Santuário Arquidiocesano

Santuário Nossa Senhora da Conceição dos Pobres

07h

10h
18h
07h
19h
19h
- 1a Sexta-feira
18h
Todo mês - Todo dia 08 do mÊs

07h - Dias da semana e Domingo

10h - Sómente aos domingos

15h - Dias da semana (sábado não temos as 15h)

18h - Sábado e domingo a missa da noite é as 18h

19h - Dias da semana

Comunidade Sobradinho

Domingo
08h30

Comunidade Santa Edwiges

Domingo
17h

Comunidade Santa Teresinha

Quinta-feira
19h

Comunidade Vila Senhor dos Passos

Sábado
18h

Uma pessoa vale mais

Unsplash

Duzentos anos atrás, uma francesa, fundadora da Congregação das Irmãs do Bom Pastor, Santa Maria Eufrásia Pelletier, gritou misticamente: “Uma pessoa vale mais que o mundo”. Ela gritou, especialmente, em defesa da mulher, naquela época, pouco valorizada e reconhecida. Esse gesto precisa ecoar no coração da sociedade pós-moderna para o enfrentamento de tudo aquilo que empurra para o alto, de modo assustador, as estatísticas dos milhares de seres humanos que desistem de viver. É uma situação alarmante. A cada 40 segundos uma pessoa, no mundo, se suicida. Esses números, algumas vezes omitidos em respeito à dor daqueles que vivem o luto, ou por falta de coragem de se dedicar a um complexo problema e, ainda, quem sabe, pela indiferença gélida que compassa as dinâmicas da atualidade, comprovam a urgência de entendimentos e de reações que impulsionem a recuperação daquilo que, após perdido, faz a vida também perder o seu sentido.

É oportuno e necessário pensar o alcance e o significado da afirmação: “Uma pessoa vale mais que o mundo”. O tesouro do mundo é cada pessoa. O mundo só tem sentido pelo valor inestimável de cada pessoa. Não se pode escolher valorizar um ou outro indivíduo, lógica perversa de discriminações e de segregações mortais, em razão da ganância e da idolatria patológica do dinheiro. A humanidade precisa, para além da tecnologia e do mesquinho sonho de sempre possuir mais, a todo custo, sem limites, compreender que uma pessoa vale mais que o mundo. Esse, incontestavelmente, é o ponto de partida para um novo humanismo. Assim, a campanha Setembro Amarelo põe no horizonte de toda a sociedade, no portal da casa de cada família e nas fachadas das instituições esta máxima: “Uma pessoa vale mais que o mundo”. A partir desse entendimento, práticas solidárias poderão corrigir descompassos que anulam a vida de maneira irreversível, subjugando-a. E a vida, quando subjugada, gera avassalador vazio existencial que animaliza e desfigura a humanidade, consequência de uma abominável antropofagia. Multidões desistem de viver, ou vivem pela metade. Perdem o gosto de praticar a solidariedade, enjaulando indivíduos em dinâmicas perversas, distantes da beleza do dom da vida.

O suicídio é uma realidade terrível na sociedade contemporânea e revela a imponência velada da morte – temê-la acirra o apego mesquinho a bens e riquezas, o que leva a depredações e violências de todo tipo, impactando pessoas em situação fragilizada. Sem forças, antecipam, no desespero, o final de suas vidas. O suicídio é sintoma de uma sociedade que desrespeita, e até mesmo anula, a dignidade a que todos têm direito, desvirtuando a vivência da verdadeira liberdade humana. Paradoxalmente, é sinal de profunda solidão, no tempo das sinapses das redes sociais e das comunicações. Merece, pois, redobrada atenção e adequado tratamento os condicionalismos sociais provocadores de suicídio – que incluem o histórico familiar e as enfermidades. Urgentes são a abordagem e a identificação, com o auxílio dos recursos técnicos e existenciais-relacionais, para enfrentar essa calamitosa situação, muitas vezes camuflada.

O número de suicídios é tão impressionante e atinge tantas e diferentes faixas etárias que parece inverossímil.  Mas é certo que essas mortes causam um buraco doloroso na vida de famílias, déficits enormes para a sociedade. Obviamente, o primeiro passo para superar essa cruel realidade é ter coragem para não deixar que o suicídio seja tratado como tabu, além de estar sempre atento aos sinais dados pelas pessoas ao redor. É preciso enfrentá-lo antes que ele bata à porta, que se instale no coração de alguém próximo ou na sua própria vida. Não se pode dispensar o tratamento adequado, ainda um desafio para a saúde pública, e precisa-se da espiritualidade com força para produzir o sentido de vida. Essa união pode favorecer a reorganização das sinapses cerebrais, responsáveis por funcionamentos que reúnem neurotransmissores decisivos no reconhecimento do sentido existencial, possibilitando a percepção da vida como dom que se revela na alegria de amar e ser solidário.

A fé cristã tem indicações preciosas ao promover o encontro de cada pessoa com Jesus Cristo.  Assim, possibilita a reorientação permanente na perspectiva do amor que dá sentido ao viver, mesmo diante de dificuldades e das labutas mais desafiadoras, até mesmo quando se chega ao limite do martírio. O alarme do suicídio põe no horizonte as urgências de um novo modo de se pensar a vida. O ponto de partida desse exercício, com força profética e impulso transformador, é o princípio para corrigir modos de viver e conviver: “Uma pessoa vale mais que o mundo”.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

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