O belo mosaico do Cristo Pantocrator de Cefalú (Secília)
O Natal, enquanto celebra a encarnação do Verbo a partir de uma abordagem superficial, é uma festa que pode polarizar e levar-nos a uma compreensão redutiva do tempo do Advento, como período de exclusiva preparação para a vinda histórica de Jesus, celebrada em 25 de dezembro. Neste caso, esqueceríamos a riqueza das duas primeiras semanas do Advento, desconsiderando o seu caráter escatológico (relativo ao fim). Nestes domingos iniciais, o coração e o olhar da comunidade são orientados para aquela segunda vinda de Jesus. Aquele que cumpriu as promessas feitas ao povo da antiga aliança, há de cumprir a promessa de voltar com sua glória e poder. Ele é o Kyrios (o Senhor), juiz dos vivos e dos mortos, o vencedor da morte.
Esse “primeiro Advento” que nos abre o Ano Litúrgico faz-nos olhar para o fim, fortalecendo a vocação da comunidade para a expectativa. As leituras chamam a atenção para a vigilância, voltando-nos para a imagem de Cristo, aquele que é o vigilante em sentido maior e pleno, pois na sua ressurreição ergueu-se do sono da morte. A ressurreição é, pois, sua maior vigilância. Vigiam com ele os que foram feitos participantes do seu mistério pascal e que não se deixam levar pelo sono da morte, gerada pelo pecado, pela maldade, pela indiferença e por tudo aquilo que se fecha para o reinado de Deus.
A iconografia tratou de representar o Cristo Panto-crator (Senhor do universo), de uma maneira curiosamente bela. Evoca o texto de Jeremias 1,11-12, onde o profeta é convidado a contemplar uma amendoeira, palavra que em hebraico pode também ser entendida como “Vigilante”. Nos ícones, Jesus está sentando em seu trono, por sua vez, dentro de um contorno que sugere a forma de uma amêndoa. Ele é o vigilante por excelência, pois não foi tragado pelo sono da morte. Não dorme e nem cochila o vigia de Israel.
A liturgia nos propõe a atitude de vigilância para aguardar a vinda do Senhor. Nós, como vigilantes, buscamos as coisas do alto onde está Cristo sentado à direita de Deus (1Col 3,1ss). Assim não dormimos, pois libertados do sono das trevas e do pecado preparamo-nos para a chegada do Amado. Apressamos a sua vinda pela ansiosa e operosa espera na prática da justiça, na oração e no testemunho da fé. A liturgia dos dois domingos iniciais nos insere neste espírito de atenção ao Senhor que vem a nós. Ser vigilante é ser ressuscitado com Cristo, antecipando à doce visão do presépio e da encarnação do Verbo, do Cristo glorioso, como nosso juiz e Senhor.
Pe Danilo César
Liturgista