A Bíblia é a Palavra de Deus que ilumina nossa vida. Como Palavra de Deus ela traz as exigências que devem ser respeitadas, mas, ao ler, é necessário estarmos sempre atentos à realidade atual. Nesse sentido, pode-se descobrir as belas mensagens de vida que sua leitura proporciona a todos aqueles que desejam caminhar nos passos de Jesus.
Ouvindo a uma das catequeses do Papa Francisco, ele nos chama a atenção de como é importante recuperar a dimensão contemplativa: Olhar para a terra, olhar para a criação como um dom. Quando contemplamos, descobrimos nos outros e na natureza algo muito maior do que sua utilidade.
Nesses novos tempos onde são grandes os desafios, não temos parados para contemplar.
Diz o Papa Francisco que devemos estar atentos às pessoas e às suas realidades e nos convida para contemplar a natureza e a criação. Vamos parar um pouco para contemplar a natureza da nossa catequese: ela é um ato que nasce de natureza eclesial, nasce do mandato missionário do Senhor Jesus. Ele aproxima dos seus discípulos e diz: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei discípulos, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos! (Mt 28,18-20).
Atendendo a esse ordenamento devemos fazer ressoar o anúncio de sua Páscoa no coração de cada pessoa, cuidar dela, proteger, para que sua vida seja transformada. Vamos contemplar a realidade na qual ela se encontra. Buscar compreender essa realidade e essa pessoa inserida na sua realidade, ou sejam no seu ambiente, onde ela vive e expressa seu modo de vida, seu testemunho. A catequese, no cumprimento da sua tarefa, acompanha, educa e forma na fé e para a fé. Ela introduz a pessoa à celebração do Mistério, ilumina e interpreta a vida e a história humanas. A catequese expressa a riqueza de sua essência e oferece sua contribuição específica para a missão pastoral da Igreja.
Diante da tarefa da catequese à qual somos chamados a realizar, vamos contemplar para descobrir o que essa realidade nos fala. Para o Papa Francisco, contemplar é ir além da utilidade da coisa. É descobrir o belo, o valor intrínseco, ou seja, o valor daquilo que é interior, que faz parte da essência das coisas; que é específico do ser humano; coisas essas que lhes foram conferidas por Deus. Cada pessoa possui essa capacidade mística.
Iniciação à Vida Cristã – um processo que liga o ser humano a cristo.
A Igreja do Brasil convida todos a prestar atenção no processo da Iniciação à Vida Cristã, que torna efetivamente o cristão ligado de forma entranhada à vida do Cristo e assim possa viver nos moldes da vida de Jesus, caminhando com Ele, vivendo como ele e tomando atitudes conforme as exigências da revelação, expressas na própria Bíblia e na fé da Igreja, forma de atender as exigências subjetivas da realidade atual.
Essa exigência, a qual a Igreja deve responder nos tempos atuais, evidencia a necessidade de uma catequese que coerentemente possa ser chamada querigmática, uma catequese que é m “aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, [fazendo-se] carne” (EG, n. 165).
Segundo o teólogo Carlos Mesters, a comunicação da revelação divina que existe dentro da Igreja, o chamado “Sensus fidelium” é a porta-voz legítimo da vontade de Deus e ocupa o seu ligar ao lado da Bíblia, da Tradição e do Magistério. Assim, atender as exigências da realidade do Povo é escutar a Voz do Povo, para que se possa chegar a descobrir o que Deus tem a dizer. Carlos Mesters diz ainda com muita propriedade que ‘a Palavra de Deus é semente; a sua flor, o sentido, só aparece, quando a Palavra for plantada no chão da vida e lá tiver condições de germinar e produzir seu fruto.
A Palavra de Deus é o alimento essencial que fortalece e dá vida às vivências experienciais que acontecem nos encontros de catequese e na vida dos catequizandos. Assim como a semente necessita de sol, água, adubos, terra e chuva que acontece no decorrer do ‘tempo’ para crescer, assim também a Palavra de Deus precisa de tempo; tempo da nossa vida, da nossa história, onde o sol, a seca, o tempo, o ambiente, os amigos, os problemas, a convivência, as experiências trocadas e até mesmo as nossas ignorâncias contribuem para o nosso crescimento. É nessa nossa vida que a Palavra de Deus Cresce e frutifica. É nessa nossa realidade de vida que precisamos de parar, contemplar, escutar e fazer chegar nela o ressoar da Palavra de Deus, iluminando-a.
É no nosso caminhar no chão da vida e no cuidado com nossos problemas, com as pessoas que encontramos e com as exigências que essa vida nos apresenta que vamos deixando se entranhar na vida do Cristo.
Para colocar a Palavra de Deus na vida é preciso dar vida à Palavra. Precisa interpretá-la na nossa realidade, pois o Povo que recebe e lê a Bíblia é depositário da revelação divina. Muitos ainda não sabem disso, muitos não se colocam como transportadores de comunicação da revelação. É nele, no povo, que está depositada a riqueza da revelação que fluirá para a vida dos outros com quem se relacionam através dele. Tudo pode acontecer. E Tudo que acontece no nível da vida onde está a riqueza, acontece no nível da fé.
O povo é rico de sabedoria, só não sabe, não se tomou consciência, em questão de fé, que essa sabedoria está nele. Daí a importância de ir buscar, formar-se, vivenciar, experimentar, conversar sobre, dialogar, procurar se integrar, sair de si mesmo, abrir o cofre da vida e se deixar revelar, deixar que os outros recolham as contribuições que podem dar enriquecendo o saber do outro e com o outro enriquecer-se.
Conhecer a Palavra de Deus e colocá-la na vida é tarefa do cristão. Para uma boa interpretação das Palavras inspiradas pelo Espírito Santo que encontramos na Bíblia, é preciso que cada um seja guiado pelo Espírito Santo. Mas essa Palavra foi confiada à comunidade dos Crentes, à Igreja de Cristo, para alimentar a fé e guiar a vida de caridade. Assim, faz-se necessário que estudiosos da Palavra ajudem a Igreja a ser fiel à Palavra Inspirada pelo Espírito, reconhecendo os escritos bíblicos como palavra dirigida por Deus ao seu povo, que nunca deixou de meditaá-las e de descobrir suas inesgotáveis riquezas.
Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.