Dando prosseguimento a série de três textos publicada pelo Memorial da Arquidiocese de BH, dentro da programação da 16ª Primavera de Museus, essa segunda publicação traz uma reflexão sobre a relevância dos centros de memória no processo da Independência do Brasil.
O Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte participa da 16ª Primavera de Museus, evento nacional organizado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e que reúne trabalhos de todo país. De 19 a 25 de setembro, o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte apresenta ações e atividades educativas inspiradas pelo tema “Independências e museus: outros 200, outras histórias”.
Para ler o primeiro e interessante texto da série, clique aqui.
“Pílulas da Memória” – Parte 2
Centros de memória e o oficio do historiador[1]
A relação existente entre a memória e a preservação fomenta o que chamamos de “lugares de memória” (NORA, 1993). E entendendo que estes lugares, majoritariamente, sejam direcionados ao colecionismo, dá-se uma compreensão temporal que se inicia muito antes da instituição do que, hoje, entendemos como museus, abordando desde a construção dos gabinetes de curiosidades aos atuais centros de memória.
Sobre os “centros de memória”, temos que seu surgimento se dá na década de 70, com o intuito, a princípio, de recuperar e organizar a memória institucional, partindo de centros de documentação (LAURETTI, 2011). Contudo, sabemos que estes espaços não servem apenas para organizar e sistematizar as memórias institucionais, uma vez que atuando na preservação, conservação, exposição e pesquisa de seus acervos, assumem posições educativas e sociais, o que os tornam elementos vivos dentro da dinâmica cultural das cidades (STUDART, 2004). E é aqui que se faz necessária a atuação do historiador, que corrobora na ressignificação da materialidade desses espaços – apontando também a importância da preservação da cultura imaterial como retrato da sociabilidade. (CURY, 2004).
Essa ressignificação acontece principalmente com o desenvolvimento da 3ª Geração da Escola dos Annales, movimento responsável por romper com a forma de se fazer história que a historiografia tradicional utilizava, deixando se atentar-se apenas aos grandes feitos e grandes nomes e trazendo novas metodologias, fontes e novas perspectivas.
Por fim, reafirmo que os centros de memória têm importância fundamental na formação da identidade social de um país, na preservação, conservação, divulgação dos bens materiais e imateriais dos grupos sociais e das instituições. E como último exemplo o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, que além de possuir um vasto acervo documental e museológico, conta também com bens culturais de natureza imaterial.
A Arquidiocese de Belo Horizonte vem participando ativamente deste processo, por meio do Memorial da Arquidiocese. E isso não apenas pela guarda do patrimônio já construído, como nossas igrejas, nosso acervo preservado no Arquivo e no Museu: também por ações socioeducativas e culturais ao longo dos anos de sua existência. Como referência, pode ser citado especialmente o Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis (Pampulha): patrimônio artístico arquitetônico e foco permanente de ação cultural e educativa.
REFERÊNCIAS
CURY, Marília Xavier. Os usos que o público faz do museu: a (re)significação da cultura material e do museu. Revista Brasileira de Museus e Museologia – 2004, n° 1, p.89 – 106.
LAURETTI, Carolina Filardo. Centros de memória e arquivos históricos: semelhanças e diferenças. São Paulo, 2011. Trabalho de Conclusão de Curso – Departamento de Biblioteconomia e Documentação Escola de Comunicações e Artes.
STUDART, Denise Coelho. Educação em museus: Processo ou produto? . Revista Brasileira de Museus e Museologia – 2004, n° 1, p. 35-40.
[1] Escrito por Rafael Diogo Braga, estagiário no Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte/ Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, sob supervisão do Pe. Marcelo Ferreira do Carmo, coordenador do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra/ Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte.