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“A revelação de Deus acontece com o nosso caminhar”, artigo de Neuza Silveira

Deus se revela agindo. Faz dos seus passos, nossos passos. Foi assim desde o princípio. Caminha conosco e juntos construímos nossa história de vida. Nesse sentido, para a fé cristã é fundamental a mediação histórica. Jesus, na teologia cristã, é reconhecido como a Palavra de Deus. Ele é a comunicação definitiva do Pai com a humanidade. Ele se torna a Palavra que resume todas as palavras. Sua vida não é uma invenção. E o Cristo ressuscitado não foi uma criação.

Ele é a Palavra que, desde o início, se apresenta à humanidade como comunicação divina, que chegou pela boca dos profetas e dos Apóstolos e, ainda, por todos aqueles que ele escolheu e chamou para dialogar com o mundo. É a nossa tradição oral, pois nem tudo que foi falado e vivido foi escrito.

A palavra que se encontra na Sagrada Escritura é o registro, nas suas formas bem elaboradas, da vivência de fé do povo de Deus. São Palavras de Deus que foram colocadas por escrito sob a inspiração do Espírito Santo. Deus, agindo na força do seu Espírito, fez com que todas as palavras inspiradas fossem direcionadas para o seu Filho, Jesus Cristo.

A Palavra de Deus é aquela anunciada e celebrada na liturgia da Igreja. Na liturgia, a Palavra torna-se sinal e instrumento eficaz de salvação na vida das comunidades cristãs. Quando se leem na Igreja as Escrituras é Cristo mesmo quem fala e o povo responde com seus cânticos e orações. Através do amor de Deus somos partícipes de sua vida e interlocutores de seu projeto de salvação.

Deus vai se revelando gradualmente, e de várias formas, nos fatos e acontecimentos da vida. Deus vai se mostrando quem ele é através do seu agir na história da salvação. Começou a se mostrar a partir da obra da criação. Por meio das várias etapas da história da salvação, Ele foi se dando a conhecer até chegar o momento em que Ele se revela plenamente em Jesus Cristo. Em Jesus, Deus se manifesta para o ser humano e nos mostra como deve ser a humanidade para Deus. A encarnação é a manifestação definitiva de Deus entre nós.

No tempo de Jesus, os Apóstolos e seus discípulos puderam aprender com ele e receber dele a mensagem de salvação, bem como a missão de pregar o Evangelho ao mundo inteiro como testemunhas e fiéis colaboradores da sua obra redentora. Sua missão começou logo após saber da prisão de João Batista. Jesus entra em ação se apresentando como luz para o povo que vive na incerteza e na dúvida e anunciando a chegada do Reino, que traz uma proposta de vida digna para todos.

Os Evangelhos transmitem fielmente aquilo que Jesus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a nossa salvação. São ensinamentos que a Igreja sustentou e continua sustentando. Hoje, os nossos Bispos são os responsáveis para dar continuidade à transmissão horizontal da Revelação, fazendo com que a mensagem de Cristo chegue até nós, atualizada pela ação do Espírito Santo, de acordo com a realidade de nossa época.

Aprendendo com Jesus

O evento Jesus, a pregação apostólica, as tradições orais e escritas da comunidade primitiva são etapas de formação que nos ajudam no caminhar da evangelização. O primeiro elo a se formar é constituído pela vida e missão de Jesus. Ele mesmo anuncia a Boa Nova do Reino. O segundo elo se constitui a partir da pregação dos Apóstolos. O Jesus que antes anunciava o Evangelho com palavras e gestos, torna-se, após a Ressurreição, o Evangelho pregado pelos seus discípulos. Depois, num terceiro elo, a formação dos Evangelhos passa a ser representada pelas comunidades cristãs das origens, que conservaram a lembrança da pregação oral dos Apóstolos. Um quarto elo de formação já se refere aos escritos dos Evangelhos, de forma sistemática e explicada para melhor ajudar os ouvintes e leitores de seus escritos.

Os Evangelhos são obras querigmáticas, preocupadas com o anuncio dos fundamentos da fé. Seus escritos fazem ecoar a mensagem de Jesus, adaptando-a à realidade vivida pelas comunidades cristãs.

Nós catequistas, juntamente com a comunidade, para anunciar a Palavra de Deus, precisamos de, primeiramente, nos alimentarmos dela para nos tornarmos capazes de ajudar as nossas crianças, jovens e adultos, na sua inclusão na comunidade onde vivem. Os mais novos crescem e resplandecem quando se sentem cuidados. A contribuição da catequista é fundamental para que o catequizando desenvolva sua relação de confiança em Deus.

Para que isso aconteça se faz necessária nossa atenção e cuidado para ajudá-los a se desenvolver em pelo menos quatro aspectos da fé:
• Crer em Deus, base da confiança;
• Relacionar-se contínua e pessoalmente com Deus, o que nos ajuda no nosso relacionamento de fé com as outras pessoas;
• Comprometer-se com Deus, compromisso tão confiável que nos ajuda no modo como gastamos o nosso tempo e nossa energia;
• Ter consciência do mistério que envolve Deus e impõe os limites de nossa compreensão e controle de Deus.
• Outros aspectos podem ser pensados, como a obediência e serviço em prol do Reino. Juntos, podemos caminhar e deixar fluir nossa vocação para responder ao chamado de Jesus e vivermos a experiência para a qual Ele nos escolheu: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi e designei para irdes produzir frutos e para que o vosso fruto permaneça…” (Jo 15,16).

A experiência da Páscoa de Jesus permitiu aos apóstolos e discípulos compreender plenamente a identidade mais profunda do seu Mestre, através da releitura que foi feita de sua experiência. Façamos nós também a releitura da revelação de Deus em nossa vida que nos ajuda a compreender a identidade mais profunda do Mestre Jesus.

Neuza Silveira de Souza. Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.



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