Muito bem! Já descobrimos que na Celebração Eucarística, também em outros sacramentos e sacramentais, no início da celebração se recomenda após a saudação que se dirija à assembleia breves palavras para ajudá-la a entrar no Mistério, exortando-a a bem celebrar. Diz Luiz Fernando Veríssimo que dar nome às coisas significa possuí-las. Em sentido positivo, nomear corretamente um elemento da celebração pode nos ajudar a conservar bem seu uso. Por isso, chamaremos tecnicamente este elemento no roteiro celebrativo de «monição». Não se trata de um comentário propriamente dito, por isso não aconselhamos este termo.
Do ponto de vista da performance ritual, ou seja, da ação simbólica de quem celebra, é preciso garantir que o «uso» da monição seja fiel à sua natureza. Mas não basta um bom «conteúdo» ou escolher bem as palavras e expressões. A maneira como a monição será pronunciada é fundamental para garantir que seja, de fato, uma exortação, ou seja, que as pessoas se apercebam exortadas e com isso, conduzidas à inteligência do Mistério celebrado e – o que é mais importante -estimuladas à participação por meio dos gestos e preces que ali terão lugar. Isso tem a ver exatamente com o fato de a «monição» não ser um «comentário» ou uma «explicação». Por ser de caráter exortativo, é um ato de linguagem, isto é, palavras que realizam algo no ouvinte. Não é um aviso ou o detalhamento de algo que deve ser feito, o que seria puramente de natureza informativa. Pela «monição» se quer formar algo no destinatário, que nos ritos iniciais da celebração eucarística é a assembleia.
A Instrução Geral do Missal Romano no número 38 nos adverte:
Nos textos que o sacerdote, o diácono, o leitor ou toda a assembleia devem proferir em voz alta e distinta, a voz corresponda ao gênero próprio do texto, conforme se trate de leitura, oração, exortação, aclamação ou canto; essa correspondência deve ocorrer também quanto à forma de celebração e à solenidade da assembleia. Além disso, leve-se em conta a índole das diversas línguas e dos povos.
Portanto, uma «monição» jamais será simplesmente lida, mas também não será proclamada e menos ainda declamada como um poema de Drumond. Embora na celebração não reproduzamos exatamente o modo informal de nos comunicar, é interessante verificar como fazemos “exortações” no nosso cotidiano. Esse, talvez, seja um bom exercício para encontrar o «tom» correto e aplicá-lo ao contexto celebrativo. Quem faz a monição no início da celebração, por exemplo, não deveria ficar com os olhos presos ao roteiro, mas envolver-se no diálogo com a assembleia, exprimindo na face aquilo o estímulo à participação. Pode ser quem ninguém lembre daquilo que foi dito, mas certamente, será impactado pelo modo com o qual foi feito.
Esses observações e cuidados parecem pouco significativos, mas na verdade fazem uma grande diferença quanto ao envolvimento da assembleia celebrante. É, portanto, um passo que nos qualifica na arte de celebrar.
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Pe. Márcio Pimentel
é presbítero, pároco da Paróquia São Dimas, teólogo liturgista,
membro do Secretariado Arquidiocesano de Liturgia
e membro da Celebra – Rede de Animação Litúrgica.