Quem já leu o documento da CNBB, n. 109, sobre as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023 teve a oportunidade de perceber os grandes desafios que temos pela frente. O tempo atual, ou seja, o tempo, que no grego é chamado “chronos”, e se refere ao tempo cronológico, que se mede, que se conta (uma semana, 30 dias) exige algo mais de todos, conforme apontam as diretrizes: “forças missionárias para bem cumprir a tarefa de anunciar a Palavra de Deus e, assim, promover a paz, superar a violência, construir pontes em lugar de muros, oferecer a misericórdia de Cristo Jesus como remédio para a vingança e reacender a luz da esperança para vencer o desânimo e as indiferenças” (DGAE 109).
O Papa Francisco, ao nos falar sobre uma Igreja missionária, em saída, nos leva a perceber a concentração de Jesus como o primeiro evangelizador, que nos envia a anunciar sem cessar o Evangelho do amor de Deus Pai, com a força do Espírito Santo. Ele nos mostra como caminho, ou itinerário, a chave de interpretação bíblica como temática missionária. Convoca a todos para uma formação contínua, transformadora, que alimenta a vida da comunidade.
A “Palavra” revela a mensagem do Evangelho e proporciona a todos a realizar o encontro pessoal com Jesus Cristo, o ressuscitado.
Deus se comunica com o ser humano por meio da Revelação
A Palavra de Deus, como princípio dinâmico, é comunicada ao homem pelo processo da Revelação, que é um ato criador, já que é o principio de uma nova sociedade espiritual que transcende à ordem temporal da cultura e coloca o homem em contato com uma ordem superior de realidade. Essa Revelação caminha na tradição da cultura desde os tempos do Povo de Israel, que tinha um modo de vida incorporado numa lei moral e em uma história sagrada que os separava de todos os outros povos do mundo antigo. Esse povo foi o escolhido entre as nações para ser testemunha de Deus e portador da Revelação divina. Essa revelação chega até nós através do Tempo Chronos.
Agora somos desafiados a apostar e a viver testemunhando a fraternidade e a solidariedade de forma efetiva junto aos irmãos e irmãs, nos diz a Igreja no Brasil. Somos chamados a qualificar nossa cidadania, adentrando-se ao meio das novas culturas urbanas para revisitar as novas bases e pilares da casa comum, assentando nelas os valores do Evangelho de Jesus Cristo.
Olhando ao nosso redor e atentos aos sinais dos tempos atuais e á comunicação de Deus que vai se revelando no tempo da nossa história, vamos observar os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, cenários estes muitas vezes marcados por luzes e sombras. A Igreja nos convida a sermos discípulos missionários em ambientes possíveis de realizar a transmissão integral da fé, inserindo-a na cultura urbana onde há uma maior concentração das pessoas, as quais modificam o modo de vida, estilos e novas mentalidades que se expandem e transformam o ambiente trazendo novas consequências ambientais, bem como mudanças éticas, sociais, tecnológicas, entre outras.
Um novo tempo atual
Nessa conjuntura atual, ou seja, esses nossos dias atuais, marcados por experiências plurais, ao contemplar nossas cidades, vamos nos estabelecer em nosso tempo kairós. Vamos entrar na nossa casa comum, conhecer suas bases, observar seus pilares que dão sustentação à casa, tais como: a casa do Pão, da Palavra, da misericórdia e a missão. Vamos caminhar atentos, mas sem pressa, no tempo kairós que possui uma natureza qualitativa, que possibilita experimentar um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece: a experiência do momento oportuno.
O Tempo chamado “kairós” é aquele tempo que Deus age. O tempo em que Deus veio nos ver, visitar e fazer morada no meio de nós. Nesse advento estamos caminhando no tempo oportuno de fazer penitência, de estar acordado, vigilantes. A vigilância dá identidade à vida cristã. Significa que os cristãos “filhos do dia”, caminham sob a luz de Cristo, com um novo projeto de vida.
Esse tempo de hoje é propício para viajar e orar alimentando a fé que gera esperança, característica forte do tempo de advento. Caminhamos com esperança até o tempo do amor, o Natal, E enquanto esperamos vamos praticar as virtudes, dom de Deus, espalhados no tempo da nossa história: a paciência, a perseverança e a sobriedade.
Assim, vamos percebendo que o tempo do advento não é só uma preparação para o natal, mas uma preparação de nós mesmos para a segunda vinda do ressuscitado. Ele que veio uma primeira vez, de forma concreta, na submissão, na humildade da manjedoura, agora, a segunda vinda, na glória para nos iluminar, na Eucaristia, para nos alimentar, e em nosso coração para nos ajudar a amar.
Viver esse tempo do advento, experimentando a Palavra de Deus, nos faz lembrar-se do caminhar dos dois precursores, João Batista e a Virgem Maria. O primeiro veio na frente para nos mostrar que a graça de Deus vem para salvar e nos libertar. A segunda vez vem para nos mostrar um rosto de acolhida, nos colocando diante de uma visão deslumbrante do mistério da Encarnação, nos convidando a fazer o memorial do nascimento de Jesus em Belém – Casa do Pão. Continuemos nesse caminho ajudando aos outros celebrarem e fazer essa bela recordação.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Bíblico-Catequético de Belo Horizonte