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[Artigo] A Sagrada Escritura na Liturgia-Padre Márcio Pimentel, Paróquia São Sebastião e São Vicente

O ministério dos leitores, de antiga tradição na nossa Igreja, tem a nobre tarefa de dar aos fiéis o próprio Cristo, Palavra viva do Pai. A Constituição Conciliar Dogmática, Dei Verbum, sobre a Revelação Divina, artigo 21, diz:

O texto é importante, pois ajuda-nos a compreender a Escritura de outra maneira diferente daquela costumeira e usual que tende a considerar a Palavra como informação catequética, muitas vezes incompreensível e às vezes como quase desimportante para a vida eclesial. Que maneira? A Sagrada Escritura na liturgia tem estatura sacramental, isto é, enquanto sinal ou símbolo sagrado, ela nos comunica a vida divina. Por meio dela entramos em comunhão com o Verbo encarnado de Deus. A Palavra de Deus é geradora de fé que, por sua vez, nasce “pelos ouvidos” (Rm 10,17), isto é, pelo anúncio da Palavra do Pai. A Palavra do Pai, que é Cristo, o Verbo, é também chamado de “autor e consumador da fé” (Hb 12,2). Mas para que chegue aos ouvidos é necessário que seja anunciada, pronunciada e isso, quem o faz é o Cristo, que fala quando na liturgia se leem as Sagradas Escrituras (SC 7). Na liturgia é Deus mesmo quem nos fala pela voz dos leitores e leitoras, pelo canto do Salmo, pelo diácono que anuncia hoje o evangelho da salvação que um dia foi proclamado na Palestina pela boca do Filho de Deus.

Na celebração, Ele nos dá sua vida no pão da Palavra e no pão da Eucaristia. E um, como o outro são tomados e distribuídos, como relata a narrativa institucional e retoma o artigo 21 da Dei Verbum. Mas o gesto de distribuir o pão e a palavra foi precedido pelo gesto de tomar. Ele tomou o pão nas mãos (cf. Lc 22,19), e “tomou” a Palavra (cf. Lc 4,17.21-22), e os distribuiu: o pão e o vinho, dando aos discípulos à mesa e a Palavra falando aos seus conterrâneos: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos esta Escritura que acabastes de ouvir”. Anúncio e cumprimento, duas realidades que na eucaristia, como um único ato de culto, se implicam e se realizam.

Como o Cristo toma e distribui hoje a sua Palavra? Por meio do serviço dos leitores suscitado no seu corpo místico, a Igreja. Mas para que seja o Cristo que tome a Palavra é necessário que o membro escolhido do seu corpo tenha o seu agir modelado pela ação de Cristo, o anunciador do Pai. Isso implica uma relação de intimidade com a Palavra de Deus, deixando-a encarnar-se na sua corporeidade: preparação prévia, postura, voz, entonação. Por analogia, a Palavra é dada aos fiéis assim como o é o corpo sacramental de Cristo. O pão e o vinho são corporificações do Corpo e Sangue de Cristo, mas também sua Palavra. O leitor e sua expressividade, o livro das leituras, o ambão e o rito são corporificação do Verbo de Deus que na liturgia se toma e se dá aos fiéis. Aprendamos de Santo Agostinho que afirmou “Bebe-se o Cristo no cálice das Escrituras como no cálice Eucarístico”.

 

 

 

 

 

 

Padre Márcio Pimentel é especialista em Liturgia pela PUC-SP e mestrando
em Teologia na Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (Faje / Capes)
Paróquia São Sebastião e São Vicente

 



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