Talvez seja o que sentes neste momento da história humana em que temos de nos precaver e ser prudentes em sair de casa, e estar com os outros. Viver uma vida normal quando o “normal” é diferente, gera alguma tensão.
Talvez o Cardeal Van Thuan nos possa ajudar. Diz ele —
«Se te sentes tenso, descansa por um tempo: serás mais efectivo se recuperares a tua força. Aceitar que existem limites à tua força é um sinal de coragem e saberes como cuidar da tua saúde um sinal de sabedoria.» (Cardeal Van Thuan)
Descansar para nos libertarmos das tensões que vivemos é uma necessidade nos tempos em que vivemos. Mas como é isso possível no meio de tantas solicitações?
O consumo de conteúdos digitais está muito associado à frase — ”vou relaxar um pouco…” — mas, se o tempo de ecrã em tele-trabalho já consome grande parte da nossa atenção, será que mais tempo ainda relaxa?
Talvez seja este o momento de experimentar uma coisa diferente.
Os que nasceram antes de 1990, ano em que surgiu a world wide web, têm uma noção do mundo antes da era digital. Mais desafiante será ter essa noção para quem nasceu depois. Se hoje é difícil imaginar o que se fazia num mundo sem net, acreditem que não estávamos parados. Havia também momentos de tensão, mas eram diferentes.
Desde 1950 que a palavra “descansar” era cada vez menos escrita em livros, mas, curiosamente, começou a aumentar a partir de 1995, cinco anos depois do nascimento da www. O mesmo pude sondar em relação às palavras “felicidade”, “solitude”, fazendo-me lembrar um episódio contado por um grande amigo quando fez algum tempo de missão em África. Queria saber por que razão as tribos cantavam tanto sobre a chuva: era o que mais lhes fazia falta. Parece-me razoável fazer um paralelo com o que mais se escreve e lê.
Descansar para nos libertarmos da tensão talvez passe por recuperar, ou redescobrir, o que se fazia antes da era digital. Não tanto no sentido nostálgico, mas antes no sentido da descoberta da coragem e sabedoria contida em formas de descansar que desocupam o espaço interior. Espaço esse que se abre à possibilidade de profundidade. Seja com uma atividade manual, leitura, escrita, conversa, passeio, pintura, música, oração. Alguns exemplos do que se fazia e faz que nos transformam ainda e abrem novos horizontes, libertando-nos da tensão. Basta retirar o ecrã para descobrir quantos outros.
Miguel Oliveira Panão | iMissio