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Artigo: A catequese na vivência da misericórdia

O Papa Francisco proclamou o Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia, com o tema “Misericordiosos como o Pai”, conforme o Evangelho de Lucas 6,36. Para o Papa, “misericórdia” é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre (Misericordiae Vultus). A catequese tem como tarefa proclamar essa “misericórdia” a todos os catequizandos, povo de Deus que se coloca no caminho, em busca da Palavra e do Amor divinos.

Percorrendo a Palavra de Deus, tanto no Primeiro Testamento, quanto no Segundo Testamento a misericórdia e a compaixão têm supremacia. No Segundo Testamento temos a Palavra encarnada, o logos, que se revelou em Jesus. É Deus em Jesus, se tornando visível entre nós. Assim, em seu filho Jesus, Deus revela sua face compassiva e misericordiosa.

Em Mateus Jesus nos fala que Deus vê no segredo. Nada passa despercebido a ele. Ele nos convida para a prática da esmola, oração e jejum em segredo. O seu objetivo é que possamos promover a libertação de toda forma de opressão: física, representada nos cegos, econômica, nos pobres, e a política, na libertação dos cativos.

Desde o início de sua vida pública, naquele dia em que entrando na sinagoga fez a leitura de Isaias: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar a libertação dos presos e, aos cegos a recuperação da vista, para restituir liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça ao Senhor” (Lc 4, 18-19).

Considerando todas essas atividades citadas por Jesus, ali estava a sua missão, o seu agir, e foram estas atividades que ele chamou a seus discípulos para executarem-nas. E hoje continua nos chamando. São essas atividades que, quando executadas com amor, deixa transparecer a misericórdia de Deus.

As primeiras comunidades cristãs, aquelas que fizeram experiência do Cristo ressuscitado, o reconhece e o tem como modelo a ser imitado. Aprenderam com Jesus a também conhecer a Deus, o Pai que o enviou para lhe revelar e para possibilitar subir até Ele. Jesus é o caminho, diz João, e o caminho, nas escrituras, é a Torá como caminho de Deus.

Aprendemos com Jesus que em seus gestos de cura, de acolhimento, de cuidado, sua atitude é de misericórdia. Ele está sempre no meio da miséria do irmão doando o seu coração. Em seus gestos e palavras Jesus sempre deixava as pessoas perplexas e maravilhadas. Marcos nos mostra como Jesus, através de suas palavras e atitudes ele constitui sua nova família para todos aqueles que fazem a vontade do Pai. Assim, desde o início de sua missão Jesus está à procura de fazer e ajudar as pessoas a fazer o que Deus quer, mas sempre praticando gestos que vislumbra sua humanidade. Ele estava sempre junto do povo, sobretudo, dos pobres, doentes e miseráveis. Estes são testemunhas do seu agir; Do ser capaz de se colocar no lugar do outro e aliviar sua dor, o seu sofrimento, a solidão. Encontramos na carta aos Hebreus que Jesus “foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15).

Conscientes de que somos, com o nosso batismo, continuadores das obras de Jesus, o Cristo, todas as vezes que praticarmos seus ensinamentos com os nossos irmãos, preferencialmente os pobres miseráveis, com a comunidade e com a sociedade, bem como atendemos as exigências dos evangelhos, estamos possibilitando a presença visível e misericordiosa de Jesus no meio de nós.

Vejamos os textos que nos ajudam a perceber a presença de Jesus no meio de nós quando essa prática se atualiza nas nossas realidades por meio de cada um do nosso agir:

Ex 34,1-9 – Deus se autorrevela a Moisés e este pede perdão pela ruptura da Aliança;
Lc 6,36-38 – Misericórdia e gratuidade e o perdão presente em Mt 18;
Lc 7,36-50 – apreendemos desse texto a misericórdia de Deus e a libertação dos pecados estruturais e sociais que geram preconceitos, discriminações e exclusões;
Lc 15, 11-32 – Conversão e acolhimento do Amor materno de deus Pai;
Lc 4,14-30 – A missionariedade de Jesus com a proclamação da Boa-Nova aos pobres, da libertação aos presos e da salvação para todos.
Lc 10,25-37 – Misericórdia e corresponsabilidade
Mt 25,31-46 – Misericórdia, Justiça e Solidariedade – obras de misericórdia corporal e espirituais.
Jo 20,19-23 – Jesus concede a paz, fruto do espírito.
Lc 1,46-55 – Agradecimento de Maria, Mãe de Jesus, a Deus por sua misericórdia e Jo 19,25-27 – Maria ao pé da cruz como testemunha do perdão.
Viver a misericórdia de Deus na vida e possibilitar ao irmão também vivê-la e tornar Deus presente no cotidiano da vida.

 

Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH

 

Bibliografia
AUTH, Ir. Romi. Fsp. Jesus, o Deus humanizado. Texto
BRITO, Jacil Rodrigues. O Senhor está neste lugar e eu não sabia. Teologia da presença. Teologias Bíblicas 4. São Paulo: Paulinas, 2005.
SERVIÇO DE ANIMAÇÃO BIBLÍCA. Misericordiosos como o Pai. Subsídio Bíblico para o Ano Jubilar da Misericórdia. São Paulo: Paulinas, 2016. 

 

Artigo originalmente publicado no Jornal Opinião e Notícias digital

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