Encontramos na Bíblia, desde as suas primeiras páginas, diversos conselhos e exortações que assumem caráter normativo para a nossa vida cristã. Nesses escritos, além das várias leis que culturalmente ajudam as pessoas a viver bem nas comunidades, na sociedade, no cotidiano de cada um, também existem aquelas que tiveram suas formulações legais, de acordo com o contexto no qual as pessoas viviam com seus conflitos advindos das relações entre as pessoas e entre elas e Deus. Estes textos legais são os chamados de Códigos.
Vamos fazer uma visita às Escrituras para conhecê-los melhor?
Na Bíblia temos o Código da aliança em Ex 20,22-2319. Este Código foi a primeira tentativa de concretizar a legislação antiga. A aliança é o seu grande e necessário contexto. Ela perpassa toda a Bíblia buscando a concretização da “comunhão com Deus na existência do povo simples e humilde de Israel”. Seu conteúdo contempla as mais diversas situações concretas da vida do povo. Este código está interligado com o Decálogo, ou seja, os dez mandamentos que se encontra em Ex 20,1-17.
Nestes mandamentos nós encontramos a declaração de amor de Deus por nós. Ele se diz nosso, é ciumento. Embora puna as iniquidades daqueles que o odeiam até a quarta geração, também é capaz de amar até a milésima geração aqueles que o amam e guardam os seus mandamentos.
Código Deuteronômio – Dt 12-26
O Código Deuteronômio é considerado uma edição revista e ampliada do Código da Aliança, no sentido de adaptar as respectivas leis para novas realidades sociais e econômicas que se fazem necessárias dado o novo contexto na história. Trata-se do período do final do século VII aC., e vai servir como uma espécie de Constituição para o governo do Rei Josias. A principal radicalização no Código Deuteronômio se dá com a centralização do culto em Jerusalém.
O Código Sacerdotal – LV 17-26
Para o cristão, as leis das Escrituras devem ser interpretadas considerando os ensinamentos de Jesus Elas ganham novo sentido mantendo seu objetivo essencial de servir à vida promovendo o bem |
Os sacerdotes também vinham legislando desde antigamente e suas leis acabaram sendo reunidas num Código chamado por alguns de “Lei da Santidade”. Estas leis inspiram-se na teologia do ‘Deus santo’ que diz: ‘sede santos, porque sou santo’ (Lv 2,7.8; 22,17 etc.). Neste Código encontra-se uma variedade de conteúdos: trata dos alimentos comestíveis e não comestíveis; da pureza exigida para o culto ritual; do sangue dos animais; das relações sociais; dos cultos proibidos; das pessoas, tempos e lugares sagrados, do uso do nome divino.
Numerosos indícios permitem precisar o meio no qual essa lei se originou: trata-se de uma codificação de costumes e de práticas ligadas ao santuário de Jerusalém e centradas no culto e na instituição sacerdotal. Na participação das festas e dos ritos, na entrega da melhor oferta para Deus, somos chamados à santidade. É ele que nos santifica.
Também encontramos no Código de Santidade mandamentos acerca dos pais: devem-se honrar pais que ficaram velhos.
O mandamento nos orienta para o respeito com os mais velhos. Um mandamento iluminado pelo que diz a lei em Levítico 19,32: “Levanta-te diante de uma cabeça escarnecida (cabeça branca), honrarás a pessoa do ancião e temerás o teu Deus. Eu sou Iahweh”. Em Provérbios 16,31, cabelos brancos é uma coroa de honra que é encontrada no caminho da justiça. Provérbios 20,29 justapõem jovens e velhos: “A beleza dos jovens é o seu vigor, e o enfeite dos velhos, suas cãs (seus cabelos brancos)”.
Essas leis são um chamado para a nossa sociedade atual onde não mais encontramos o respeito e a valorização da vida do ser humano idoso, a valorização da família como o lugar decisivo onde a vida é dada e preservada, até como lugar onde a vida acontece no seu sentido mais autêntico.
O amor a Deus encontra sua expressão prática na atitude de o ser humano obedecer aos mandamentos, ser fiel às prescrições.
Para o cristão, as leis das Escrituras devem ser interpretadas considerando os ensinamentos de Jesus. Elas ganham novo sentido mantendo seu objetivo essencial de servir à vida promovendo o bem. Vamos continuar essa reflexão no próximo encontro.
Celebrando nesses dias a festa de Cristo Rei com a passagem de um ano litúrgico a um novo que surge, vamos preparando-nos para as novas experiências que renovam o nosso viver em Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH