O resgate da dignidade da Pessoa Humana
Como a Constituição “Guadium Et Spes” pode contribuir para a nossa catequese? Quais são os elementos teológicos pastorais e eclesiológicos que o documento traz para uma reflexão da nossa catequese nos tempos atuais?
Primeiramente, ela nos chama a atenção para estamos atentos aos sinais dos tempos. E quais são esses sinais hoje? Todos os valores ditos profanos que emanam, de século em século, da consciência dos homens e da construção do mundo são reconhecidos como “sinais dos tempos”, na era messiânica definitivamente aberta. Esses acontecimentos, no enquadramento do espaço e na linha do tempo, são outros tantos degraus na realização da “economia da salvação”, toda ela incluída no acontecimento absoluto que é Jesus Cristo.
Observando os fatos do dia-a-dia que vão influenciando a vida dos nossos catequizandos, da nossa comunidade, da nossa família, precisamos identificar quais são as tendências do mundo atual que se convertem em provocações para a nossa catequese. Podemos partir de uma chamada de atenção que a Constituição Gaudium Et Spes nos provoca, com o seguinte questionamento: Como a sociedade valoriza o ser humano? Como anda a dignidade da pessoa?
A Constituição parte do ensinamento da Sagrada Escritura para nos falar do ser humano. E, quem realmente é ele? É o homem criado à imagem de Deus, capaz de conhecer e amar o seu criador e por Ele constituído senhor de todas as criaturas terrenas, para dominá-las e delas se servir, dando glória a Deus. Assim, o homem, por sua própria natureza, é um ser social que não pode viver nem desenvolver as suas qualidades sem entrar em relação com os outros. Embora criado para um fim feliz, o homem se encontra dividido em si mesmo, inclinado para o mal, mas Deus o chama a unir-se a Ele com todo o seu ser, na perpétua comunhão da incorruptível vida divina. Na sua vocação de se manter unido com Deus está a razão mais sublime da dignidade do homem. E a base da dignidade do ser humano é ser criado à imagem e semelhança de Deus e elevado a um fim sobrenatural, que transcende esta vida. Não é preciso ser crente para reconhecer essa distinção. Porém, a dignidade do homem e da Mulher adquire maior valor à luz da revelação. Desde o seu nascimento o ser humano é convidado ao diálogo com Deus (DS 19).
A Igreja, por sua vez, diante da realidade do mundo, ao perceber que o desenvolvimento econômico só ganha sentido se promover a dignidade das pessoas, assume como missão a defesa da dignidade da vocação de cada um. Assim, atua por meio de sua mensagem, que visa contribuir para o bem comum, difundindo luz, vida e liberdade. Resgatado, a partir dessa ação da Igreja no mundo, o ser humano passa a contribuir para a reta construção do mundo no qual vivem em comum com seus iguais.
E o bem estar da pessoa na sociedade, no trabalho, nas escolas, nas famílias?
Podemos afirmar que o bem-estar da sociedade, em especial, do cristão, está intimamente ligado a uma favorável situação da comunidade conjugal. A família se sustenta por um autêntico amor entre os esposos, testemunhado na fidelidade, harmonia e solicitude na educação dos Filhos.
A Família é uma escola de valorização humana; nos remete à importância da presença viva dos pais e constitui o fundamento da sociedade. É lugar de encontro das gerações e, por isso, os que têm influência, sobretudo a autoridade civil, devem reconhecer proteger e promover o bem-estar das famílias, garantindo-lhes adequada legislação e política públicas.
O ser humano, na visão da Igreja, é um ser pessoal e social, ao mesmo tempo. Nesse sentido, o fim da sociedade é a realização de todos os seus integrantes, em plena colaboração mútua. Se cada um é chamado a ser autor de seu desenvolvimento, atuando, também, na realização dos demais, no cento da economia e da sociedade não pode estar o interesse do capital, nem o prestígio político da nação, mas o bem-estar de cada cidadão, em sua dignidade.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana bíblico-catequética de BH