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Aprendendo a amar

Durante a semana pôde-se observar movimento atípico no comércio. Desde as lojas de bairros aos maiores shoppings comemorou-se o bom faturamento. Nessa quarta- feira 12 de junho, dia D dos casais enamorados, restaurantes, bares e cinemas foram envolvidos pelos ares do romantismo.  Um ritual incenti- vado pelo comércio, que todos os anos pega carona nos sentimentos dos mais apaixonados.

Mas, na realidade, o que se celebra no dia dos namorados? As diferentes respostas revelam a maneira como se encara o namoro. E nenhuma delas dá conta completa da experiência do namoro, mas traduz aspectos diversos.

A etimologia remete-nos à palavra amor. Sentir-se en-amor-ado, traduz a experiência do envolvimento por nova forma de amar. Na família aprende-se a amar os pais e estes os filhos. Se vêm vários filhos, surge o amor de irmãos. A origem do amor humano chama-se família.
        

O namoro torna-se escola do amor. Trilha-se o duro tirocínio do confronto consigo e aprende-se a conhecer as reações alheias.

O namoro põe o jovem diante de dupla diferença. Já não se vincula com pessoas do próprio sangue. Surge a distância que manifesta em muitos pontos: outra família, outras experiências, outra diversidade de educação etc. A surpresa traz benefícios e problemas para o amor. Medo, timidez ou o outro extremo do arrojo, de lançar-se em situações estranhas com os riscos de imprevisibilidade dos resultados.
        
A diferença de sexo gera atrativos e temores. De novo, os sentimentos variam, oscilam, alternam. Ora, os dois se aventuram por formas novas de amar. Alguns chegam até a relação mais íntima com os riscos inerentes de gravidez, de temor da reação dos pais, de quebra da própria imagem até a rejeição de si. Os sentimentos se confundem. E o conceito de amor se identifica, não raro, com a busca do próprio prazer, perdendo a dimensão fundamental de dom de si.

Outra versão de namoro caminha por plagas diferentes. Tem-se claro o caráter inicial. Embora a paixão incendeie os dois, eles sabem que carecem de tempo para chegar até realmente ao que significa amar. Não se testou ainda a capacidade de um ser para o outro, não somente nas horas prazerosas, mas também nos momentos de limite, de privação, de renúncia, de perdão.
       

A pós-modernidade tem dificultado a clareza do namoro. Ela propaga a concentração no próprio prazer e o que vem depois já não interessa.

O namoro torna-se escola do amor. Esta supõe processo gradativo. Não se começa com obtenção de títulos, de glórias fáceis. Antes trilha-se o duro tirocínio do confronto consigo e com o outro nas diferentes situações. Aprende-se a conhecer as reações alheias nas diversas facetas. Implica analisar serenamente os próprios sentimentos para entender melhor a relação. A paixão obceca a mente. Não permite que conheça a mútua realidade e a relação entre os companheiros. O primeiro colorido do amor não dura muito. Se se prende a ele, logo virão as frustrações.
       

O mundo das figuras midiáticas, das novelas reais e televisivas obscurece a compreensão do quadro existencial do relacionamento. A pós-modernidade tem dificultado muito a clareza do namoro. Ela propaga por todos os lados a concentração no próprio prazer presente. O que vem depois já não interessa. Aguarda-se cada momento como totalidade díspar. Não importa o que virá depois. Põe-se no lado oposto da filosofia que define e entende o amor como desejo de eternidade. Mais: ele faz, quer e é eternidade. Portanto, só se compreende num relacionamento pensado como definitivo. E o namoro seria a escola de treinamento para conhecer e praticar a definitividade do amor. Toda vez em que se percebe que ele não existe nessa condição, o namoro decreta o seu fim. Que se celebre o namoro como a grande escola para o amor como dom de si!

 

Pe. João Batista Libanio, SJ
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)

       

 



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