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O segredo para a felicidade

A morte dos pais, quando a pequena Maria Andrade tinha apenas 9 anos, separando uma família que ainda reunia oito irmãos, poderia ser o marco inicial de uma vida marcada por profundo trauma. Mas, ao invés disso, era o começo de uma trajetória repleta de alegria, a partir do serviço às crianças, à luz da fé: a vida da Irmã Maria Salomé – nome adotado pela pequena órfã, ao se consagrar religiosa, já na juventude. Perto de completar 100 anos, no dia 22 de agosto, ela já vivenciou muitas crises, de diferentes etapas da história do país, e venceu enfermidades, tudo com inabalável serenidade. Grande educadora, a religiosa conquistou a admiração de muitos, inclusive do arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, que, carinhosamente, a chama de “professora Irmã Sabiolé”, por sua singular sabedoria. O segredo para conquistar a admiração das pessoas e viver com alegria é compartilhado pela religiosa: “Ouvir a vontade de Deus”.

Ir. Salomé guarda na memória a imagem das irmãs que fundaram a sua comunidade, em Caeté, nas proximidades do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade: a Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade. “Eram todas muito bondosas”, lembra-se, fazendo referência especial às Madres Carmelita e Ângela, e às Irmãs Josefina e Angélica.  Foram essas fundadoras da Congregação que a acolheram no Asilo São Luís, em 1929, quando ela tinha apenas nove anos. “As Irmãs foram minhas mães. Carinhosas, muito boas. Cuidavam das crianças, ensinavam, orientavam e aconselhavam”, rememora Ir. Salomé, acrescentando que quis ser consagrada desde a infância, mas as religiosas a orientaram a estudar, pois lhe faltava maturidade: “Depois que concluí meus estudos, já jovem, pedi novamente para fazer parte da Congregação. Fui admitida em 1943, aos 22 anos”.

Ela diz que o trabalho das Irmãs Auxiliares Nossa Senhora da Piedade no cuidado com as crianças, idosos e com o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade é especialmente bonito. “Trabalhei até não conseguir mais, por dificuldades impostas pela idade. Quando não estava em sala de aula com os alunos, cuidava das crianças. As Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade trabalham muito para o bem do povo, em especial pelo povo da cidade de Caeté.” Do berço da Congregação, em Caeté, Ir. Salomé se recorda da beleza das matas que cercam o antigo Asilo São Luís, hoje Recanto Monsenhor Domingos, e das grandes peregrinações ao Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade. “Lá do alto, é especialmente bonito ver o amanhecer e a luz do luar. Na época em que eu me dedicava às atividades missionárias, dormi muitas vezes no Santuário”, diz.

Sobre a “mata bonita” que emoldura o ponto de origem da Congregação, Irmã Salomé conta que sempre recebeu cuidados das religiosas. “Na minha época, Irmã Joaquina, que foi superiora no Asilo por muitos anos, cuidava da mata, percorria cada lugar para ver como estava. Era uma santa irmã”. Irmã Salomé também se lembra, com carinho, de Irmã Lídia: “Por muitos anos, ela ajudou Irmã Joaquina. Era muito trabalhadora e zelosa.” As religiosas Joaquina e Lídia, conforme acrescenta a Madre Superiora da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, Teresa Cristina Leite, também muito contribuíram para o acolhimento e a educação de crianças pobres em Caeté. “Foram muito presentes na vida do povo, a serviço das famílias”, diz a Madre Superiora, que também faz questão de homenagear Ir. Salomé: “É educadora exemplar, repleta de sabedoria”.

Os elogios não abalam a humildade de Ir. Salomé, que prefere destacar as virtudes de monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro. O sacerdote, um dos guardiões do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, no século 19, passou a acolher filhas de escravos, libertas pela Lei do Ventre Livre. O educandário criado por monsenhor Domingos, mais tarde, deu origem à Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, em 1892. “Sinto-me filha dele, por fazer parte da Congregação. É meu pai duas vezes, como órfã e como freira”, diz, com alegria, lembrando que já se encontra no Vaticano o processo de beatificação de monsenhor Domingos.

No coração, ela também guarda viva a imagem de outra religiosa que pode ganhar a glória dos altares: Irmã Benigna. “Era muito boa, uma santa. Ela sempre estava pronta a ajudar. Eu me encontrava sempre com ela no Colégio Nossa Senhora da Piedade. Se precisássemos de algo, ela dizia: ‘É só falar comigo’”. Irmã Salomé diz sentir especial alegria quando ouve relatos de quem alcançou graças após pedir a intercessão de Ir. Benigna – “Ela ajudava muito enquanto estava viva, continua a ajudar ainda hoje” – e assim orienta quem se sentir chamado à vida consagrada: “Seguir as luzes do Divino Espírito Santo e ficar firme. Pedir a força e a graça da ajuda de Deus, porque sem Deus nada podemos.”

Essa sintonia com Deus é, conforme explica a religiosa quase centenária, o caminho para uma vida feliz. Ainda hoje, ela acorda cedo e, às 6h30, faz as primeiras orações do dia. “Antes, começávamos às 5h”. Com a comunidade, Irmã Salomé ainda reza às 15h. Neste tempo de pandemia, faz questão de acompanhar as Missas transmitidas pela TV Horizonte e também se dedica às orações individuais.  “Peço a Deus para eu fazer a vontade dele, sempre, e que nos dê força.” A religiosa ensina que as tribulações da vida são oportunidades para alcançar mais santidade. “Devemos aceitar as dificuldades, pois muitas são da vontade de Deus. A vida é muito boa, maravilhosa. Quando fazemos as vontades de Deus, ficamos satisfeitos com a vida, a vida fica mais calma, mais sã”, orienta a religiosa, sempre com um sorriso sereno no rosto, que confere ainda mais autenticidade à lição compartilhada. “E para seguir a vontade de Deus, o caminho é escutar o próprio coração”, conclui Ir. Salomé, unindo as mãos em sinal de preces.



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