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Aceitação do inaceitável

 

O cheiro é sempre ruim. Tão ruim que a gente pode acabar se acostumando. E talvez esteja ai o maior perigo. A tentação de ceder ao cansaço e aceitar o inaceitável é forte. Pouparia indignação, energia, desgaste emocional. Mas confundiria noções muito diferentes.

Frequência não é normalidade. O número de vezes em que ações inaceitáveis são praticadas não as faz mais aceitáveis. Não as torna normais. Não as transforma em exemplo a ser seguido. Não as torna normal. Delitos são delitos. Apenas isso.

O passado também não justifica o futuro. Talvez o explique. Mas somente isso. Justificar ações presentes baseadas nos padrões passados, na melhor das hipóteses, projeta no futuro os vícios do passado sem corrigi-los. Na pior hipótese, elimina a responsabilidade ao transferi-la a outras épocas e pessoas. E, sem responsabilidade, acaba o maior incentivo para a boa conduta.
Práticas aceitas podem ser de fato, práticas inaceitáveis. Espalhar lama por todos os lados não resulta na purificação dos enlameados. Gera ou revela apenas que a sujeira é grande. O que todo mundo faz não é necessariamente o certo. O tamanho da multidão que pratica delitos não é atenuante.

São explicações que mascaram o cheiro ruim. Mas não os eliminam. Anestesiam os sentidos na esperança de que seja passageiro. Ignora sem a eliminação da fonte, o cheiro continuará existindo. Narizes insensíveis colaboram para a aceitação de padrões inferiores. E futuro pior.

Ao fim e ao cabo, aceitar explicações insatisfatórias pode ser conveniente em curto prazo. Evita o trabalho e o desastre de consertar os erros do presente e do passado. Mas perpetua e multiplica os problemas. Torna o inaceitável, norma. Transforma o otimismo em coisa de quem ainda não soube das notícias.

 

Elton Simões
formado em Direito (PUC);
Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD),
Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria)



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