“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38)Maria, na “Anunciação do Senhor”, coloca-se como serva. Serva de Deus, dando seu sim ao projeto de salvação de Deus, ao ser visitada pelo anjo mensageiro do Senhor.
Ao se colocar como serva do Senhor, a Virgem se põe de prontidão à vontade de Deus de ela ser a mãe de seu filho (“Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho” – Lc 1,30-32).
Seu despojamento é tão grandioso e total que, como filha de Deus, torna-se a esposa do Espírito Santo e a mãe de Deus Filho, participando ativamente no projeto de salvação da humanidade. Isso ocorre uma vez que Maria, transformada por Deus pela graça, não faz nada contrário à vontade do Senhor.
Além de estar “cheia de graça” ao ser saudada pelo arcanjo Gabriel (“Salve, agraciada: o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres” – Lc 1,28), ela recebe uma superabundante graça quando o Espírito Santo a cobre com sua sombra (“Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; […] o santo que de ti há de nascer será chamado Filho de Deus” – Lc 1,35), concebendo o fruto de seu ventre: Jesus, o Fruto da Vida, o Pão da Vida (“Eu sou o pão da vida” – Jo 6,48).
Ao saber que sua prima Isabel está grávida, por amor a Deus e cheia do Espírito Santo, ela apressadamente vai a seu encontro (“Maria foi apressada às montanhas […] entrou na casa de Zacarias e saldou a Isabel” – Lc 1,39), colocandose a serviço de sua prima. Mais tarde, nas Bodas de Caná, intercede pelo povo presente na cerimônia (“Eles não têm mais vinho” – Jo 2,3). Assim é sua vida missionária, servindo a Deus e a seu povo, e participando intimamente da missão de seu filho, desde o nascimento até a sua morte e ressurreição.
Além de missionária, exerce a tríplice missão de um diácono: a caridade, a Palavra e a liturgia. Caridade
A caridade é o fruto de sua fé. Seu coração é tomado pela Palavra de Deus. Com o coração puro, cheio de amor, e vazia de si mesma, mas cheia de Deus e de seu amor, além de se colocar a serviço de Isabel e dos presentes na cerimônia das Bodas de Caná, em sua comunidade, oferece seu filho Jesus, o fruto da vida, como pão a seus fiéis:
“Meus filhos (diz Ela pela boca da Sabedoria), enchei-vos dos meus frutos” (Ecl 24,26), isto é, de Jesus, o fruto de vida. “Vinde (repete-lhes), comei o meu Pão (que é Jesus) e bebei o vinho de seu amor, que para vós preparei com o leite do meu peito” (cf. Pr 9,5; Ct 5,1).1
Palavra
Como discípula de Jesus, eleva suas orações e súplicas aos céus junto aos apóstolos reunidos no Cenáculo (“Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus” – At 1,13-14), a cada dia, vencendo seus temores, proclamando e vivendo o Evangelho, dando origem à primeira comunidade cristã, com o nascimento da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Liturgia
Faz parte da liturgia com sua vida de discípula missionária, uma vez que, como a “cheia de graça”, é a primeira entre os discípulos e discípulas a seguir Jesus até o fim, na Paixão, fazendo parte intimamente do sacrifício pascal de seu filho, além de oferecer à humanidade o Pão da Vida que ela formou em seu seio.
Assim, Maria exerce a tríplice missão de um diácono, conforme os capítulos II e III do Documento nº 8 (Diretório pastoral para os ministérios ordenados da Arquidiocese de Belo Horizonte). Este nos ensina, também, que o agir de um diácono deve ser “um fecundo serviço à comunidade eclesial”. O que faz muito bem Maria à comunidade cristã que se reúne no Cenáculo, no início da Igreja, após a morte de Jesus. Ela, em oração e pregando o Evangelho, dá esperança do cumprimento das palavras de Jesus, sem, no entanto, ter a ordenação para suas ações junto à Igreja.
A ordenação não é necessária para ela. Sua missão junto a Deus e ao povo de Deus surge naturalmente, não pela “graça sacramental”, como ocorre com os demais diáconos, mas pela “graça divina”, quando Deus a escolhe para ser a mãe de seu filho.
Maria, além de ser a mãe de Deus, cheia de graça, é também um dom dado por Deus à Igreja. Ela é uma verdadeira “discípula” de Jesus, com qualidades e virtudes como pessoa de boa reputação (digna de ser escolhida por Deus), repleta do Espírito Santo e de sabedoria, conforme os critérios estabelecidos para tal (At 6,2s), além dos atributos apresentados nas instruções dos apóstolos,2 como pessoa de fé, dócil, desprendida, veraz, firme e digna do Senhor.
Maria tem, com certeza, todos os atributos necessários de um diácono, conforme descritos na primeira carta de São Paulo a Timóteo. Era digna de respeito: “Quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis…” (1Tm 3,8a), ou seja, de caráter impoluto, de vida irrepreensível, de conduta ilibada. É íntegra, verdadeira: “de uma só palavra” (1Tm 3,8b), “não inclinados a muito vinho” (1Tm 3,8c), mas “cheio do Espírito Santo e sabedoria” (At 6,3). Sem ganância: “não cobiçosos de sórdida ganância” (1Tm 3,8d), mas humilde, coerente na fé e na vida: “Conservando o mistério da fé com consciência limpa” (1Tm 3,9). Com comportamentos irrepreensíveis, por mais que seja testada em sua fé: “Também sejam experimentados e se mostrem irrepreensíveis” (1Tm 3,10).
Seu objetivo é servir a Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
Ela é a serva de Deus e da humanidade e dá testemunho disso, cumprindo as vontades de Deus desde o nascimento até a morte e ressurreição de seu Filho, participando ativamente da vida de Deus e de sua comunidade, tornando-se, dessa forma, a mãe de toda a humanidade (“Quando Jesus viu sua mãe ali e, perto dela, o discípulo a quem Ele amava, disse à sua mãe: ‘Aí está o seu filho’, e ao discípulo: ‘Aí está a sua mãe’” – Jo 19,25-27) e uma diaconisa por excelência.
“O maior dentre vós deve ser aquele que serve” (Mt 23,11)
Valéria Conceição Chiaretti Ferro
Coordenadora da Diaconia Forânea Santo Antônio da Pampulha- RESNC
Arquidiocese de Belo Horizonte