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A alegria de vivenciar o chamado de Deus

Que significa dedicar um dia de memória ao padre? Toda lembrança tem tríplice movimento: recorda o passado, afirma o presente e auspicia o futuro. Os interesses que movem a escolha desta data têm as mais variadas motivações.

Mas é certo que o Dia do Padre não cabe bem no mercado. O sentido vai noutra direção. Torna-se momento para pensar em profundidade o significado de tal vocação. Nunca se perde em recordá-lo para o próprio sacerdote como para os fieis que participam de seu ministério.

Impõe-se, logo de início, distinguir vocação de profissão, e alinhar o papel do padre no campo vocacional. A profissão valoriza sobretudo o reconhecimento social de um serviço para a sociedade. Pede especialmente eficiência na execução correta. Não vasculha o coração, mas simplesmente verifica a execução externa da ação.

Excelente profissional se mostra no cumprimento exato das obrigações que lhe cabem. Assim, por exemplo, o médico profissional cuida do doente com o máximo de competência a fim de curá-lo. Não se pergunta se ele o faz por dedicação pessoal, por desejo interior de ajudar, por moção interna de cuidado. Entra em questão a objetividade do tratamento. A vocação faria parte doutra dimensão. Nasce do coração.
 

O dia do padre quer recordar ao sacerdote que ele assumiu tal ministério por vocação, por obra da graça de Deus.

O padre profissional pensaria simplesmente em executar bem as tarefas que lhe são atribuídas, desde a administração da paróquia até a confecção correta dos sacramentos. O padre por vocação sente paixão e gosto pelo que ele faz. Encontra dentro de si, em última instância, moção do Espírito Santo que o move. Isso aparece claramente na maneira de gerenciar o tempo. O profissional cumpre horário. Terminado este, dedica a vida ao que lhe agrada. A vocação dispõe a pessoa para todo momento, respeitado naturalmente o mínimo de condições de vida humana. Não se rege pelo tempo do horário profissional.

O Dia do Padre quer recordar ao sacerdote que ele assumiu tal ministério por vocação, por obra da graça de Deus. A memória do chamado de Deus se faz importante. E apoiado nele, exerce com alegria e dedicação os trabalhos diários. O presente se alimenta do movimento inicial da vocação. E ela o mantém no futuro até as forças o permitirem. Em termos de brincadeira, costumo dizer que a vocação persiste enquanto os neurônios funcionam. Não há aposentadoria no sentido estrito do termo. Mas afastamento gradual à medida que as forças do corpo pedem para que o serviço sacerdotal seja bem conduzido.

A vocação tem outra característica importante. Implica tipo de relação diferente com as pessoas. Para o profissional, entra em questão, sobretudo, a objetividade do problema. A vocação olha a pessoa na totalidade tanto por parte do padre como do fiel. O cuidado predomina sobre o simples tratar do assunto. Entram em jogo escutar, atender à condição concreta do fiel e ajudá-lo a encontrar o caminho de vida e o sentido. Adentra-se em campo altamente pessoal.

A competência e eficiência ordenam-se ao fim principal do cuidado humano, espiritual, integral do fiel. O olhar se faz bem diferente porque visa à totalidade de seu bem. Dia do Padre: dia de pensar alguém cuja vocação consiste em servir os irmãos para ajudá-los no caminho da vida, da felicidade e do bem.

 

Pe. João Batista Libanio
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)



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