Percorrendo o caminho de evangelização da nossa Igreja podemos ver que muitos frutos foram gerados, principalmente no âmbito das práticas pastorais. Percebe-se uma liturgia renovada e em diálogo com as novas culturas, uma Igreja comprometida com os pobres, diálogo ecumênico e inter-religioso, uma abertura prática para o Ensino Social Religioso.
Um trabalho teológico pastoral com práticas litúrgicas e catequéticas está avivando experiências de ministérios leigos, trazendo novo vigor às atividades da Igreja, no âmbito da missionariedade, do anúncio querigmático. Uma dinâmica de saída como um rio que na sua contínua corrida aviva seu fluxo de águas torrenciais para chegar mar adentro e fazer sua experiência de se agrupar na diversidade das águas do mar e caminharem juntas.
O anúncio querigmático é referência a partir dos escritos do Novo Testamento, quando nos traz a experiência de fé dos primeiros discípulos e primeiras comunidades que, com o coração incendiado proclamavam a Palavra, a exemplo do Mestre Jesus.
A evangelização hoje urge alcançar a meta realizada pelos discípulos de Jesus. Ela espera estar em meio a homens e mulheres, jovens e adolescentes desejosos de inovar a partir da proposta de Jesus. Seguindo o mestre, acolhe seus ensinamentos, a exemplo do que ele disse a Nicodemos: “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5), ou seja, nascer de novo, renascer. Este é o convite que Jesus continua fazendo através da Igreja, que é a continuadora de sua missão.
A realidade atual que nos interpela
A realidade atual deixa transparecer um grande comodismo dos cristãos na vivência da fé. Ela está sempre a nos interpelar, e nos chama a um novo jeito de evangelizar que possa acompanhar as grandes e rápidas mudanças de época. Esse tempo exige de todos os cristãos uma interligação entre fé e vida, ou seja, confrontar a fé com a realidade e se comprometer mais firmemente com a Igreja, lembrando sempre que Igreja significa “um corpo constituído de toda a comunidade cuja cabeça é Cristo”.
A Igreja é o centro de irradiação da vida em Cristo por meio da comunidade de batizados que a constitui. Ela anuncia a todos os ensinamentos de Jesus e ajuda-os a observar o que o Cristo ordenou, fazendo discípulos para o seu seguimento (cf. Mt 28,19). Somos convidados a fortalecer a nossa fé, através da sua educação vista como um processo contínuo e permanente, onde a catequese exerce o seu papel fundamental: de verdadeira orientação de um encontro de pessoas: a pessoa do catequizando com a pessoa de Cristo.
A catequese verdadeira leva à libertação
A catequese proporciona ao catequizando um relacionamento de acolhida das outras pessoas, do mundo de Deus e de responsabilidade própria diante dos desafios que a fé lhe apresenta. Para tanto, de um lado, as pessoas necessitam educar-se, abrindo-se na fé para a mensagem que a catequese oferece. Por outro lado, para que a catequese produza tais frutos, os catequistas necessitam inserir-se em um processo de formação permanente, se comprometer por meio da participação ativa na comunidade e se deixar seduzir pelo Espírito que sopra onde quer, quando quer e como quer.
O anúncio querigmático, em tempos de uma Igreja em saída, missionária, nos ajuda a descobrir novos caminhos e novos métodos para a ação evangelizadora. Necessário se faz abrir espaços para que a Palavra do Evangelho se torne palavra encarnada na vida daqueles que percorrem o caminho e abraçam a fé em Jesus como o Cristo, e o anunciam aos outros.
A Catequese como instrumento de transformação
A catequese necessita ser um instrumento eficaz de transformação, pessoal e comunitária e para isto é importante ao trabalho catequético o conhecimento das realidades humanas e dos agentes nelas envolvidos. Grandes são os desafios da realidade: apresentam problemas de ordem ética, cultural e religiosa, exclusão e miséria, violação dos direitos humanos, agressão á vida e à natureza e indiferença religiosa. No campo religioso há o desafio da diversidade de expressões com o catolicismo e o protestantismo, no pluralismo de culturas e várias outras crenças.
Ao evangelizar, exigem-se dos agentes de educação da fé a formação, muita atenção á diversidade de prática religiosa, respeito, abertura sincera e solidariedade. Só assim a catequese pode fazer ecoar a Palavra de Deus, os ensinamentos de Jesus e produzir bons frutos, diante da diversidade.
As exigências de uma catequese efetiva e eficaz
Percebendo essa realidade a Igreja nos convida à realização de uma catequese mais efetiva e eficaz. Várias são as exigências: Uma formação catequética, metodológica, bíblica, querigmática e doutrinária, para atender à comunidade na sua diversidade. Oferece-nos, a partir de um modelo inspirador de catequese das primeiras comunidades um jeito de catequizar que hoje ela chama de Iniciação à Vida Cristã; a realização de um bom trabalho pastoral com o efetivo envolvimento da comunidade, estar atentos às características de “comunidade cristã”, que são:
a) escuta orante da Palavra de Deus – Fonte da catequese (DNC 106);
b) vivência litúrgica (DPLS 98 a 122);
c) solidariedade e amor fraterno;
d) engajamento na transformação social.
Segundo as Diretrizes do Processo Catequético na Arquidiocese de Belo Horizonte e, a partir de várias outras orientações em documentos como: Catequese Renovada, Diretório Nacional de Catequese, Ad Gentes, Catechesi Tradendae, Documento de Aparecida, a catequese precisa desenvolver um projeto catequético que acompanhe e eduque a fé das pessoas, contemplando todas as etapas do seu crescimento humano-espiritual: crianças, adolescentes, jovens, adultos. Estar sempre atentos á caminhada da Igreja que nos oferece pistas de boa ação.
Continuarmos na caminhada é preciso. As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019 – 2023) nos mostra que caminhos podemos seguir para o cumprimento da tarefa catequética e missionária, e como responder aos desafios atuais.
As Diretrizes nos colocam em um campo imaginário sobre a construção de uma casa que nos interpela para o seu significado de ser, ao mesmo tempo, lugar de acolhimento e envio. Uma casa que acolhe em sua realidade, a comunidade. E, ao mesmo tempo uma casa que envia missionários. E tudo se torna possível à medida que a casa tenha bases fundamentadas na fé e pilares de sustentação como: a Palavra, o Pão, a Caridade e a Ação missionária.
Que em todo esse percurso, que com certeza a catequese se propõe a realizar, tenhamos nossos corações incendiados pelo amor do Mestre Jesus. Um coração capaz de arder com as palavras do mestre, a exemplo dos discípulos de Emaús que, ouvindo-o, não conseguiram ficar em casa, parados, e retomaram o caminho para a evangelização.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano
Bíblico-Catequético de Belo Horizonte