Catequizar é fazer ecoar a Palavra de Deus a todos que desejarem ouvir. Assim, O catequista é, de certo modo, o intérprete da Igreja junto aos catequizandos e à comunidade. Ele lê e ensina ler os sinais da fé. Desafiados a dar testemunho de vida fraterna e solidária, o catequista, para cumprir a tarefa de anunciar a Palavra de Deus, oferecer a misericórdia de Cristo Jesus, precisa estar atento aos novos tempos que exige de nós uma renovada força missionária.
Nós catequistas, ao levarmos o anúncio da Palavra aos nossos catequizandos, devemos assumi-la como projeto de vida, para se fazer cumprir, antes de tudo, as exigências do Reino. Exigências estas que se caracterizam na preferência aos pobres. Devemos ajudar os catequizandos a assumir as atitudes de Cristo e se sentirem Igreja, experimentando-a como lugar de comunhão e participação, contribuindo para sua edificação.
Diante dos desafios atuais, a catequese precisa fortalecer seus fundamentos que são encontrados na própria Palavra, pela qual Deus revela sua vontade de comunhão plena com os homens. Já nos dizia o documento da Catequese Renovada, desde 1983, que a realidade sempre influencia e atualiza os conteúdos da nossa fé. Nesse sentido, somos chamados a oferecer nossa contribuição para a vivência pessoal e comunitária da fé, bem como para a transformação do mundo. É a prática da interação fé e vida.
Estas são algumas das orientações do Documento “Catequese Renovada: Orientações e conteúdos” em relação à pessoa do catequista como “comunicador” que faz “Ecoar” a Palavra de Deus. Tal interação só é observável na prática, nas diversas realidades dos catequizandos, pois se refere à grande “Arte” do catequista diante das ações concretas da vida.
Vamos percorrer, de forma histórica, bem sintetizada, o itinerário da catequese que nos trouxe até aqui.
O Documento trabalha quatro temáticas muito importantes. A primeira parte ele ressalta a importância de introduzir a catequese e a comunidade na história da Igreja com o objetivo de fazer memória de diversos aspectos que, aos poucos, foram compondo o complexo processo da catequese.
Primeiramente, uma catequese como iniciação à fé e vida da comunidade, uma experiência de vida fraterna que levava os convertidos à iniciação na vida cristã. Foi a catequese dos cinco primeiros séculos;
Na caminhada, uma Catequese como processo de imersão na cristandade, o que aconteceu entre os séculos V e XVI. A educação da fé se realizava pela participação numa vida social, profissional e artística, sempre marcada pelo caráter religioso.
Um terceiro momento da história da Igreja, a partir do século XVI, surge com grandes transformações na vida comunitária. Temos a formação de uma nova comunidade separada da Igreja católica, A comunidade luterana. Esta nova realidade faz exigências maiores para manter a identidade de fé. Há uma preocupação com a clareza e exatidão das formulações doutrinais, quando então passou a valorizar mais uma aprendizagem individual. Aparecem os grandes catecismos inspirados no Concílio de Trento. A Catequese passa a ser uma Catequese como instrução.
Esta forma de evangelização continua até o século XX quando se redescobre na Catequese a importância fundamental da Iniciação cristã e da comunidade de fé. Passa-se a pensar em uma Catequese como educação permanente para a comunhão e participação na comunidade de fé. Uma catequese que ajude as pessoas a construírem seu itinerário de fé, inseridas no mundo de grandes transformações e com rápidas mudanças, mas vivenciando os valores do relacionamento interpessoal em meio a pequenas comunidades.
Entender toda essa caminhada da Catequese, sempre em sintonia com as realidades diversas, nos ajuda a entender a importância que devemos à evolução da realidade da nossa Igreja e junto com ela percorrer o itinerário da fé com conteúdos que iluminam a vida da comunidade.
Em sua segunda parte, o documento nos oferece os “princípios para uma catequese renovada” que procura responder aos desafios dessa nova realidade. A exigência que se constata é a formação de uma comunidade cristã missionária que anuncie, na sua autenticidade, o Evangelho e o torne fermento de “comunhão e participação” na sociedade e de libertação integral do homem (cf. CR n. 30).
Fazendo uma leitura da “segunda parte” deparamos com uma das grandes exigências da Catequese: o anúncio autêntico do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como transmitir a mensagem do Evangelho? Como “fazer Ecoar” a Palavra de Deus? O que é a Palavra de Deus? O que é Revelação? Qual a “Pedagogia” de Deus? E a “Pedagogia” de Jesus? Como Jesus fazia para levar seus ouvintes à plenitude da fé? Como conservar as escrituras e a Tradição, através da vivência e do testemunho da fé? Como fazer uma leitura interpretativa da Palavra? Quais são os gêneros literários utilizados para a leitura bíblica? O que é magistério? O que é Liturgia? Vejam quantas questões são fundamentais para um “fazer catequético” bem sucedido, na realidade atual. O Documento CR permanece atual, o DNC e vários outros documentos preocupam-se em esclarecer essas questões. Temos aqui uma boa proposta de estudos para aprofundamento, estudo que contribuirá para realizarmos o objetivo último da Catequese que é: fazer escutar e repercutir a Palavra de Deus (CR n. 31).
A terceira parte do documento trata-se dos Temas fundamentais, que será objeto mais aprofundado dos nossos encontros.
A quarta parte nos ajuda a compreender a comunidade catequizadora. Entender todo esse conjunto se faz necessário para que tenhamos uma catequese que promova a integração da caminhada da comunidade cristã com a mensagem evangélica.
Percorrendo as características que o documento nos apresenta, podemos compreender a catequese como um processo permanente e continuado de educação da fé. Uma catequese que é para a vida toda iniciada no “Ventre Materno” e durante toda a vida, em todas as fases da nossa existência: pré-natal. nascimento, infância, puberdade, adolescência, juventude, fase adulta, idosos, até o nosso encontro definitivo com o Pai! Vivemos no processo de conversão contínua numa incessante e incansável busca de Deus. Atinge todos os fatos, acontecimentos e circunstâncias. A participação da vida comunitária garante esse processo permanente de educação da fé. Como discípulos e missionários de Jesus Cristo, sejamos modelos, espelhos que reflita o mestre, e juntos a outros a outros discípulos, possamos formar, fraternalmente, novas comunidades, criando comunhão e, sem medir esforços, empenhar-se na liberdade do ser humano e na promoção da justiça e paz.
Os responsáveis pela educação da fé devem se mostrar como testemunhas de vida: alegre, livre, com metas positivas, mensagens para o futuro, tudo isso com ousadia e inovação. Ser cristão é viver sempre em comunhão com o outro, ter vida comunitária. As dificuldades que encontramos devem ser percebidas como processo e nos convida a renovação constante…
Imitemos Paulo (1 Ts 5,21 – 22) “Examinem tudo e fiquem com o que é bom”. “Fiquem longe de toda a espécie do mal.”
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do
Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte