Características da Catequese Renovada – uma catequese cristocêntrica
Somos chamados a estar atentos à nossa realidade. Pensar nas muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos que, acostumados a sair, trabalhar fora, ir para as escolas, festejar aniversários com amigos, agora necessitam ficar em casa. Esse “ficar em casa” implica mudar rotinas cotidianas, fazer a experiência de um tempo que nos torna mais vulneráveis, um tempo de isolamento, em razão da pandemia, um tempo que desafia nossas forças e esperança, provocando sentimento de incerteza. Mas esse mesmo tempo nos chama a atenção para uma reflexão catequética central – viver a fé na dinâmica do mistério pascal, ou seja, viver conforme os ensinamentos deixados por Jesus e ir nos apropriando de um tempo cheio da graça do ressuscitado.
O Papa Francisco nos ajuda a refletir sobre esse tempo em uma das suas catequeses, dizendo: “Jesus, como semente na terra, estava para fazer germinar no mundo uma vida nova; e as mulheres, com a oração e o amor, ajudavam a esperança a desabrochar. Quantas pessoas, nos dias tristes que vivemos, fizeram e fazem como aquelas mulheres, semeando brotos de esperança com pequenos gestos de solicitude, de carinho, de oração!”.
Vamos trazer para nossa realidade essa experiência das mulheres que ajudavam a desabrochar esperança. Sejamos, hoje, essas pessoas que continuamos a caminhada com coragem, sempre motivadas por Jesus nos Evangelhos, e que a encontramos quando abrimos o coração. Vamos fazer como os discípulos de Jesus. Retornar o caminho e preparar o momento do anúncio pascal e da esperança, respondendo sempre ao chamado gratuito do amor de Deus.
Este é o momento de renovarmos nosso compromisso de amor, de cuidar mais dos nossos lares, de nossas famílias e juntos superarmos os desafios que se apresentam. Vamos amar e respeitar todas as criaturas, imitando o amor de Deus por nós, manifestado em seu Filho Jesus;
Anunciar os ensinamentos de Jesus nos levam para a prática de uma catequese cristocêntrica, conduz a todos, catequistas e catequizandos, para o centro do Evangelho, o querigma, a Boa-Nova que nos convoca à conversão, à opção por Jesus Cristo que nos revela o Pai, no Espírito Santo (dimensão trinitária, e ao seu seguimento). A Catequese está a serviço da pessoa humana em sua situação concreta (dimensão antropológica). Por isso ela educa para a vivência do mistério d’aquele que revelou o homem ao homem, o novo Adão, Jesus Cristo. Nele, Deus se dá a si mesmo. Jesus é a encarnação, na natureza humana, do Verbo, é a própria Palavra de Deus feito carne (Jo1,14).
Nesse sentido podemos afirmar: o Mistério de Cristo é a referência central que ilumina a todos. Jesus, como revelação de Deus, mostra por sua vida o que é salvação, salvação do homem todo e de todos os homens, e veio inaugurar o Reino, Ele que é o Caminho, Verdade e Vida, nos ensina a buscarmos o Pai e o Espírito Santo. O Catequista deve buscar essa intimidade com Jesus, aprofundando o que já se viu sobre Ele e alimentando-se Dele com mais frequência, na Eucaristia Ele que é a razão de nosso trabalho Catequético, de nossa vida de fé.
Na prática do anúncio da Palavra de Deus, a catequese se coloca a serviço dela, torna presente a Palavra a Deus, encarnada por Jesus, testemunhada pelos apóstolos.
A catequese é um ato essencialmente eclesial. Não é uma ação particular. A Igreja se edifica, cresce e amadurece a partir da pregação do Evangelho, da catequese e da liturgia, tendo como centro a celebração eucarística. Nesse sentido, a catequese é serviço essencial. O sujeito da ação catequética é a Igreja particular e os catequistas servem a esse ministério e agem em nome da Igreja.
O Catequista, convicto de que é profeta hoje, faz ecoar a Palavra Deus na comunidade, denuncia o que não está de acordo com ela e testemunha com seu comprometimento e eficácia na força do Espírito Santo. A Bíblia é o Livro da Fé, o texto essencial da catequese. É a primeira fonte da catequese. Ela ilumina a nossa realidade e inspira a realização de ações transformadoras. O princípio de interação fé e vida, aplicado à leitura da Bíblia gera um tipo de leitura vital e orante da Palavra de Deus.
A leitura da Bíblia é um caminho longo a percorrer. É semelhante ao conhecimento de uma pessoa. Leva tempo, apresenta caminhos complementares, exige o saber ouvir o que os outros tem a dizer a respeito. Também há um interrogatório que tem que ser feito diretamente à pessoa. Assim também, a bíblia coloca-nos no cenário histórico dos caminhos realizados pelo povo do seu tempo. Nela encontramos comentários literários e teológicos, além de temáticas repletas de significado para o ser humano de nosso tempo. Temas como o reino de Deus, as parábolas, os milagres, a paixão e morte, a ressureição ajuda-nos a aprofundar os conhecimentos sobre a vida de Jesus. Não se pode esquecer das grandes experiencias das primeiras comunidades que iniciam o caminho pós-ressureição.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte