A nossa conversa do encontro anterior foi sobre o significado da palavra “experiência”, o sair de si para, na alteridade com o outro, perceber o seu ser existencial.
A experiênciaa contece quando o sujeito se torna o próprio espaço onde têm lugar os acontecimentos, quando ele se deixa ser receptivo, disponível, aberto ao evento.
Essa receptividade ao outro ajuda na compreensão da experiência cristã que é a experiência da fé em Jesus Cristo.
E para crer em Jesus é necessário conhecê-lo e, para “conhecê-lo”, traduzir para a nossa linguagem, o amor e a presença de Deus
em Jesus Cristo, e o amor de Deus por nós.
O amor de Deus aos homens através de Seu Filho Jesus
O amor de Deus pelos homens é a única razão do envio de seu filho ao mundo. O envio que Deus faz de seu único filho é para que se manifeste o seu amor no meio de nós, em nossa história de vida. É a irrupção do Reino de Deus acontecendo com a nova criação renovada em Cristo. Um Reino como dom gratuito de Jesus Cristo que ao assumir a história humana, liberta o ser humano do pecado do mundo e promove a reconciliação com Deus. Essa plenitude de amor e vida acontece com a encarnação de Deus em Jesus, o homem pobre de Nazaré. Assim diz a Bíblia, no Evangelho de João: “E a Palavra se fez carne e pôs sua morada em nós”(Jo 1,14).
Pode-se dizer que este é o sentido da vida do cristão: a possibilidade de encontrar-se com o Filho de Deus que nos traz amor e a misericórdia do Pai Trabalhar para que aconteça o Reino de Deus aqui e agora deixando despontar o tempo da alegria |
O Verbo se fez carne. O Verbo é capaz de revelar Deus e conceder a vida eterna. É o Filho pré-existente que está no seio do Pai e torna-se humano. “Eu saí do Pai e vim ao mundo; ao passo que agora deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo 16,28). Assim, podemos aprender com a teologia de João que o envio exclusivo do Filho pelo Pai a um mundo que não conhece a vida eterna, veio trazer a salvação que se encontra, unicamente, na aceitação das Palavras da vida eterna (Jo 6,68). Jesus veio ao mundo em nome de Seu Pai Celestial e não em nome próprio, Foi Deus mesmo que o enviou. E, nesse sentido, a encarnação é interpretada como o amor de Deus pelo mundo, sendo Jesus o único portador absoluto da salvação.
A Palavra de Deus assumiu a carne humana para iluminar os homens no caminho do mundo, ajudando-os a viver o amor assim como ele o fez. Jesus vem ao encontro dos homens para comunicar-lhes as verdades do Reino. Ele prega, fala, ensina e testemunha aquilo que vive e sabe a respeito do Pai. Ele não se apresenta como um super-homem, mas um homem simples.
A realidade histórica do acontecimento Jesus vem enfatizar a sua objetividade. Trata-se de um evento que se deu em um tempo e em uma cultura específica da humanidade. Houve sua existência corporal no tempo e no espaço, lugar onde ele criou relações de alteridade com as outras pessoas e pôde viver e expressar todas as emoções, como: alegria, simpatia, tristezas, medo, dor e morte, cujas características são essencialmente humanas. Nele habita o Verbo Eterno (Jo 1,14).
No decorrer da vida de Jesus, percebe-se que ele havia sido profundamente solidário com os homens, principalmente com os pequenos, oprimidos e humilhados; no calvário, na cruz é expressa total solidariedade com todos os que sofrem. Com a ressurreição redime todos os homens que acolhem o Seu projeto.
Sua experiência humana tinha que revelar o Pai em todas as ocasiões de sua vida, porque revelando o mistério de sua interioridade, revelava o mistério de Deus. Esta deve ser também a nossa experiência de ser cristão: revelar a nossa interioridade, lugar onde habita Deus, para que os outros possam receber a revelação de Deus.
Pode-se dizer que este é o sentido da vida do cristão: a possibilidade de encontrar-se com o Filho de Deus que nos traz amor e a misericórdia do Pai. Trabalhar para que aconteça o Reino de Deus aqui e agora deixando despontar o tempo da alegria. Enquanto membros constituintes da Igreja: Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito, nós somos chamados a entrar pela porta da misericórdia e experimentar o amor de Deus. Adentrar-se para além da porta e ir ao encontro do irmão e com ele partilhar o amor de Deus. Na caminhada somos conduzidos pelo Espírito Santo que nos ajuda na realização da obra salvadora do Cristo.
Neuza Silveira de Souza
coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH