Um dia houve alguém que fez caminho. Um dia houve alguém que se fez ao caminho de tal forma que se tornou ele mesmo o caminho. Tornou-se estrada de acesso para todos. Fez o caminho das nossas vidas atravessando cantos e recantos. Passou pelas suas e nossas escuridões. Sentiu todas as indecisões e mesmo assim, por momento algum, decidiu desistir.
Um dia houve alguém que fez caminho. Por entre trilhos da vida foi desenhando a sua própria vida. De duna em duna foi atravessando os desertos da vida humana e dando assim mais vida a todas as vidas que se cruzavam consigo. Foi criando vias de amor eterno até ao seu destino. E em cada passo que dava deixava gravada uma cruz para que ninguém perdesse o seu rasto. Tinha assim criado o mapa da vida alimentado por um amor sem medida. Criava assim, pela primeira vez, o senhor dos passos tão bem dados. Tão bem sincronizados. Tão bem…purificados.
Um dia houve alguém que fez caminho. E diante do silêncio do seu percurso foi sentindo e escutando o grito do seu Pai. Foi entendendo que a misericórdia de seu Pai era algo tão profundo e tão humano que só se poderia equiparar a uma Mãe. E deixou-se então embalar nos seus braços para que diante das dificuldades arranjasse novo ânimo para o que faltava.
Um dia houve alguém que fez caminho. Abriu ruas sem saída e ofereceu-nos a passagem para a vida. Deu-nos uma avenida da liberdade deixando-nos, mesmo assim, com a hipótese de optarmos por recalcarmos ou não os seus passos. Abriu, abriu e abriu e nunca, em vez alguma, insistiu para que fosse tudo à sua forma, mas deixou o convite de peregrinarmos com a nossa vida pelos caminhos da sua própria vida.
Um dia houve alguém que fez caminho e no final da sua caminhada reparou que tinha deixado marcada a cruz do amor em toda a humanidade…
Emanuel António Dias
Publicado em iMissio