futuro: algo de bom acontecerá, uma boa nova virá. Além disso, a esperança que arquiteta a promessa nos faz contemplar o presente como um tempo aberto e ainda não pleno; um tempo “grávido”, prenhe de possibilidades e que não está fechado em si mesmo. A esperança, conectada à fé transforma o tempo em perspectiva de eternidade, libertando-nos das nossas angústias e urgências. Libertos da imediatez nos tornamos capazes da única mediação capaz de revelar Deus que vem do futuro ao presente: o amor. Uma mediação, por sua vez, que somente pode ser experimentada na linguagem simbólica dos nossos encontros intersubjetivos; na proximidade de um toque, na segurança de um abraço e na ternura de um beijo. A vida ganha rumo, o sofrimento recebe sentido, nossas penas são acalentadas.

A esperança nos transforma em seres com olhar transparente, transfigurado. Vemos o mundo e enxergamos “através” dele. Quem tem esperança reconhece qualidades onde só se vê defeitos; quem tem esperança admite e admira a beleza escondida; quem tem esperança não teme os dias ruins porque sabe que dias melhores virão. Ter esperança fortalece o espírito, ensina a respeitar os ritmos, educa a caminhar no tempo com paciência. A esperança é tão necessária para nós quanto o tempo para o cozimento do bolo que está no forno; quanto os meses – nove! – para que o fruto no ventre seja gerado com perfeição que se augura. De esperança vivem as mães e os pais que educam. De esperança vivem aqueles que acompanham os vitimados pelas drogas e violência. De esperança vivem os parentes de quem sofre nos hospitais. De esperança vive o povo da rua, os pobres que catam latinhas por um trocado ou se arriscam nos monturos a procura do que restou da comida de alguém. De esperança vivem os enfermos, implorando para que uma doença incurável não lhes ceife a dignidade e sejam resguardos do aniquilamento.

A esperança prefere nascer onde governa a escassez, até mesmo a falta. A esperança ama os lugares onde a necessidade grita e a lacuna clama. Por isso as religiões lidam sempre com a esperança, porque ela preenche os vazios da vida. Os atos de fé – seja ela qual for e quase sempre – indicam a importância do esperar e confessam que a resiliência é companheira das jornadas. Para uma parcela destes homens e mulheres religiosos, a esperança recebe o nome de Advento que, com seus ritos e preces, nos transporta para a plenitude de um tempo que ainda vem. Sobretudo, nos transfere aos braços de alguém que vindo, virá porque um dia já veio. Alguém que tem um título majestoso – Messias – mas recebeu um nome mais do que corriqueiro: Jesus. Alguém que é de origem divina e vem de onde tudo se origina, mas decidiu ser encontrado no humano que simboliza todo o criado. Alguém que – mediante tal gesto – dotou a nossa história de esperança. E assim fazemos os nossos dias: de esperança em esperança. Por isso, celebramos este tempo que está por surgir.



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