Arte, um tema que se tornou pauta do nosso cotidiano, como vemos nos noticiários. Mas qual a definição de arte?
No Catecismo da Igreja Católica, encontramos uma definição que muito pode nos ajudar na compreensão da importância e da beleza da arte, e sua contribuição social e histórica:
“‘Criado à imagem de Deus’, o homem exprime também a verdade da sua relação com Deus Criador pela beleza das suas obras artísticas”.
A arte é, com efeito, uma forma de expressão especificamente humana. Para além da busca da satisfação das necessidades vitais, comum a todas as criaturas vivas, a arte é uma superabundância gratuita da riqueza interior do ser humano.
Fruto do talento dado pelo Criador e do esforço do próprio homem, a arte é uma forma de sabedoria prática, unindo conhecimento e habilidade para dar forma à verdade duma realidade, em linguagem acessível à vista ou ao ouvido.
A arte comporta assim uma certa semelhança com a atividade de Deus no mundo criado, na medida em que se inspira na verdade e no amor dos seres.
“Como qualquer outra atividade humana, a arte não tem em si mesma o seu fim absoluto; mas é ordenada e enobrecida pelo fim último do homem” (CIC – n.2500).
Sendo a arte “uma forma de expressão especificamente humana” e uma “superabundância gratuita da riqueza interior do ser humano”, muitas vezes aquilo que tem sido chamado de “arte” é, na verdade, o seu sequestro, pois fica longe de se cumprir estas duas definições.
Sendo “fruto do talento dado pelo Criador e do esforço do próprio homem”, algumas coisas que chamam de “arte” se encontram longe da expressão do talento dado pelo Criador, até mesmo, em execrável oposição e ironia, vilipendiando a dimensão do sagrado.
Sendo uma forma de “sabedoria prática”, que une conhecimento e habilidade para dar forma à verdade de uma determinada realidade, envolvendo nossos sentidos, algumas manifestações chamadas de “arte”, ao contrário, não revelam absolutamente nada de sabedoria, ou até mesmo revelam seu sepultamento, longe de elevar nossos sentidos.
Não tendo a arte um fim absoluto, ela deve contribuir para o enobrecimento do fim último do homem, que podemos traduzir, na criação de uma relação nova entre as pessoas, da elevação do espírito, da promoção da dignidade e sacralidade da existência humana. No entanto, algumas coisas que chamam de “arte” muito mais contribuem para o empobrecimento do espírito, numa falsa liberdade de expressão, que nada absolutamente contribui para que as diferenças respeitadas se tornem riquezas.
E neste sentido, ainda temos um longo aprendizado para que trilhemos caminhos que nos levem ao encontro com o outro, em sua diferença, mas com o devido respeito, que jamais pode ser ignorado.
Concluindo, a arte em muito pode contribuir para a elevação do espírito humano, a fim de que nos relacionemos mais fraternalmente, desde que ela não seja por nós sequestrada, até mesmo no mau uso de seu nome e função.
Dom Otacílio Ferreira de Lacerda
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte