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[Artigo] Natal, acolhida da Vida de Deus em nós-Padre Mateus Lopes, estudante de Teologia Dogmática na Universidade Gregoriana-Roma

Celebramos a cada final de ano, a festa do Natal, o Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, para nós cristãos, homens e mulheres de fé, este acontecimento não se reduz a mera comemoração do nascimento de alguém que veio do céu para fazer o bem. Para aqueles que têm fé, o Natal não consiste nas ceias fartas, na troca de presentes, nem mesmo no alívio de nossas consciências diante das faltas cometidas durante ano com a distribuição de cestas básicas e agasalhos aos mais necessitados. Nem mesmo em cerimônias religiosas vazias, onde muitas vezes sem entender o que de fato celebramos, chegamos ao ponto de cantar parabéns pra Jesus, comemorar parabéns pra Jesus, nos abraçar nesta noite feliz em que amor acendeu sua luz…

É verdade que a noite é feliz e que nela Deus, trouxe ao mundo sua Luz e, é por isso que celebramos o Natal do Senhor, porque nele celebramos o Mistério da Encarnação, o mistério de Deus que através do Nascimento de Seu Filho se fez homem, para resgatar da morte e do pecado todo e cada ser humano. Por isso, na Vigília de Natal, nos é proclamado o Evangelho de São João que diz: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. Era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano (Jo 1, 4-5.9).

Nos é proclamado este evangelho, para nos recordar que diante das “luzes de natal” que muitas vezes ofuscam nossos olhos e coração, seduzindo-nos pelo ter, pelo poder, somente uma luz nos é necessária, a luz daquele que venceu a cruz e a morte, por isso, podemos dizer que “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz (Mt 4,16)”, que nunca mais se apagará porque vive em nosso meio e nos conduz no caminho da Vida. E neste sentido nos compromete como pessoas de fé a sermos aqueles e aquelas que anunciam com a própria vida este mistério, o mistério de Deus que de tanto amor desce dos céus, se faz homem, para que os homens possam se tornar divinos, possam viver da sua Vida divina.

Deste modo, o presépio que montamos em cada igreja, em cada casa é um testemunho silencioso, mas grandemente eloquente que emana a Luz do Crucificado-Ressuscitado, pois não teria sentido celebrar o Natal sem termos a consciência de que antecipadamente celebrar a Páscoa, a passagem da morte para vida. O menino que nos foi dado, nasceu para nos libertar das trevas da morte e do pecado, nasceu para nos dar Vida Nova em plenitude e esta Vida nos é dada no seu Mistério Pascal, ou seja, em seu Nascimento, Paixão, Morte e Ressurreição.

Por isso, na iconografia cristã seja no Oriente como no Ocidente, a gruta escura em que se coloca o Menino Jesus, recém-nascido envolto em faixas mortuárias, nos aponta que Ele é aquele que, vencedor da morte, desceu até o império das trevas para nos resgatar com o poder de sua Luz e nos comunicar a sua Vida divina.

Portanto, é essa Vida Nova que dele recebemos que nos impulsiona a sermos no mundo sinais de sua presença, doadores de Vida, porque sabemos que em sua Encarnação, neste grande mistério de amor, Deus em seu Filho, se uniu de forma singular a todos e cada um de nós seres humanos.

E então, se vivemos nele, com Ele e para Ele, agora nossos gestos, posturas e atitudes não serão outras senão as dele. Deus não exigem de nós perfeição, Ele sabe da nossa condição de pecadores, que somos homens e mulheres frágeis, limitados. A única coisa que Ele nos pede é a mesma acolhida dos pobres pastores de Belém, que ao escutarem o anúncio dos anjos foram ao encontro do recém-nascido e acolheram a sua Vida divina como dom vindo do céu.

A Vida de Deus nos é dada gratuitamente, ela não nos vem de fora para dentro, através de nossos esforços e sacrifícios, a Vida de Deus nos vem de dentro para fora, porque Ele habita dentro de nós. A nós cabe somente acolhê-la e nada mais. Acolhendo-a, ela cresce dentro de nós e nos impulsiona a viver verdadeiramente de amor, amor que é relação que passa por cada um dos irmãos e irmãs, sobretudo, os mais pobres e necessitados. É essa Vida que nos impulsiona àquela caridade ativa, que não se limita uma festa ao ano, mas é atenta porque só quem ama tem olhos penetrantes, capaz de ver o outro em sua necessidade. Todo gesto fora disso, não é caridade, mas assistencialismo exterior, não é capaz de comunicar a Vida de Deus.

O Natal do Senhor, seu nascimento nos recorda que o nosso caminho para Deus não se encontra na verticalidade das nossas orações, mas se instaura na horizontalidade de nossas relações, nos encontros e desencontros com nossos irmãos e irmãs. Que nosso Natal nos ajude a vivermos como homens e mulheres do encontro, homens e mulheres de vida cristã encarnada, para que possamos mesmo diante das dificuldades e escuridões da vida, testemunhar ao mundo que vivemos e caminhamos na Luz daquele que é o Ressuscitado.

 

 

 

 

 

Padre Mateus Lopes
Estudante de Teologia Dogmática na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma

Pensa que quando a Mãe deu à luz, o rosto de todo o universo sorriu e a terra, alegre, aplaudiu o Senhor. Imagine que o céu dissipou as nuvens e se revestiu de beleza e os astros que diziam: Ei-lo, fizeram resplendecer para ele com a alegria a sua luz. Pensa que a noite infundiu sua luz nas trevas e que invés da escuridão, deu-nos o esplendor. Aquela noite nos deu a luz antes mesmo que o sol surgisse. Uma Luz que pelo seu infinito esplendor eclipsava a luminosidade do sol. Desta noite, se diz mediante o salmista: “A noite será a minha luz nas minhas delícias (Sl 138,11)”, e diante do Senhor ainda disse: “As trevas não serão trevas para ti, a noite será luminosa como o dia e, assim como as suas trevas, será também a sua luz ” (Amadeu de Lausanne, Homilias Marianas IV, 220-230).



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