Às vezes acontecem coisas estranhas. Ao passar por um lugar, por onde passamos centenas de vezes e, de repente, ele parece ser diferente, novo, cheio de significados que sequer imaginávamos. É o assombro, a contemplação, o encantamento… A admiração é a irmã da fé. É o grito cheio de surpresa que brota do mais profundo do nosso ser diante do “mistério” que nos envolve e nos escapa.
Mistério: termo que remete a myo, fechar os lábios, quando a pessoa leva a mão à boca para se calar e cede lugar ao ouvir e ao silêncio. É docilidade à audição da voz que nos habita; é o sussurro que vem da realidade e das coisas, despertando nosso ser para o espanto, para a maravilha e para o milagre.
Mistério significa a percepção de algo escondido de uma realidade não-manifestada e não-comunicada. Neste sentido se pode dizer que a vida humana, as pessoas com quem convivemos, a realidade que nos cerca, o universo, a história são mistérios para nós. Tudo é mistério.
Diante do mistério que desperta a admiração, somos convidados a enxergar além das aparências, a adquirirmos outro olhar sobre a realidade, a vida e as pessoas |
Mistério não se opõe a conhecimento, não é o que não se pode conhecer de algo. Refere-se, antes, a algo que pode ser conhecido, mas o nosso conhecimento nunca consegue apreender sua totalidade. É o ilimitado do conhecimento. Conhecer mais e mais, entrar em comunhão cada vez mais profunda com a realidade que nos envolve. Portanto, a palavra mistério se refere mais à inesgotabilidade da realidade do que à nossa incapacidade de conhecimento. Daí que a atitude diante dessa realidade é a do silêncio, da admiração e do espanto.
O mistério nos mantém sempre na admiração até ao fascínio, na surpresa até a exaltação. É a capacidade do ser humano de se comover diante do mistério de todas as coisas. Não é pensar as coisas, mas sentir as coisas tão profundamente que percebemos o mistério fascinante que as habita.
O mistério não diz respeito a teorias, a doutrinas; diz respeito, antes, a uma experiência, uma vivência que nos invade e nos conduz para caminhos novos. Diante do mistério que desperta a admiração, somos convidados a enxergar além das aparências, a adquirirmos um outro olhar sobre a realidade, a vida e as pessoas. William Blake, poeta inglês, escreveu: “Ver um mundo num grão de areia, um céu estrelado numa flor silvestre, ter o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora”.
O mistério irrompe como voz que convida a escutar mais e mais a mensagem que vem de todos os lados como apelo sedutor para nos mover mais e mais na direção do coração de cada coisa. Ele pertence a uma dimensão humana à qual todos têm acesso quando vivem em profundidade e conseguem penetrar nos níveis mais profundos da vida. Eis a plenitude da vida: mergulhar naquela Presença benfazeja que nos enche de sentido, de alegria e nos surpreende a cada momento, sorrindo entre as coisas.
Exercício Espirituais 60
Textos bíblicos: Lc 7,1-10 / Lc 10,21-24
Fonte: Centro Loyola de Espiritualidade
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