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A resposta ao chamado de Deus

 

Deus ao criar-nos, chamou-nos à comunhão com Ele. Eis a nossa primeira vocação, universal. Esse chamado tem duas dimensões. A dimensão profunda afeta-nos a própria existência, a inteligência, a vontade, a liberdade.  Lá na raiz de nosso ser latejam anseios, desejos, buscas de realidade maior que nós. Santo Agostinho formulou-o de maneira genial: “Inquieto , Senhor, está o nosso coração até que descanse em ti”.

A inquietude existencial, fundamental à procura de satisfação e nunca satisfeita, caracteriza o movimento de vocação de todos nós. Dela ninguém se ausenta. Deus, na infinita misericórdia, quis que todos a tivessem. Paulo expressou-a em termos de salvação e verdade:  “Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Salvar-se significa responder a esse chamado, a essa vocação divina inicial.

Cada um de nós historiciza tal chamado. Aí a vocação fundamental existencial se concretiza. Normalmente chamamos de vocação a tal nível. De novo, duas dimensões. Sem dúvida, cada um tem vocação diferente, ao viver a seu modo o chamado primeiro de Deus. Há tantas vocações, quantos seres humanos existem. Nenhuma se iguala a outra. Todas guardam singularidade e originalidade próprias.
 

Há tantas vocações, quantos seres humanos existem. Nenhuma se iguala a outra. Todas guardam singularidade e originalidade próprias.

No entanto, ao olhar para a vida real percebemos tipos semelhantes de vocação que revelam estrutura básica similar. Assim, na Igreja católica, distinguimos três modelos. A vocação leiga do cristão. Vive a fé do batismo na família, no trabalho, na comunidade, no dia a dia. Uns comprometem-se mais, outros menos, com a vida da Igreja. Assim temos catequistas, ministros extraordinários da Comunhão, membros das pastorais, até aqueles que assumem papel relevante na condução da própria comunidade. Nesta vocação, está o futuro da Igreja. O Papa Francisco motivou e incentivou os jovens a assumi-la com coragem, testemunhando sem medo a fé, no próprio ambiente de vida.

Há outros que descobriram maneira de dedicar a afetividade na entrega de si a Deus e aos outros na vida consagrada. Renunciaram a vida conjugal e atividades seculares para investir o tempo na dupla dimensão da contemplação e da ação apostólica. Não são mais nem menos que os leigos. Vivem certa solidão em vista de maior presença aos outros, alargando a afetividade.

A Igreja organizou-se em estruturas ministeriais. Reservou algumas delas para certas vocações especiais. Chamamos de clero. Na Igreja latina, eles também renunciam, como os religiosos, a vida matrimonial a fim de se envolverem com a pastoral e cuidado dos fieis.

No dia das vocações, relembramos todas elas. E que cada um se pergunte para onde o Senhor o move. Aquele chamado transcendente, existencial inicial e universal encontrará em cada um de nós a forma concreta de se realizar. O sinal de que encontramos a sintonia entre a forma concreta e o apelo primordial de Deus manifesta-nos através da paz, da tranquilidade e da alegria constante. E, neste sentido, o Papa Francisco deu-nos maravilhoso testemunho de tal alegria e felicidade, ao aproximar-se das pessoas como Pastor cuidadoso. Nele, a vocação para o ministério do pastoreio dos fiéis reluziu. Confirmou-nos em nossa própria vocação.

 

Pe. João Batista Libanio
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)



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