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[Artigo] Ars celebrandi – Padre Márcio Pimentel, Paróquia São Sebastião e São Vicente

Um desafio para a Pastoral Litúrgica

A Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium compreende a Liturgia como exercício da obra redentora de Jesus, da qual a comunidade dos fiéis em assembleia, enquanto realização mais concreta da Igreja, participa (cf. SC 7). Esta atividade, que figura entre as mais importantes das tarefas eclesiais, embora não seja a única, é cumen et fons da vida cristã (cf. SC 9 e 10). O louvor e a ação de graças que se faz na celebração Eucarística, pela qual a assembleia vincula-se à entrega de Cristo e participa de sua vida pela comunhão no corpo e sangue do Senhor, é a meta de todo o trabalho evangelizador (cf. SC 10). Neste sentido, o que se vislumbra pela prática cultual é a reunião dos irmãos e irmãs do Senhor e sua efetiva participação no mistério de Deus que os torna membros da mesma família, pela adoção filial que realiza e na qual faz amadurecer. Esta participação é requerida per ritus et preces, ou seja, mediante os sinais sensíveis que deverão resplandecer aquilo que significam. (cf. SC 21 e 48).

Em consonância com a Sacrosanctum Concilium, Bento XVI ensina que na “liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão” (SCar 36). Essa comunhão do povo de Deus com o mistério pascal de Jesus se dá na corporeidade eclesial, mais precisamente na carne dos fiéis. A Liturgia, sendo um acontecimento teândrico, nascida do encontro entre o empenho humano e graça de Deus, implica – necessariamente – a dimensão estética, isto é, da capacidade e habilidade humanas de perceber. Mas este ato perceptivo não é meramente reativo, como ocorre no mundo animal em geral. É uma percepção inteligente e simbólica. Aliás, é exatamente a dimensão simbólica que nos difere e caracteriza como seres humanos¹.

Assim, a beleza das celebrações cristãs não se encontra, primeiramente, no estilo e nas formas, mas, antes de tudo, no acontecimento que por ela se faz conhecido. Na verdade, a estética litúrgica depende exclusivamente do evento salvador que teve seu lugar de revelação pleno na pessoa de Jesus de Nazaré e agora se faz conhecido nos gestos e palavras da Igreja em oração. Tratar da Ars Celebrandi ou da Arte de Celebrar, implica buscar na Liturgia seu enraizamento mais profundo nas ações e palavras do Senhor Jesus, morto e ressuscitado. A Liturgia é gesto eclesial de Jesus² e para fundamentarmos teologicamente a estética litúrgica de qualidade sacramental, não podemos perder isso de vista³.

Também o Papa Francisco reconhece que a autêntica evangelização se dá pela via pulchritudinis, ou o ‘caminho da beleza’ (cf. EG 167). Atraídos pela beleza do Senhor, as pessoas podem redescobrir a beleza de viver. As celebrações da Igreja possuem exatamente o objetivo de reapresentar o fulgor do mistério pascal de Jesus, de modo que, em contato com ele, os fiéis possam dar sentido à sua vida e orientar a história evangelicamente. Deste modo, os padres conciliares previram que os ritos com os quais a Igreja celebra a beleza de Cristo, brilhem por sua ‘nobre simplicidade’.

Evidentemente, é preciso nos perguntar sobre esta ‘beleza’ de Cristo. De que se trata? Qual compreensão ou ideário se esconde por trás deste conceito aplicado a Jesus de Nazaré? Em que perspectiva se pode obter uma Liturgia verdadeiramente bela? Quais a condições necessárias para constituirmos uma adequada ‘arte de celebrar’?

 

 

 

 

 

 

Padre Márcio Pimentel é especialista em Liturgia pela PUC-SP e mestrando
em Teologia na Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (Faje / Capes)
Paróquia São Sebastião e São Vicente

 

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1Cf. CASTILHO, J. M. A humanidade de Jesus. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 56ss.
2Cf. BALTHASAR, Glória I, p. 542 op. Cit. CASSINGENA-TRÉVEDY, François. La beleza dela Liturgia. Bose: Edizioni Qiqajon, 2013, p. 24.
3CASSINGENA-TRÉVEDY, François. La beleza dela Liturgia, p. 25.

 

 

 

 



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