Provocativa é a mensagem bíblica que chama a atenção: “que todo mundo nos considere… administradores dos mistérios de Deus” (I Cor 4,1). Um desafio do tamanho do mistério! Ao mesmo tempo, um convite um apelo, um caminho possível., Na verdade, não é o que comumente experimentamos, se considerarmos que boa parte das pessoas que nutrem práticas religiosas, se veem distantes de Deus, ou cultivam a noção de um Deus fora da história, “todo-poderoso”, juiz e controlador. Obviamente, fruto de uma catequese e de práticas religiosas desconectadas da realidade e da vida. O que resulta numa experiência de Deus inacessível, intocável, inatingível. Ora, como ser administradores dos mistérios de Deus se nos vemos tão diferentes e distantes?
A vida, por si só, é um mistério. Nossa origem é mistério |
A vida, por si só, é um mistério. Nossa origem é mistério. O presente e futuro são mistério. Deus é e será sempre mistério. Mas, isso não significa que nem a vida, nem o presente, o futuro ou mesmo Deus sejam, por isso, inacessíveis, intocáveis. É que a noção de mistério envolve, sim, uma dimensão escondida. Mas, ao mesmo tempo, uma dimensão que se revela. O mistério de cada coisa, pessoa, divindade e tempo possui essa dualidade saudável: escondido e revelado. Portanto, diante de cada realidade que se nos apresenta, provavelmente seremos capazes de captar algo dela, um aspecto ou uma dimensão. Podemos até captar uma grande parte dessa realidade, porém, sempre haverá algo inatingível, inexplicável. E essa é a graça da coisa! Um acontecimento pode não ser compreendido na sua totalidade. Será preciso tempo, distância, observação, experiência, para se chegar a um sentido. Assim mesmo, nunca será pleno, completo. Pode ser até satisfatório e um estímulo a seguir adiante, mas sem esgotar a profundidade que tal realidade revela.
Então, como ser administradores dos mistérios que a vida oferece? O primeiro passo está na compreensão dessa dualidade inerente ao próprio mistério. Não se pode querer esgotar todo o sentido de uma coisa, acontecimento ou pessoa. Por outro lado, não se pode abandonar a busca, pela aparente dificuldade que o mistério possui. O segundo aspecto é estar atento, prestar atenção. Isso supõe uma educação dos sentidos se deseja captar suas dimensões. Se não há atenção e sensibilidade dificilmente se descobrirá sentido em alguma coisa.
Outra dimensão é a atitude de reverência ante o mistério. Ao descobrir algo nele e ao se dar conta de que muito ainda permanece escondido, precisamos nos “curvar”, “ajoelhar” diante dele e acolhê-lo.
Finalmente, resta-nos administrar, em cada momento, o que se apresentar a nós. Como nunca sabemos o tamanho e a profundidade das experiências, resta-nos cultivar a leveza e a simplicidade como forma de abraçar o mistério de todas as coisas.
Vanderlei Soela
Graduado em Psicologia e Pedagogia. É Mestre em Aconselhamento
Pastoral e especialista em Gerenciamento de Projetos
Atua como professor de Gestão de Pessoas, Ética, Liderança e Equipes, Sustentabilidade e Espiritualidade.
Autor de livros e artigos de psicologia, gestão e espiritualidade