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A mística papal

              

Esse papa é das Arábias…No século passado pronunciariam nossos antepassados esta locução a respeito da aproximação do notável papa Francisco com as gentes de todas as partes do globo. Fascina esse pontífice os povos que alcança dada à sua determinação em aplacar a sede de fé que movem os peregrinos ao encontro com Sua Santidade. E ele responde ao chamamento, indo o mais perto do coração dos que o procuram, sem medo, despido, mesmo, da mística que encerrava a pessoa e a figura do papa, então recolhido à torre sacrossanta do Vaticano.

 

Quem decidiu transpor aquela torre para encontrar-se com a humanidade foi o viajante João Paulo II, que beijava o solo onde pisava. Se não tivesse lançado esse exemplo de pastoreio entre as nações, o papa atual estaria abrindo um novo ritual de conquista dos corações do planeta. E ele o faz com brandura, corajosamente, transpondo cordões e seguranças outras para abraçar as multidões, juntando pele, espírito e bênçãos.

 

Estas atitudes aplaudidas do papa Francisco, que provocam alegrias, emoções e lágrimas é que estão desfazendo a mística papal, que encerrava a pessoa do primeiro pastor no cerimonial da igreja romana, responsável pela tradição que o enclausurava em Roma ao invés de dividir sua inspiração, sua realeza, sua missão e sua humildade com toda a terra.

 

Esta proximidade que Francisco deseja  manter com as nações é não apenas estratégia de doutrinação, mas um gesto espontâneo e já provado de uma vida dedicada aos que mais precisam de sua palavra

É certo que, após aquele trágico incidente na Praça de São Pedro, em que um celerado atingiu o papa João Paulo II, moveu o Vaticano a que nossa maior autoridade eclesiástica não se expusesse tanto aos que o cercavam, e por isso estabeleceram uma muralha entre o Santo Padre e os povos. Daí, maior bravura mostra o papa ao resistir a tudo que o separe de seu amado povo, desprezando riscos que possam haver.

 

Esse diálogo e esta proximidade que Francisco deseja permanentemente manter com as nações é não apenas estratégia de doutrinação, mas um gesto espontâneo e já provado de uma vida dedicada aos que mais precisam de sua palavra, de seu ministério, de sua presença evangelizadora e doce, de seu carinho, de sua essência de homem e de seu dever de pastor. Francisco está desfazendo aquela mística que cercava a figura do papa, cujo séquito negava a expectativa de um longo e constante abraço que esperava e merecia seu rebando.

 

Melhor ilustração a propósito da distância entre o sumo pontífice e nós foi revelada, candidamente, pelo filho de 7 anos de Otto Lara Rezende, episódio contado pelo embaixador Afonso Arinos. Diante de Sua Santidade em Castel Gandolfo, a criança, tão estupefata ficou em conhecer o papa, e de tão perto, que exclamou ao pai: Uai, papai, o papa também é gente !?…

E que não paire no espírito das pessoas que o papa é algo que mais se aproxime de uma ficção, e sua evangelização não se perca nesta hora em que as palavras e os gestos são comunicados com velocidade e precisão. O Santo Padre está sacudindo com simpatia irradiante uma parcela ainda incrédula do mundo, fazendo de cada solo a sua pátria. 

   
José Maria Couto Moreira
Procurador do Estado
de Minas Gerais
 



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