Chama atenção que o Papa trate da questão cultual numa perspectiva mais existencial que celebrativa. Numa fidelidade impressionante ao Evangelho, na mais concorde tradição profética também assumida por Jesus em seu tempo, o culto só é bem visto em sua relação com o amor ao próximo. Francisco assevera de modo lancinante: “A oração é preciosa, se alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agrada a Deus, quando levamos lá os propósitos de viver com generosidade e quando deixamos que o dom lá recebido se manifeste na dedicação aos irmãos” (GE 104). Esta afirmação não significa outra coisa senão que a oração deve ser – de fato – fonte. A oração litúrgica, mais propriamente, por ser prolongamento da ação sacerdotal de Cristo, somente tem valor para os fiéis se guiada por este princípio. Se as celebrações não se configurarem como atuação do Espírito de Jesus na carne dos fiéis, não têm qualquer serventia no horizonte do Reinado de Deus e do Evangelho que o anuncia.
Em um parágrafo pleno de clareza e profundidade, Francisco expõe que a santidade é, em suma, “viver em união com Ele (Jesus) os mistérios de sua vida” (GE 20). Podemos dizer que se trata de um “assemelhar-se” a Cristo. No mesmo número, ele desdobra esta compreensão com as palavras que seguem: “consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele. Mas pode também envolver a reprodução¤ na própria existência de diferentes aspectos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor.