Intercâmbio de sacerdotes entre as comunidades de fé favorece ainda mais a evangelização
Um intenso movimento missionário marca a realidade da Arquidiocese de Belo Horizonte neste início de ano. Muitos sacerdotes, após realizarem importantes trabalhos pastorais, deixam as comunidades de fé onde, até então, estavam inseridos, para assumirem novos desafios. As mudanças contribuem ainda mais para a troca de experiências e para a integração de todo o território da Arquidiocese de Belo Horizonte, conforme explica o arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo. “Agradeço de coração todos os sacerdotes que, diante de mudanças tão significativas, acolheram com entusiasmo os novos desafios. Peço às comunidades de fé que acolham com alegria os padres que estão chegando e continuem empenhadas no anúncio do Evangelho da Vida”, destaca dom Walmor.
Os padres abraçam com humildade e determinação o novo trabalho, que foi confiado a eles pelo Arcebispo. Assumem a itinerância própria de quem escolheu se doar para anunciar ao mundo a Palavra de Deus. Para o padre José Marcilon da Silva, que deixou a Paróquia Nossa Senhora do Pilar (Nova Lima) para tornar-se pároco do Santuário Arquidiocesano Santo Antônio de Roça Grande (Sabará), ir ao encontro de outras comunidades de fé está na essência da vida sacerdotal. E o momento de seguir em frente inclui um delicado trabalho de desapego, que envolve o sacerdote e os evangelizadores leigos. “Eu me apego rápido às pessoas e às comunidades e abrir mão do convívio diário não é fácil. Contudo, é um exercício de amadurecimento espiritual, de desapego, do qual não podemos abrir mão quando assumimos a missão maior de sermos evangelizadores”, afirma o sacerdote.
Da direita para a esquerda: padre José Marcilon, dom João Justino, padre André Lage e Padre José Emídio, na celebração que marca o início do ministério dos sacerdotes no Santário Arquidiocesano Santo Antônio de Roça Grande
Padre Marcilon, que é vigário da Região Episcopal Nossa Senhora da Piedade (Rensp), diz que é importante orientar a comunidade sobre a importância das mudanças, explicando qual é a missão do padre no contexto da Igreja. “Nossa tarefa é servir o Povo de Deus como um todo. Não pertencemos aos lugares, às pessoas, nem a nós próprios, pois nos dedicamos integralmente à Igreja e ao anúncio da Palavra. Quando o Arcebispo nos pergunta se aceitamos mudar para outra comunidade de fé e nós respondemos positivamente é porque temos a clareza de que não pertencemos a um lugar específico”, ensina o Vigário da Rensp.
Com a saída do padre Marcilon da Paróquia Nossa Senhora do Pilar, assumiu o ministério de pároco desta comunidade de fé o padre Célio Domingos Xavier, que era titular da Paróquia São Gonçalo (Contagem). Padre Célio, recebeu a notícia da nova missão, dentro de uma filosofia de “viver cada dia como único momento e saber que só Deus pode nos dar a graça de trazer o passado para o presente para e ressignificar o futuro”. Ele acredita que a mudança ajuda a viver uma igreja que é corpo de Cristo, e recorda o capítulo 10 versículo 8 da Carta aos Hebreus – “Não quisestes sacrifício nem vítima, mas formastes um corpo”.
“Às vezes ficamos muito apegados a nós mesmos que temos medo do novo, e o medo vai nos atrofiando. É necessário pedir ao Senhor que nos dê a força da vigilância, da cura do coração, para que nosso coração fique desperto, e não tenhamos medo de prosseguir. E nesse processo bonito de transformação, vamos aprendendo a sermos cristãos-presbíteros: cristãos, porque nós fazemos parte do sacerdócio comum dos fiéis, e presbíteros, porque somos parte de um ministério presbiteral, de uma comunidade que é o clero” – explica.
O sacerdote ressalta que o presbítero não é sozinho, ele é com o bispo, no presbitério e que o presbitério não pode ser ferido; “tem de ser o lugar da nossa alegria, do nosso respiro, tem de ser o lugar do respiro da alma do sacerdote”.
Ao avaliar as mudanças que caracterizam a vida do sacerdote, diz que elas contribuem para a vivência da Igreja que é “corpo de Cristo”. “Aprendemos a ser melhores. Não melhores ‘do que’, mas ‘melhores para’; melhores para Deus, para a Arquidiocese. Penso que esse é o caminho”, avalia.
Disponibilidade para a missão
Padre Aureo Nogueira de Freitas assumiu novo desafio e agora é reitor do Samtuário Arquidioc esano São Judas Tadeu |
Vigário Episcopal para a Ação Pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte, padre Aureo Nogueira de Freitas deixou a Paróquia Santíssima Trindade (bairro Gutierrez) para servir como reitor do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu (bairro da Graça). O sacerdote sublinha que o ministério do presbítero requer disponibilidade para a missão. “Fomos ordenados para atender à necessidade do povo de Deus, onde há demanda missionária”, argumenta. A perspectiva de transitoriedade na missão do sacerdote, segundo padre Aureo Nogueira de Freitas, inspira-se no exemplo de Cristo e dos apóstolos, que se colocavam sempre a caminho, constituindo comunidades, anunciando a Palavra. Também está em consonância com o que Papa Francisco tem pedido a partir da sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, em que propõe uma ‘Igreja em saída’. “Quando isso acontece, ganham o presbítero e a comunidade, porque a dinâmica da novidade, da abertura, revigora o coração do padre e dos fiéis na perspectiva da alegria missionária”. O reitor do Santuário São Judas Tadeu explica que ao mudar de comunidade de fé o sacerdote compreende melhor que a Igreja, além do âmbito paroquial, refere-se a um contexto de comunhão mais amplo. “É o que o Documento de Aparecida e o Papa Francisco nos pedem. A comunidade não deve ficar centrada na figura do padre, é preciso tomar consciência de que o centro é o Cristo”, reflete o presbítero.
Quem estava à frente do Santuário São Judas Tadeu até o início deste ano é o padre Joacir Alves Antunes, que agora é Pároco da Paróquia Cristo Operário (bairro Planalto). Na nova missão, além de coordenar as ações desta importante comunidade de fé, o sacerdote dedica-se aos trabalhos de evangelização desenvolvidos na Tenda Cristo Rei, que fica no canteiro de obras da Catedral Cristo Rei. Em seu novo trabalho pastoral, o sacerdote conta com a participação de religiosos e evangelizadores leigos. Padre Joacir afirma que as comunidades de fé da Paróquia Cristo Operário reúnem muitos jovens e casais empenhados no trabalho da Igreja. Sobre as mudanças na vida do sacerdote, o pároco acredita que não se trata somente de uma solicitação feita pelo Arcebispo. “Existe uma ação de Deus que nos convida a ir ao encontro do outro”, explica, argumentando: “Penso que nós, padres, somos homens da missão e devemos estar disponíveis ao chamado de Deus. E se Ele me pediu para sair do Santuário é porque tem uma missão à minha espera na Paróquia Cristo Operário.”
Agora pároco da Paróquia Cristo Operário, padre Joacir Alves Antunes empenha-se também nos rabalhos de evangelização da Tenda Cristo Rei, no canteiro de obras da Cateral Cristo Rei |
Padre Joacir percebe que essa itinerância cria oportunidade para que as comunidades se ajudem: “Compartilhei com os fiéis do Santuário São Judas Tadeu que essas experiências me mostraram, na prática, que a Igreja é maior que a paróquia a que pertencemos e lhes disse que, diante de alguma necessidade, os chamaria para ajudar. A gente, às vezes, se fecha na paróquia e esquece que existe uma comunidade de fé maior do que aquela que está diante dos nossos olhos. O horizonte de Deus é muito mais amplo”.
Desafios para um jovem sacerdote
Padre Raphael Eustáquio do Carmo vive, este ano, a primeira experiência de mudar para uma nova comunidade de fé, na condição de presbítero. Ainda seminarista, passou a residir na Paróquia Dulce dos Pobres, no Aglomerado da Serra, onde auxiliava o pároco, padre Wagner Calegário de Souza. Há um ano foi ordenado padre e passou a trabalhar como vigário paroquial. Agora, dá continuidade ao seu ministério na Paróquia São João Bosco, bairro Dom Bosco. Além disso, atuará como formador no Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus, na etapa do propedêutico.
O jovem sacerdote explica que ao receber o chamado para seguir para outra comunidade pensou nos bons laços de amizade conquistados ao longo do período que coincidiu com a criação da Paróquia Dulce dos Pobres. “A comunidade estava ansiosa por um cuidado pastoral mais próximo e nós celebrávamos alegremente. Um momento especial que permanecerá no coração de todos. No entanto, precisamos compreender que somos peregrinos. O nosso lugar é onde o senhor nos indica, onde a Igreja precisa. Isso só faz crescer a consciência de que somos um corpo de irmãos, e como batizados somos família.”
Padres religiosos
O jovem sacerdote Raphael Eustáquio do Carmo levará a experiência adquirida na Paróquia Bem-Aventurada Dulce dos Pobres para a vivência de um novo desafio: ser formador do Seminário Coração Eucarístico de Jesus |
Diferentemente do que ocorre com representantes do clero diocesano, que mudam de paróquias e assumem novas missões a partir da orientação do Arcebispo, os sacerdotes religiosos tem carisma específico. Eles fazem parte de ordens, congregações e outros grupos de vida consagrada. Assumem novas missões a partir da orientação dos superiores destas comunidades, com presença em diferentes estados e países. Por isso, não raramente, o sacerdote de comunidade religiosa pode deixar o território da Arquidiocese de Belo Horizonte. É o que aconteceu com o padre redentorista José do Carmo Zambom, que foi pároco da Paróquia São José, no Centro de Belo Horizonte, e agora assume nova missão na cidade de Campos (RJ). “O espirito das congregações é esse. A gente está sempre mudando. Comigo sempre foi sempre assim. Passei pelo Norte de Minas, pela periferia de Vitória (ES), pelo Vale do Aço (MG) e por Belo Horizonte. Mas creio que sacerdotes e comunidades saem ganhando.” Padre Zambom afirma que em relação ao povo, em todos os lugares por onde passa, ensina às pessoas que o aprendizado adquirido com o padre anterior, irá somar-se ao aprendizado com aquele está chegando.
Também a partir da orientação de seus superiores da Ordem Agostiniana, frei Luiz Antônio Pinheiro assumiu novas responsabilidades. Além de acompanhar a sociedade mantenedora da Ordem e trabalhar na pastoral de suas instituições, o sacerdote agostiniano foi nomeado como pároco da Paróquia Nossa Senhora da Consolação e Correia (bairro Santo Agostinho, BH). Para viver esses novos desafios, teve que deixar a Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida, onde foi vigário. “Quando somos ordenados sabemos que nossa presença nos lugares é temporária, permanecemos conforme a necessidade pastoral”, explica o religioso.