O Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte participa da 16ª Primavera de Museus, evento nacional organizado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e que reúne trabalhos de todo Brasil. De 19 a 25 de setembro, o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte apresenta ações e atividades educativas inspiradas pelo tema “Independências e museus: outros 200, outras histórias”.
Em três textos, historiadores do Memorial da Arquidiocese de BH apresentam a série “Pílulas da Memória”, sobre o processo de Independência do Brasil.
“Pílulas da Memória”
Independência e Memória[1]
Para adentrarmos no processo de independência brasileira se faz necessário compreender, em primeira instância, o conceito de memória.
A memória[2] pode ser compreendida como um mecanismo para a reconstrução do passado e fundamental para a construção da identidade individual e coletiva. É uma ferramenta dinâmica, que nos permite uma reflexão acerca de fatos históricos, auxiliando nossa compreensão sobre o passado, presente e futuro e, portanto, é um elemento essencial para a compreensão da nossa trajetória social.
No que se refere à coletividade, podemos conceituar que a memória fomenta a construção de identidades de grupos e lugares, mas que também pode servir como um elemento de manipulação, uma vez que esta é capaz de ser ajustada, dependendo da interpretação dos grupos sociais. Consequentemente, podemos afirmar que o conceito de memória é amplo e carrega consigo a narrativa histórica das tradições, culturas e lugares.
Em relação ao tema da 16ª Primavera dos Museus, temos a narrativa da fatídica data de 07 de setembro de 1822, quando às margens do Rio Ipiranga, Dom Pedro bradou o “grito de independência”. Há duzentos anos o Brasil ganhava em sua história um novo marco, emancipando-se dos domínios de Portugal. Sabe-se que após o processo emancipatório as desigualdades no âmbito social e econômico se mantiveram quase que intactas da forma em que eram conhecidas e vivenciadas nos tempos da colônia. No entanto, a Independência também fomentou o início da construção de uma nação, provocando no povo a necessidade de uma identidade nacional, que para além das diferenças, fosse capaz de fomentar a união.
Neste ano, somos convidados a celebrar o bicentenário da Independência do Brasil, relembrando essa história que é salvaguardada em museus e centros de memória, que nos possibilitam conhecer aquele passado e construir novos olhares sobre a história do nosso país. Portanto é através da memória que podemos estabelecer as relações com o passado, possibilitando a recordação de fatos imprescindíveis para as trajetórias históricas e rememorar estas narrativas nos permite compreender e reconstruir a história brasileira, pois pensar na história da Independência do Brasil é pensar em suas rupturas e permanências.
A Igreja Católica foi parte integrante da história colonial e da construção do Brasil independente. Na expressão de Camões, no Canto I dos Lusíadas, fala que os reis portugueses “foram dilatando a Fé, o Império”. Efetivamente, Portugal trouxe a fé católica e implantou a Igreja nas terras que conquistou. Essa Igreja foi importante na educação, no processo de construção da identidade nacional. E na construção política também: vários clérigos, como o Pe. Rolim e o Pe. Toledo, constaram entre os Inconfidentes, para ficar só em Minas Gerais.
Referências
LYRA, Maria de Louders Viana. Memória e Independência: Marcos e Representações. Anais Simpósios. Rio de Janeiro.173-206.Disponível em: file:///C:/Users/1099339/Downloads/mariadelourdes.pdf. Acesso em: 14 set. 2022.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. História Do Brasil Nação:1808-2010: crise colonial e independência 1808-1830. São Paulo: Objetiva, 2011.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário De Conceitos Históricos. São Paulo: Contexto, 2009.
IBRAM. 16ª Semana de Museus: Texto de Referência. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/museus/pt-br/assuntos/eventos/16a-primavera-dos-museus/16-primavera-texto-de-referencia-v2.pdf Acesso em: 16 set. 2022.
[1]Escrito por Louise Aimée de Souza, estagiária no Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte/ Vicariato Episcopal para a Ação Missionária na Arte, Cultura e Bens Culturais, sob supervisão do Pe. Marcelo Ferreira do Carmo, coordenador do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra/ Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte.
[2]Segundo Jacques Le Goff, a memória é a propriedade de conservar certas informações, propriedade que se refere a um conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas. Antônio Montenegro, considera que apesar de haver uma distinção entre memória e História, essas são inseparáveis, pois se a História é uma construção que resgata o passado do ponto de vista social, é também um processo que encontra paralelos em cada indivíduo por meio da memória. (SILVA, 2009, p. 275).