Tendo por base a obra “Ética no ministério pastoral” de Richard M. Gula podemos suscitar algumas reflexões que são bastante pertinentes, para os dias de hoje, no que diz respeito à conduta ética dos ministros ordenados. Dentre as várias questões abordadas na obra, desperta a atenção o fato de o autor explicitar algo que aparentemente é óbvio: que não há código de ética para ministros ordenados da Igreja Católica Romana. Contudo, creio que a maioria das pessoas nunca pensou sobre isso, simplesmente, porque consensualmente o mínimo que se espera de um ministro ordenado é que ele seja ético no agir, ou seja, que seja coerente no exercício de seu ministério.
Sendo assim, falar de código de responsabilidade para nós ministros ordenados seria, simplesmente, validar o que as pessoas já sabem e esperam internamente de nós. Ou seja, que tenhamos sempre o zelo para com nossos semelhantes, uma vez que pelo Batismo e pela Ordenação somos convidados a ser sal e luz em meio as contradições e injustiça deste mundo.
Vale ressaltar, que tal zelo, simplesmente, explicita uma lei interna presente em todo ser humano conforme se encontra relatado, por exemplo, no livro do Deuteronômio: “Com efeito, este mandamento que hoje te prescrevo não é difícil para ti nem está fora do teu alcance. Não está no céu, para que digas: ‘Quem poderá subir ao céu por nós para apanhá-lo? Quem no-lo fará ouvir para que o possamos cumprir?’ Não está do outro lado do mar, para que digas: ‘Quem atravessará o mar por nós para apanhá-lo? Quem no-lo fará ouvir para que o possamos cumprir?’ Ao contrário, esta palavra está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que possas cumprir. (Dt 30,11-14).
O exercício do nosso ministério pastoral necessita estar vinculado à Fonte que sacia e inunda a vida das pessoas, ou seja, carecemos manter os olhos fixos em Jesus |
Outro aspecto bastante interessante, tratado por Gula, foi a abordagem do ministério pastoral como sendo uma vocação e, também, algo análogo a uma profissão, pois, é indubitável que primeiramente o ministro ordenado é chamado por Deus para assumir sua missão, mas, ao aceitá-la ele deverá se capacitar, “tornar-se um profissional”, a fim de possuir ferramentas humanas que o auxiliem no seu serviço pastoral.
O autor, também, sublinha algumas virtudes que devem, essencialmente, fazer parte da prática de um ministro ordenado, a saber: a santidade, o amor, a confiabilidade, o altruísmo e a prudência. Dessas cinco virtudes destaco, apenas, três: a santidade, pois, um ministro que não busca viver uma vida de santidade dificilmente conseguirá exercer um ministério fecundo para si mesmo e para os outros; a confiabilidade, porque se um ministro não consegue transmitir confiança e credibilidade através de suas palavras e ações jamais conseguirá ser um referencial de apoio e fortaleza para aqueles que necessitam de um apoio espiritual e, por fim, o amor porque sem amar a Deus e a vocação que D’Ele recebeu o ministro se tornará um mero profissional do sagrado.
Sendo assim, para que o ministro consiga, gradativamente, assimilar e integrar ao seu ser essas e outras virtudes, faz-se necessário que ele esteja disposto a impor a si uma rigorosa disciplina, a fim de que ele não se traia ao trair aos outros e a Deus. Ser um ministro consagrado, portanto, jamais pode ser tratado como uma forma fácil e descomprometida de obter ascensão social.
Em suma, precisamos ter bem gravado em nosso coração que o exercício do nosso ministério pastoral necessita estar vinculado à Fonte que sacia e inunda a vida das pessoas, ou seja, carecemos manter os olhos fixos em Jesus (Hb 12,2). Só assim aprenderemos a valorizar e respeitar o outro na sua dignidade de imagem e semelhança ao Criador (Gn 2,27). Somente quando formos capazes de reconhecer a presença do Divino que habita em nós e nos outros é que tomaremos consciência de que ao servir aos outros, sobretudo, aos mais necessitados, estaremos servindo o próprio Deus.
Pe. Marcos Eurélio França Rocha
Administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora Aparecida
Bairro Mantiqueira