De acordo com o dicionário, inculturação é a influência recíproca entre o cristianismo e as culturas dos lugares onde a fé cristã é praticada. É também parte integrante do esforço missionário da Igreja, como indica o Catecismo da Igreja Católica. Para os bispos sinodais, é um caminho longo, que precisa de atenção e de ser muito discutido, por ser de extrema importância e necessidade em contextos de culturas tão diferentes, como a indígena.
Com esse discurso, participantes do Sínodo deram depoimentos hoje, dia 10 de outubro, sobre suas experiências no processo de inculturação em tribos da Amazônia. Um deles foi o bispo da Prelazia de Itaituba, no Pará, dom Wilmar Santin. Responsável por uma área de 175 mil quilômetros quadrados, quase o tamanho do estado do Paraná, dom Wilmar se orgulha em dizer que a maioria dos índios de sua região é católica.
O processo de evangelização dos indígenas em Itaituba começou em 1910, com a chegada de padres franciscanos no meio da floresta. No ano seguinte, vieram as irmãs da Imaculada Conceição. De lá para cá, foram muitos os desafios para a inculturação. Dom Wilmar explica que esse processo não significa absorver completamente a cultura indígena, e sim encontrar suas manifestações que são compatíveis com a fé católica, além de, ao mesmo tempo, fazer com que os índios tenham o rosto da Igreja.
“Nas nossas tribos, existe um rito de agradecimento quando há uma colheita em abundância. Eles fazem uma festa e compartilham a colheita com outras comunidades. Hoje também entregam essa abundância no altar e cantam em agradecimento. Esse é um exemplo de sintonia entre a cultura e a religião. Já outros costumes, incompatíveis com a fé, são combatidos. Havia antigamente a tradição de matar crianças deficientes logo após o parto. Hoje nas nossas tribos isso mudou, nós temos crianças deficientes”, explicou dom Wilmar.
Agora, o desafio do bispo de Itaituba é realizar um sonho do Papa Francisco: ver em cada aldeia um sacerdote indígena. Dom Wilmar afirma que já está dando os primeiros passos para concretizá-lo. Em 2017, teve início nas tribos a formação para ministros da palavra. Na primeira turma, 20 homens e quatro mulheres se tornaram ministros e começaram a participar das celebrações na própria língua, além de fazerem pregações da palavra de Deus. Este ano, mais 24 ministros foram formados. “Vendo essa nova realidade, lembro-me da passagem bíblica do Dia de Pentecostes, pois os índios estão ouvindo na sua própria língua as maravilhas de Deus”, alegra-se dom Wilmar.
Os próximos passos do bispo são formar ministros do batismo, depois ministros do matrimônio e assim, pouco a pouco, chegar à ordenação de diáconos. “Os índios fazem questão de batizar as crianças na primeira visita de um padre depois do parto. Também fazem questão do casamento na Igreja. Alguns nem se casam no civil, mas na Igreja sim. Pela carência de padres, é importante formá-los para ministrar esses sacramentos”, explica dom Wilmar.