O 1º Fórum sobre Ecologia Integral e Ações da Arquidiocese de Belo Horizonte, realizado na manhã do sábado, dia 8 de maio, na modalidade virtual, reuniu representantes das instituições da Arquidiocese de Belo Horizonte para partilhas sobre as ações socioambientais desenvolvidas nas comunidades dos 28 municípios que integram a Arquidiocese, incluindo a Capital, em suas muitas instâncias. O objetivo é a integração cada vez maior de iniciativas que possibilitem o surgimento de novas propostas de promoção da ecologia integral.
A realização do evento resulta da criação do Setor Ambiental no Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental da Arquidiocese (Veaspam). As iniciativas desse Setor, que foram partilhadas no Fórum, contemplam também as dimensões social e política.
Os participantes dedicaram especial atenção a temas relacionados à preservação da Serra da Piedade, sublinhando os prejuízos que a mineração predatória representa para todo o ecossistema. Também foram temas de reflexões a Economia de Francisco e Clara, proposta pelo Papa Francisco, as ações da Arquidiocese na busca por um novo humanismo e as iniciativas do arcebispo dom Walmor relacionadas à criação de instâncias e organismos a serviço da preservação do meio ambiente, da promoção da justiça e dos direitos humanos.
O encontro dedicou importantes reflexões às diretrizes do Papa Francisco sobre o testemunho cristão na defesa da Casa Comum, com destaque para as suas três últimas encíclicas – Fratelli tutti, Laudato si’ e Lumen Fidei.
“Não se pode enfrentar adequadamente a degradação ambiental, sem prestar atenção nas causas que têm a ver com a degradação humana e social” (Dom Walmor)
O arcebispo de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidiu um momento de oração na abertura do Forum, convidando os participantes a rezarem o Salmo 136, unindo os corações ao coração do Criador. “Fomos criados à imagem e semelhança de Deus e temos uma grande tarefa, pois Deus culmina a obra da criação dando a nós, homens e mulheres, uma grande responsabilidade”.
O Arcebispo destacou que não se pode enfrentar adequadamente a degradação ambiental sem prestar atenção nas causas que têm a ver com a degradação humana e social. “Estamos aqui porque é preciso buscar soluções integrais, que considerem a integração dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. O Papa nos diz que não existem duas mesas separadas: uma ambiental e outra social. Ainda pode-se dizer que as crises ambiental e social também são frutos da crise política. Estamos aqui nessa perspectiva”.
“Para se levar adiante a economia de Francisco, a construção de um novo humanismo, é preciso mexer no processo da educação” ( Dom Joaquim Mol)
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação Cultura da CNBB, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e reitor da PUC Minas, dom Joaquim Mol, ressaltou a importância da presença de dom Walmor no evento “sobretudo pelo testemunho de vida pessoal, de seus compromissos, sempre a partir da fé, com a mudança, com a transformação. Ficamos muito entusiasmados com a presença de cada setor do Veaspam, também de cada setor fora do Veaspam, na sociedade, em todos os lugares, na PUC Minas”. Dom Mol destacou a liderança que está sendo exercida por dom Vicente, no âmbito da ecologia integral.
O reitor da PUC Minas lembrou ainda as publicações organizadas pela Universidade em várias áreas do conhecimento, para discutir a questão da mineração – mesmo antes do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que causou a morte de 272 pessoas, ainda no tempo do rompimento da barragem com rejeitos de mineração em Mariana, no distrito de Bento Rodrigues. “Ali já tínhamos, no corpo docente e discente, muitas pessoas organizadas em grupos tratando da questão da ecologia integral”.
O Bispo enumerou as muitas ações da Universidade na direção da Economia de Francisco e Clara e de um novo humanismo – propostas do Papa Francisco – a exemplo da presença do tema da Ecologia Integral nas disciplinas “Cultura Religiosa” e “Iniciação Filosófica”, lecionadas em todos os cursos da PUC Minas, sem exceção. Citou ainda a organização de um grupo de trabalho sobre a Economia de Francisco e Clara – uma comissão que está atuando junto com a articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara e um projeto em fase de conclusão que já roteirizou oito publicações sobre a Economia de Francisco e Clara. Dom Mol explicou que cada publicação tem entre 80 e 100 páginas, com dinâmicas de discussão de aprofundamento. Segundo o Bispo, a PUC Minas reúne uma quantidade grande de vídeos mostrando a Economia de Francisco e Clara acontecendo em diversas regiões do país. “São vários pequenos vídeos para irem povoando as redes sociais de reflexões importantes sobre toda a temática da Economia de Francisco e Clara, e da Ecologia Integral”.
O Reitor da PUC Minas chamou a atenção para a necessidade de priorizar a educação em todo esse processo: “Para se levar adiante a Economia de Francisco, a construção de um novo humanismo, é preciso mexer no processo da educação – não só da educação formal, mas da educação informal. Não adianta trabalharmos, hoje, somente com os adultos. Precisamos trabalhar esse processo no início” – afirmou.
“Quando se fala da Economia de Francisco e Clara, o Papa diz que alguma coisa não vai bem no modo de administrarmos este Planeta” ( Dom Vicente Ferreira)
Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e membro da Comissão Episcopal Especial para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB, explicou que o 1º Fórum sobre Ecologia Integral e Ações teve por objetivo a interação entre aqueles que trabalham a temática da ecologia integral na Arquidiocese. O Bispo ressaltou a preocupação do Papa Francisco com o tema: “Quando se fala da Economia de Francisco e Clara, o Papa diz que alguma coisa não vai bem no modo de administrarmos este Planeta, e isso está claro para nós. Não vai bem em diversos setores, não só pela crise que vivemos em razão da pandemia, mas por muitas coisas que vêm se mostrando bem antes. Um sistema capitalista neoliberal muito destrutivo com vários cenários de morte. É uma economia que mata, que deixa milhares de irmãos e irmãs sem o que comer – o que a gente tem percebido ainda mais agora – e, consequentemente, um extrativismo que devasta, que não protege o meio ambiente”.
Dom Vicente constatou: “Nós temos uma crise socioambiental instalada, como já foi citado na Ludato Si. A partir daí, a convocatória do Papa nesse caminho de conversa com os jovens na perspectiva de uma nova economia” – disse o Bispo relembrando o encontro dos jovens de todo o mundo com o Papa Francisco sobre a Economia de Francisco e Clara, e a importância de se saber como essas novas gerações sonham sobre o cuidado com a Casa Comum e uma nova forma de viver no planeta.
Tudo isso, segundo o Bispo, “é uma maneira de reagir a um sistema que está completamente defasado, a Fratelli Tutti faz essa constatação. Ou a gente cria um novo sistema, ou a nossa sobrevivência estará comprometida”.