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A oração cristã, conforme a Liturgia do Domingo

Dois âmbitos da vida eclesial, a catequese e a liturgia são frequentemente postos em relação. A aproximação faz bem a ambos, pois o diálogo permite o mútuo enriquecimento e até mesmo a conversão. Verdade é que cada um desses “setores” são marcados por sua natureza específica e, no diálogo, é bom evitar qualquer sombra de confusão, embora isso às vezes seja inevitável no exercício de aproximação. Liturgia é Liturgia e Catequese é Catequese. Uma se destina a celebrar a fé, outra a instruir, mas ambas introduzem na vida em Cristo. Daí poder-se falar em dimensão catequética da Liturgia e dimensão litúrgica da catequese.

 

Na oração comunitária
dá-se a epifania da
Igrejapela escuta
comum da
palavra, pela prece comum dirigida
a Deus

Exemplo claro da dimensão catequética da Liturgia, foi o 29º Domingo do Tempo Comum, quando o mistério celebrado nos revelou, por meio do ensinamento do Senhor e das demais leituras, que a vida de oração é necessária à salvação, uma exigência da fé enquanto adesão ao Cristo, o orante do Pai. Contudo, a homilia foi uma ocasião de instruir a comunidade no preceito da oração, dando brechas para a dimensão catequética da liturgia. Dos textos bíblicos e eucológicos (oracionais) pôde-se deduzir alguns traços essenciais da oração cristã:

 

– A oração cristã não desiste nunca (Evangelho). Ela é insistente como a viúva que importuna o juiz desonesto;

 

– A oração cristã é exercício do sacerdócio de Cristo na Igreja e em cada cristão. Rezamos como Moisés (1ª leitura) intercedendo em favor do mundo, das urgências e das batalhas do dia a dia;

 

– A oração cristã é fundamentada na Palavra de Deus que, com sua sabedoria, conduz “à salvação pela fé em Jesus Cristo” (2ª leitura);

 

-A oração cristã é comunitária. Ainda que rezemos a sós, o fazemos na comunhão dos santos. Na oração comunitária dá-se a epifania da Igreja pela escuta comum da palavra, pela prece comum dirigida a Deus, pela recuperação do eixo comunional dos crentes que não mais rezam idependentes,  ao modo subjetivista, mas em profunda comunhão;

 

– A oração cristã é necessariamente intermediada por Cristo, nosso único sacerdote. Atestam-no os textos eucológicos (oracionais), enquanto tradicionais formulações da oração da Igreja, sempre concluídas pelas doxologias “por Cristo Senhor nosso”, “por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo” e “Por Cristo, com Cristo e em Cristo…”. Este elemento é decisivo e caracteriza a oração do Cristão.

 

A oração do cristão prolonga a oração
de Cristo. Em
outras palavras,
quando o
cristão assim
reza, é Cristo que

nele ora

No domingo seguinte, o mistério celebrado somou ainda outro traço aos já apresentados acima: a oração do cristão é humilde, depojando-se de toda a arrogância e prepotência que humilha os irmãos.

 

Se tais deduções da celebração dominical acima expostas se confirmam tematicamente, elas devem, por outro lado, reforçar o mistério celebrado: a oração do cristão prolonga a oração de Cristo. Em outras palavras, quando o cristão assim reza, é Cristo que nele ora. Além disso, a liturgia tem valor singular frente à catequese: ela realiza aquilo que ensina, pois é ela mesma, em última análise, oração do Cristo na Igreja.

 

 

Pe. Danilo César Lima

Liturgista



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