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[Artigo] Bíblia – um livro aberto para a vida – Neuza Silveira

A Bíblia é como uma casa cheia de compartimentos. Cada um desses compartimentos tem uma chave para quem desejar abri-los. A cada porta aberta desponta a possibilidade de entrar e fazer a experiência da vida segundo as palavras de Deus.

Primeira chave – Pés plantados na realidade

Para abrir a porta de entrada usamos, com muito cuidado, a chave que vai possibilitar adentra-se em seus conteúdos sem perder de vida a vida lá fora. Não pode simplesmente querer se aventurar. Precisa-se ter os PÉS PLANTADOS NA REALIDADE (em terra firme), para analisar bem as situações, fazer um bom discernimento e uma análise comparativa dos escritos da Bíblia e dos escritos da vida. Seus escritos contam as histórias do povo do seu tempo; como foram suas lutas, as alegrias, esperança de fé. Podemos ler essas experiências em Ex 3,7-10, conforme um diálogo entre Deus e Moisés.

Deus disse: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores. Pois eu conheço as suas angústias”. Nessa conversa, podemos perceber como Deus está atento ao sofrimento de seu povo, e envia Moisés para ir libertá-los. Se, quando lemos a Bíblia, não tiramos o pé da nossa realidade, podemos entender que Deus continua ouvindo o clamor deste povo nos envia para ajudá-los na travessia da vida, e Ele vai junto.

Segunda chave – Olhos bem abertos

Saberemos como ajudar se nos permitirmos a abrir bem os OLHOS para ler o que o texto diz da Bíblia e o que fala o texto da vida. Qual é a situação da realidade presente. Precisa-se encontrar a chave que permite abrir bem os olhos para enxergar.

Terceira chave – Ouvidos atentos, em alerta

Necessário se faz encontrar uma terceira chave para entrar em um novo compartimento da vida para poder escutar, pois enxergar somente não será suficiente. Para entender precisa-se ESCUTAR a voz da Palavra de Deus. Qual é o clamor do povo? O que Deus está a falar: Precisa-se de um OUVIDO para escutar o clamor do povo e outro ouvido para escutar o que Deus quer falar. Ouvir com o ouvido do coração. A partir da Escuta abrir o coração para acolher a sabedoria que nos vem das palavras de Deus, da palavra da Igreja que nos orienta e da palavra que vem de nossas experiências de vida.

‘Escutar com o coração’ é a atitude de uma pessoa nobre, amorosa, compassiva. Se olharmos em nosso redor, poderemos notar que há, todos dias, milhões de pessoas que sofrem em silêncio. Todas anseiam por ser ouvidas. Mas o caos, a confusão, o ruído, acabaram por causar muita surdez interior. E também nós – em detrimento da capacidade de empatizar, sentir, escutar, ouvir – acabamos por somente ouvir alguns sons. O apelo para escutar com o ouvido do coração nos vem do Papa Francisco, para o 56º Dia Mundial das Comunicações, celebrado, habitualmente, no Domingo da Ascensão (a 28 de maio neste 2022). Mas, retomando o nosso verbo, será que realmente escutamos? E como escutar, ouvir, com o coração?

Quarta chave – Coração livre para amar

A partir do momento que se escuta Deus o CORAÇÃO se abre para bem acolher as suas palavras, seus ensinamentos. O coração é esse lugar de sentimentos. Somos chamados a acolher essa palavra com emoção. Deixar-se entranhar-se da emoção e da alegria que o texto pode provocar. Ou, quem sabe, o texto pode trazer amarguras, rancor, angústias. Nesse sentido, a escolha da chave certa é fundamental. A quarta chave que abre o CORAÇÃO e o torna livre para amar e pronto para converter-se.

Quinta chave – Boca para anunciar e denunciar

O coração é lugar da morada dos sentimentos, pois ele foi feito para amar. Quando o coração se abre para a vida e acolhe a Palavra, pode-se produzir sentimentos de compaixão, de humildade, de generosidade. Nesse sentido a pessoa fica cheia de bons sentimentos e precisa se abrir para os outros, ir anunciar, abrir a BOCA para anunciar e também denunciar aquilo que os olhos viram, os ouvidos ouviram e o coração sentiu sobre a Palavra de Deus. Quando buscamos compreender a vida, a partir da Palavra de Deus, torna-se mais fácil aderir às verdades da fé, não porque a compreendemos, mas porque é Deus quem nos ensina. O Espírito Santo nos capacita e nos impulsiona para essa busca.

Sexta chave – Cabeça para pensar

Para ter a coragem de sair e anunciar precisa-se fazer uso da inteligência para meditar, estudar e buscar respostas para as dúvidas que aparecem. Abrir a CABEÇA para pensar. Ler a Bíblia e ler outros livros que comentam sobre a Bíblia, explicam e contribui para o entendimento de outras pessoas.

Sétima Chave – Colocar-se em oração

Tudo isso pode acontecer de forma tranquila, harmoniosa quando nos disponibilizamos para a ORAÇÃO. Dobrar os joelhos em oração. Só com muita fé e oração dá para entender a Bíblia e a vida. Pedir ajuda ao Espírito Santo para entender o “espírito” da Bíblia. Não podemos fazer uma leitura ao pé da letra, porque a letra mata e o espírito vivifica, como adverte São Paulo (cf. 2Cor 3,6).

O que nos diz o Papa Francisco sobre a importância da oração em nossa vida?

Na última catequese do ciclo da oração o Papa Francisco diz: “recordar a graça que não só imploramos, mas que, por assim dizer, fomos “implorados”, já somos acolhidos no diálogo de Jesus com o Pai, na comunhão do Espírito Santo. Jesus reza por mim: cada um de nós pode conservar isto no coração: não o podemos esquecer. Até nos momentos mais difíceis. Já fomos acolhidos no diálogo de Jesus com o Pai na comunhão do Espírito Santo. Fomos queridos em Cristo Jesus, e também na hora da paixão, morte e ressurreição tudo nos foi oferecido. E então, com a oração e com a vida, mais não resta do que ter coragem, esperança e com esta coragem e esperança sentir forte a oração de Jesus e ir em frente: que a nossa vida seja um dar glória a Deus na consciência de que Ele ora por mim ao Pai, que Jesus reza por mim”.

Devemos cuidar bem das sete chaves. Uni-las em um chaveiro para que não percam. Mas que chaveiro é esse que conterá as sete chaves que poderão abrir a Bíblia para a vida? Este chaveiro é a família, o círculo bíblico, a catequese ou sua comunidade. A Bíblia lida em comunidade se torna mais fácil, mais proveitosa, mais agradável e um sinal da presença de Deus (cf. Mt 18,20).

Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-catequético de Belo Horizonte.



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