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[Artigo] A catequese na vivência prática da misericórdia – Neuza Silveira

O Papa Francisco, ao proclamar o Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia, com o tema: “Misericordiosos como o Pai”, conforme o Evangelho de Lucas (6,36), expressa seus sentimentos de que todos nós possamos colocar em prática a misericórdia de Deus e ter como modelo Jesus Cristo. Para ele “misericórdia” é o caminho que une Deus e o Homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre (Misericordiae Vultus).

A catequese tem como tarefa proclamar essa “misericórdia” a todos os catequizandos, povo de Deus que se coloca no caminho em busca da Palavra e do Amor de Deus.

Percorrendo a Palavra de Deus, tanto no Primeiro Testamento, quanto no Segundo Testamento a misericórdia e a compaixão tem sua supremacia. No Segundo Testamento temos a Palavra encarnada, o Logos, que se revelou em Jesus. É Deus em Jesus se tornando visível entre nós. Assim, em seu filho Jesus, Deus revela sua face compassiva e misericordiosa.

Em Mateus Jesus nos fala que Deus vê no segredo (Mt 6,4). Nada passa despercebido a ele. E nos convida para a prática da esmola, oração e jejum em segredo. O seu objetivo é que possamos promover a libertação de toda forma de opressão: física, representada nos cegos, econômica, nos pobres e a política, na libertação dos cativos.

Desde o início de sua vida pública, depois daquele dia em que, entrando na sinagoga de sua cidade, em Nazaré, fez a leitura de Isaias: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar a libertação dos presos e, aos cegos a recuperação da vista, para restituir liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça ao Senhor” (Lc 4, 18-19), e foi expulso, ele a passou a ensinar na região da Galileia, em sinagogas, iniciando sua missão pela cidade de Cafarnaum. Todos ficavam admirados com seu ensinamento, porque falava com autoridade e curava os doentes, pobres e endemoniados Lc 4,31-32).

Depois de Cafarnaum, desceu até a Judéia, e percorrendo-a toda, ensinando e pregando a Boa-Nova do Reino de Deus.
Considerando todas essas atividades de Jesus, ali estava a sua missão, o seu agir, e foram estas atividades que ele chamou a seus discípulos para executarem-nas. E hoje continua nos chamando. São essas atividades que, quando executadas com amor, deixa transparecer a misericórdia de Deus.

As primeiras comunidades cristãs, aquelas que fizeram experiência do Cristo ressuscitado, o reconhece e o tem como modelo a ser imitado. Aprendeu com Jesus a também conhecer a Deus, o Pai que o enviou para lhe revelar e para nos possibilitar subir até ele. Jesus é o caminho, diz João, e o caminho, nas escrituras, é a Torá como caminho de Deus.

Aprendemos com Jesus que em seus gestos de cura, de acolhimento, de cuidado, sua atitude é de misericórdia. Ele está sempre no meio da miséria do irmão doando o seu coração. Em seus gestos e palavras Jesus sempre deixava as pessoas perplexas e maravilhadas. Marcos nos mostra como Jesus, através de suas palavras e atitudes ele constitui sua nova família para todos aqueles que fazem a vontade do Pai. Assim, desde o início de sua missão Jesus está à procura de fazer e ajudar as pessoas a fazer o que Deus quer, mas sempre praticando gestos que vislumbra sua humanidade. Ele estava sempre junto do povo, sobretudo, dos pobres, doentes e miseráveis. Estes são testemunhas do seu agir, de ser capaz de se colocar no lugar do outro e aliviar sua dor, o seu sofrimento, a solidão. Encontramos na carta aos Hebreus que Jesus “foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15).

Conscientes de que somos, com o nosso batismo, continuadores das obras de Jesus, o Cristo, todas as vezes que praticarmos seus ensinamentos com os nossos irmãos, preferencialmente os pobres miseráveis, com a comunidade e com a sociedade, bem como atendemos as exigências dos evangelhos, estamos possibilitando a presença visível e misericordiosa de Jesus no meio de nós.
Vejamos os textos que nos ajudam a perceber a presença de Jesus no meio de nós quando essa prática se atualiza nas nossas realidades por meio de cada um do nosso agir:

  • Lc 6,36-38 – Misericórdia e gratuidade e o perdão presente em Mt 18;
  • Lc 7,36-50 – apreendemos desse texto a misericórdia de Deus e a libertação dos pecados estruturais e sociais que geram preconceitos, discriminações e exclusões;
  • Lc 15, 11-32 – Conversão e acolhimento do Amor materno de deus Pai;
  • Lc 4,14-30 – A missionariedade de Jesus com a proclamação da Boa-Nova aos pobres, da libertação aos presos e da salvação para todos.
  • Lc 10,25-37 – Misericórdia e corresponsabilidade
  • Mt 25,31-46 – Misericórdia, Justiça e Solidariedade – obras de misericórdia corporal e espirituais.
  • Jo 20,19-23 – Jesus concede a paz, fruto do espírito.
  • Lc 1,46-55 – Agradecimento de Maria, Mãe de Jesus, a Deus por sua misericórdia e
  • Jo 19,25-27 – Maria ao pé da cruz como testemunha do perdão.

Viver a misericórdia de Deus na vida e possibilitar ao irmão também vivê-la e tornar Deus presente no cotidiano da vida.

Bibliografia
AUTH, Ir. Romi. Fsp. Jesus, o Deus humanizado. Texto
BRITO, Jacil Rodrigues. O Senhor está neste lugar e eu não sabia. Teologia da presença. Teologias Bíblicas 4. São Paulo: Paulinas, 2005.

Neuza Silveira de Souza (Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.



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