No Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas, quando ele fala sobre a salvação, ele a relaciona sempre com a pessoa de Jesus. Desde o início, o leitor sabe que Jesus é o Salvador (2,11; At. 5,31), e que ele é a visita de Deus que vem beneficiar seu povo.
Em Lucas, Jesus está sempre perto dos publicanos e dos pecadores. Percebe-se, em suas atividades, a prática de sua bondade e de sua misericórdia que se manifesta de maneira particular em relação à mulher pecadora na casa de Simão (7,36-50). Também encontramos em Lucas a experiência de conversão vivenciada por Zaqueu, o chefe dos publicanos. Este é um exemplo da vontade de Jesus de reabilitar todos aqueles que vivem afastados de Deus, como indicam Suas palavras: “Hoje a Salvação entrou nesta casa” (19,1-10). No relato da morte de Jesus, Lucas deixa claro o momento em que Jesus perdoa os seus perseguidores (23,34), prometendo o paraíso ao ladrão arrependido.
Aprendemos com Lucas que Jesus é aquele quem sempre toma a iniciativa do perdão, manifestando que a salvação é um dom gratuito de Deus. A salvação que Lucas fala está relacionada com as atividades de Jesus, seja por meio dos milagres, ou operando conversões, agindo pelo poder da palavra e ou dando orientações sobre o caminho da salvação. Jesus está sempre preocupado em salvar a pessoa toda, na sua totalidade, um ser integral.
Quem é o discipulado cristão?
Os discípulos de Jesus reconhecem o dom doado da graça salvífica de Jesus e percorre com ele o caminho. Mulheres, homens, crianças são chamados para o discipulado, seguimento a Jesus no compromisso com o Reino de Deus (1,17-20), 2,14; 15,40-41). O Evangelho de Lucas é um evangelho aberto para as nações, e o discipulado deve colocar-se nesse caminho.
O Evangelho aponta para as consequências, não apenas da práxis e do caminho de Jesus, mas também dos discípulos (8,31-9,1 – resistência e renúncia; 9,31-37 – ensino e serviço, 10,32-45 – inversão de valores e relações). Assim como o Evangelho de Jesus não objetivou pompa e glória, mas culminou na cruz, da mesma forma o discípulo deve se colocar a caminho em humildade e resistência.
Participar do Reino e da vida eterna depende, porém, da reação de cada pessoa ao chamado, à aceitação e à inclusão manifestas por Jesus, o Filho de Deus, por meio de anuência ou rejeição.
Quem decide seguir Jesus manifesta-se numa nova práxis libertadora (1,31; 2,6-14; 6,12-13; 10,22; 15,40-41). Os discípulos vão aprendendo na caminhada e nos acontecimentos que a fé é, pois, a atitude pedida ao ser humano para que a graça de Deus possa manifestar todo o seu poder libertador. Fé e Salvação caminham juntos significando que a Salvação é verdadeira na medida em que atinge a totalidade da pessoa, também na sua dimensão religiosa. Segundo Lucas, é possível amar somente porque a ação de Deus transformou o coração humano. Vários são os ensinamentos sobre a Salvação transformadora, mas se torna evidente aquela ocorrida no interior de Zaqueu. Este realmente recebeu Jesus em sua casa com muita alegria e prometeu dar metade de seus bens aos pobres. Após essa transformação é que Jesus diz: “hoje a Salvação entrou nesta casa”.
A perspectiva comunitária da salvação
No Evangelho também encontramos a perspectiva da salvação comunitária. Percebe-se que, por ocasião do nascimento de Jesus, os anjos anunciam uma grande alegria que é para todo o povo. Simeão, ao colocar os olhos no menino Jesus, reconhece nele a salvação para todos. Desde o início do Evangelho, Lucas deixa claro que a salvação é dirigida a todas as nações. O próprio Jesus confirma, profeticamente, que todos os povos terão lugar à mesa do reino de Deus. (13,29).
Os discípulos e as discípulas de Jesus conservaram, no coração e na memória, o que Jesus fez e ensinou. Eles sentiram -se chamados e escolhidos para fazer parte do novo povo de Israel. E a partir da experiência de Jesus vivo no meio deles, pela ação do Espírito Santo, tornaram-se missionários ardorosos no mundo conhecido de então.
Neuza Silveira de Souza – Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.