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[Artigo] A celebração do Natal: entre a saudade e a esperança – Padre Danilo César Lima

Ao longo da preparação do Advento, a comunidade cristã foi despertada para o duplo aspecto da vinda do Senhor: o advento escatológico, que a preparou para a vinda gloriosa e futura e o advento histórico, que a preparou para a sua vinda na carne, no Natal. Contudo, a liturgia do Natal, embora tenda a focalizar a vinda histórica do Messias, não deixa de lado o aspecto escatológico. Com enorme sutileza introduz, vinculando ao nascimento histórico do Salvador, uma leve “pitada” de escatologia. Na oração do dia vemos os dois aspectos unidos: Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu da sua plenitude. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

A Igreja suplica gozar no céu (escatologia) a plenitude da luz que resplandeceu na noite santa do Natal (aspecto histórico). Contudo, ela faz a sua súplica amparada na experiência presente da liturgia: “tendo vislumbrado na terra este mistério”.

A celebração do Natal é um mistério, palavra que pode ser compreendida como sacramento. Para além da discussão já superada, se o Natal é ou não um mistério (sacramento)1 , pois a Igreja o compreende como mistério, é a participação na liturgia do Natal que remete os cristãos ao duplo aspecto, histórico e escatológico. Pois este já não é mais vivido historicamente, e nem plenamente como é vivido no céu, senão a partir do seu aspecto sacramental, da liturgia da Igreja. Se, se pudesse traduzir isso graficamente, seria através do seguinte esquema:

Na liturgia, sacramentalmente, se prolonga o evento do nascimento do Salvador e se antecipa algo da sua plenitude. Paradoxalmente algo que antecede e fundamenta o mistério celebrado e algo para o qual a comunidade que o celebra tende e é atraída. A um só tempo, saudade e esperança.

Mas qual é o mistério, recordado e antecipado na celebração do Natal? A oração responde: a claridade da verdadeira luz. Essa Luz verdadeira, e sua claridade, outra coisa não é senão Jesus Cristo, o Clarão da glória do Pai (cf. Hb 1,3), sentado à sua direita (Cl 3,1), a “Luz da Luz” que rezamos no Credo Niceno-constantinopolitano e que nossos olhos viram (cf. 1Jo 1,1), na condição humana frágil e pequena da manjedoura, em Belém.

1 Santo Agostinho (Sec. V) defendia que não era um mistério e São Leão Magno (sec. IV) que era. Embora tenham vivido em séculos diferentes, deixaram um bom debate para os teólogos das gerações futuras.

Padre Danilo César Lima – Liturgista
Paróquia Santana, bairro Serra



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