Catequizar é fazer ecoar a Palavra de Deus a todos que desejarem ouvir. Assim, “O catequista é, de certo modo, o intérprete da Igreja junto aos catequizandos e à comunidade. Ele lê e ensina a ler os sinais da fé, entre os quais o principal é a própria Igreja” (DCG 35).
O Catequista desenvolve um verdadeiro ministério, um serviço à comunidade cristã, sustentado por um especial carisma do Espírito de Deus. Ao anunciar a Palavra de Deus ele ajuda a comunidade a interpretar criticamente os acontecimentos da vida, proporcionando-lhes a reflexão sobre a fé. Na Palavra encontramos o verdadeiro amor de Deus direcionado a cada pessoa. Um amor que para nós, não basta apenas saber dele, mas experimentá-lo. Crer e experimentar o amor de Deus por nós. Um amor incondicional porque Deus é amor. Ele não exige que façamos antes algo para merecer sua atenção. Ele nos ama primeiro, escolhe nos para dar frutos. Nossa resposta a esse amor é testemunhá-lo ao mundo.
Uma boa forma de comunicação do catequista junto à comunidade é feita pelo testemunho, pois uma boa comunicação supõe uma experiência de vida na fé e de fé capaz de chegar ao coração daquele a quem se catequiza. Assim, o compromisso de evangelizar em nome da Igreja, na função de intérpretes da mesma, deve ser como o de Cristo: um compromisso com os mais necessitados (Lc 4,16-21). O Filho de Deus demonstrou a grandeza deste compromisso ao fazer-se homem, pois se identificou com os homens, tornando-se um deles e tornando-se solidário com eles. Jesus conservava em seu coração a Palavra do Pai, vivia essa Palavra e, ao experimentá-la com os outros, levando o conhecimento e à prática, ela era transportada para o coração dos outros.
Jesus, ao iniciar a sua comunicação/missão, segundo o Evangelista Lucas, lança seu projeto de vida quando lê nas Escrituras a passagem de Is. 61,1-2: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor”. Ao terminar de ler estas palavras disse aos que ali estavam em uma escuta atenta: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura”. Com estas palavras, Jesus assume em sua vida as Escrituras.
Assim também, nós catequistas, ao levarmos o anúncio da Palavra aos nossos catequizandos, devemos assumi-la como projeto de vida, para se fazer cumprir, antes de tudo, as exigências da justiça. Exigências estas que se caracterizam na preferência aos pobres. E aos catequizandos, devemos ajudá-los a assumir as atitudes de Cristo e se sentirem Igreja, experimentando-a como lugar de comunhão e participação, contribuindo para sua edificação.
Para que o catequista possa exercer suas tarefas do anúncio evangélico, torna-se importante participar das formações oferecidas nas Escolas Catequéticas. Lá encontramos formações para todos e em vários níveis. Além de desenvolver a capacitação didática e técnica do catequista, contribui para a vivência pessoal e comunitária da fé e seu compromisso com a transformação do mundo. É a prática da interação fé e vida.
Estas são algumas das orientações do Documento “Catequese Renovada: Orientações e conteúdos” em relação à pessoa do catequista como “comunicador” que faz “Ecoar” a Palavra de Deus. Tal interação só é observável na prática, nas diversas realidades dos catequizandos, pois se refere à grande “Arte” do catequista diante das ações concretas da vida.
Ajudando-nos nessa reflexão catequética, Papa Francisco nos fala da comunicação como poder de humanização. Segundo ele, Depois de ter refletido, nos anos anteriores, sobre os verbos «ir e ver» e «escutar» como condição necessária para uma boa comunicação, com sua Mensagem para o LVII Dia Mundial das Comunicações Sociais, ele iria deter sobre o «falar com o coração». Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora.
Diz, ainda, o Papa Francisco que, após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente. E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor (cf. Ef 4, 15).
No campo da comunicação, sua grande contribuição está em resgatar uma comunicação mais humanista, que pretende enraizar o anúncio evangélico nos códigos, nos contextos e nas narrações atuais.
Nós, cristãos, muitas vezes, esquecemo-nos de que o serviço da escuta nos foi confiado por aquele que é ouvinte por excelência e em cuja obra somos chamados a participar. Devemos escutar através do ouvido de Deus, se quisermos poder falar através de sua Palavra. Se não soubermos escutar o irmão, bem depressa deixaremos de escutar o próprio Deus. Colocar-se na escuta do outro é o primeiro gesto de caridade.
De uma boa escuta, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura. Na Igreja, com nossas catequeses, temos urgente necessidade de uma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs. Uma comunicação que possibilite ao outro, também fazer a experiência do encontro pessoal com Jesus, o Cristo ressuscitado.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.