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RELAÇÃO DA PSICANÁLISE COM O TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

“Cada sociedade tende a produzir suas próprias ‘patologias’. No caso das sociedades modernas, a combinação entre o desenvolvimento dos processos de destilação do álcool, a manufatura de drogas sintéticas cada vez mais potentes e um meio social altamente competitivo e incentivador de desejos ilimitados produz um cenário ideal para a proliferação das dependências químicas”, afirma o doutor em Sociologia Leonardo Mota.

O olhar psicanalítico voltado para a toxicomania advém de anos de estudo e avanços. As substâncias tóxicas e alucinógenas estão presentes na nossa humanidade desde os primórdios, historicamente falando. Há indícios antigos de que os aborígenes do Timor tentavam ter a sensação de embriaguez mascando nozes de bétele. Entre outras revelações históricas, essas substâncias foram sendo modificadas ao decorrer das épocas. Sabemos, portanto, que, desde o século passado, esse uso tomou proporções exorbitantes e de níveis considerados de perigo para a sociedade e a sua organização. Devido a isso, houve a necessidade da criação de leis e outros programas para reforçar o combate dos seus usos ilícitos.

Estudiosos no campo psicanalítico postulam a toxicomania como o anúncio de uma relação formada entre o sujeito e o objeto, algo determinado impossível de ser rompido. Nessa relação, as configurações normais mudam, onde é reformulada para com um objeto principal associando-o a droga. Portanto, quando questionado sobre a drogadição, é sumariamente necessário que seja feito uma reflexão sobre o processo percorrido para a formação do eu.

A psicanálise tem por objetivo identificar pontos específicos que marquem uma configuração no sujeito, a fim de compreender os possíveis encadeamentos e a origem de tal dependência. Considera-se a drogadição uma doença psicossocial que envolve inúmeros fatores particulares, sociais e familiares. A sociedade tem a capacidade de induzir o indivíduo a consumir drogas quando reforça, em alguns casos, a sua inutilidade quanto ser vivo, ser humano. Cada sociedade tem a sua parcela de produção de disfunções que, em decorrência da modernidade e uma combinação de avanços de processos e descobertas de catálogos diferentes de substâncias mais potentes, uma sociedade que determina, cada vez mais, a insuficiência dos limites em suas diversas ramificações é o quadro ideal para o aumento de dependentes químicos. Entendemos, portanto, que os ambientes externos e sociais se articulam diretamente com o nosso campo psíquico, onde exerce influência real sobre nós e os nossos desejos – atos.

Com relação à dependência química, a disfunção existente é concebida em decorrência da prolongação na relação com o objeto, ou seja, quando o contato com a substância ocorre por tempo estirado e de forma exclusiva. Sendo assim, a função do objeto em questão é negar a ausência de algo, o qual não queremos ter associação e renegá-lo como não existente. Ao passar do tempo, essa relação com o objeto alcança espaço amplo e importante na vida do dependente, marcando assim a sua sujeição. Geralmente, essa dependência é justificada pela busca incessante de algo para preencher nosso próprio vazio, as nossas deficiências e incapacidade, e se confunde, muitas vezes, com o nosso desejo de esquecê-los.

Não há, portanto, um tratamento ideal para a dependência química, o que existe são procedimentos que tem mais eficácia com estes pacientes, de acordo com cada individualidade que os mesmos possuem. Com a dificuldade de interesse no tratamento por parte do dependente, é essencial que os seus familiares e pessoas próximas tenham de prontidão a possibilidade do mesmo, para assim, garantir que o ocorra a partir do surgimento de motivação do paciente. O processo é longo e abrange todas as fases e acontecimentos da vida do indivíduo, a fim de compreender quais fatores o levaram a recorrer a essas substâncias e descobrir a busca que o mesmo realizava com o uso (1).

A Teoria Pulsional de Freud no Estudo da Toxicomania

A droga na toxicomania entra como um produtor de obtenção de prazer e um “amortecedor” do desprazer. Com isso, a droga se torna sua única fonte de prazer e o sujeito passa a ter uma relação de exclusividade com a mesma passando a abandonar suas atividades da vida diária.

Na toxicomania ocorre uma fixação dessa obtenção de prazer imediato, sendo inatingível por outros meios. Assim, esse aspecto se remete ao processo primário, sendo aquele que segue o princípio do prazer, no qual o desejo deverá ser satisfeito a qualquer custo, pois essa é a única finalidade da pulsão, a satisfação, provocando a diminuição da tensão. O princípio de realidade é então adiado e desviado, pois a energia libidinal da pulsão que ser satisfeita.

Fala-se não somente do princípio do prazer, em que o sujeito busca a satisfação perdida, mas também de algo que volta-se para a destrutividade quando o sujeito para o seu uso. Segundo Pereira (2013),

“(…) Já pensei várias vezes em me matar, e isso acontece bem depois que o efeito da droga passa (…) A gente se pega pensando em usar a droga de novo. Aí entra aquele ciclo novamente, uso a droga; fico mal; uso a droga para passar a depressão; depois fico mal quando acaba o efeito da droga em mim. Dá vontade de morrer. Parece que não tem mais jeito mesmo.” (98-99).

A partir do que foi exposto, pode-se refletir diante da questão, por que o sujeito busca obter prazer através de um objeto externo que não lhe trás mais satisfação, e sim sintomas tidos como desagradáveis? O  criador da Psicanálise Dr. Sigmund Freud, em seu artigo “Recordar, repetir e elaborar” publicado em 1914, irá mencionar pela primeira vez a compulsão a repetição. Diante disso, a repetição irá substituir o impulso a recordar, sendo assim quanto maior a resistência, maior a atuação e menor a recordação. Então, o que o sujeito repete ou atua? No caso da toxicomania o sujeito toxicômano irá, através da repetição, tentar retomar a satisfação de seu primeiro uso.

“Para que a elaboração ocorra, o sujeito precisa superar as suas resistências. O trabalho do analista em comum com o analisando é saber o impulso reprimido que esta por trás desta atuação. Pode-se concluir que a respeito da toxicomania há diversos estudos relevantes a serem aprofundados.

Acredita-se que haja dois conceitos que merecem ser destacados neste trabalho: a compulsão a repetição e a atuação excessiva. Podemos perceber o estado mais primitivo da pulsão ao repetir-se sem que se tenha um objetivo. Assim, a repetição se torna o seu meio de atuar diante daquele excesso pulsional. Assim, esse excesso pulsional não passa pelo processo de elaboração. Podemos falar de uma clínica do agir, onde o sujeito repete para não recordar”, escreve Nayara Liberato Romais, graduada em Psicologia pela Faculdade Brasileira Multivix – Vitória, possui experiência nas áreas Escolar, Social, Clínica e Saúde Mental e exerce a prática clínica psicanalítica em consultório não havendo um público específico a ser atendido, pois pela via da psicanálise trabalhamos com pacientes em sofrimento (2).

São motivos a serem considerados na dependência química: a genética, alimentos danosos, o fator geográfico, armadilhas montadas pela elite capitalista, ignorância sobre as drogas, falta de mecanismos de defesas e carência afetiva. A falta de procura de especialistas no assunto faz esse mal crescer.

Padre Inácio José do Vale
Psicanalista Clínico
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de História do Cristianismo

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